GIFE lança novo Censo e traça panorama do investimento social privado no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 11/12/2015

O GIFE acaba de lançar a sétima edição do seu Censo, uma pesquisa que coleta a cada dois anos as principais informações sobre investimento social privado no Brasil. Essa edição dá continuidade a uma série histórica que começou em 2001, permitindo fortalecer a compreensão do setor, retratar a relevância da atuação dos associados GIFE e servir como orientação para a tomada de decisões por parte das organizações. Para acessar o Censo GIFE 2014, clique aqui.

O evento de lançamento foi realizado no dia 10 de dezembro, no Instituto Paulo Montenegro, em São Paulo, e contou com mais de 110 participantes no debate.

Beatriz Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Governança do GIFE, abriu o encontro destacando a importância da pesquisa, pois trata-se de um produto consolidado, com dados consistentes e de qualidade, o que favorece o conhecimento sobre o setor e incentiva a cultura de transparência no campo. “Conhecer e perceber a estratégia de atuação entre pares é muito importante para uma reflexão sobre o investimento social privado”, comentou.

A presidente do Conselho destacou ainda os diferenciais desta edição, como o aprofundamento de várias questões. Neste ano, além de levantar as informações descritivas da atuação dos associados, o Censo traz questões de natureza estratégica, a partir de sugestões trazidas pelos associados em encontros prévios realizados no ano passado e que hoje pautam as áreas prioritárias de atuação do GIFE.

Foram incluídas perguntas mais reflexivas que buscam conhecer a percepção dos associados sobre os temas abordados, o posicionamento atual das organizações e explorar tendências do setor para os próximos anos com relação a grandes assuntos, tais como: a parceria com outras organizações da sociedade civil; o alinhamento com as políticas públicas; a interface com as demandas do negócio de suas mantenedoras; as oportunidades de coinvestimento em parceria com instituições do campo; o apoio a negócios sociais, bem como a mobilização de outros segmentos sociais por meio de ações de voluntariado; e da promoção de doações de pessoa física.

Na abertura do encontro Hérica Aires, coordenadora de Sustentabilidade do Santander – um dos apoiadores do Censo – ressaltou também o papel estratégico da pesquisa em ajudar as fundações, institutos e empresas associadas na tomada das melhores decisões, a fim de que sejam coerentes e garantam investimentos de qualidade. “O Censo tem um grande potencial para ser instrumento de planejamento e apontar as tendências  para futuras ações dos investidores sociais privados”, completou Christina Fontainha, assessora da superintendência do Instituto Unibanco – também apoiador do Censo.

O Censo deste ano foi elaborado em conjunto com o Instituto Paulo Montenegro e estruturado em sete blocos temáticos: I. Dados gerais da organização; II. Governança e gestão; III. Recursos financeiros; IV. Estratégias de atuação; V. Áreas de atuação; VI. Monitoramento e avaliação; e VII. Comunicação. Há também questões específicas para cada tipo de perfil: empresas, fundações empresariais, familiares, comunitárias ou independentes. No total, foram elaborados e aplicados cinco diferentes tipos de questionários.

Os associados da Rede GIFE e investimentos

O Censo contou com a participação de 113 respondentes (90% dos associados), sendo um recorde de participação. Percebe-se uma tendência histórica de crescimento da base associativa (em 1995 eram 25 e, neste ano, 125) e alta variação do número e perfil dos respondentes.

A amostra desta edição está mais distribuída entre os diversos tipos de investidores: 53% institutos empresariais; 18% empresas; 17% institutos e fundações familliares; e 12% independentes e comunitários. Houve um crescimento de mais de 100% no número de institutos e fundações familiares ao longo dos anos: em 2008 eram 7% dos associados, agora são 17%.

Em sua maioria (51%) são constituídas juridicamente como associações sem fins lucrativos, 31% fundações privadas e 18% empresas. É possível perceber que as fundações são mais antigas, pois possuem em média 32 anos de existência, enquanto a média das associações é de 13 anos.

Em 2014, o volume total investido alcançou a ordem de R$ 3 bilhões, um volume comparado ao do Ministério da Cultura, que é de R$3,27 bilhões. Houve um crescimento da mediana: em 2011 foi de R$4,8 milhões e, em 2014, R$ 6,1 milhões, sendo um crescimento de 27,85%.

Como origem dos recursos para o investimento social, predominam as fontes próprias (47%) e doações de empresas mantenedoras (22%). Além disso, 40% dos associados usaram algum tipo de incentivo fiscal na composição do orçamento, sendo que o total de recursos incentivados foi na ordem de R$510 milhoes (17% do investimento social). As principais leis utilizadas foram Lei Rouanet (31%), Lei de Incentivo ao Esporte (18%) e Fundo da Infancia e Adolescência (17%).

As decisões sobre o orçamento estão mais concentradas na alta gestão das mantenedoras e tem aumentado também o papel dos conselhos de administração como instância de decisão. “É interessante observar que quanto mais centralizada a decisão está nos altos escalões, mais ela se torna estratégica. Mas, pode haver certa volatividade destes processos, pois se muda a alta gestão, pode ocorrer mudanças nos rumos do investimento social”, comentou Iara Rolnik, gerente de Conhecimento do GIFE.

Segundo o Censo, 97% dos institutos e fundações contam com conselho formalmente constituído e isso vem aumentando ao longo dos anos. Pela primeira vez, foi feito um recorte em relação ao gênero dos participantes dos conselhos. O Censo apontou que 73% são homens e 27% são mulheres, sendo que o percentual de mulheres diminui a medida que a faixa de investimento da organização aumenta. Segundo Iara, o panorama se torna animador quando comparado com o universo empresarial, em que apenas 8% do total de conselheiros efetivos dos conselhos de administração das empresas são mulheres (IBGC, 2011).

Ainda em relação à tomada de decisão, foi possível perceber que apenas os stakeholders mais próximos à organização – como acionistas, conselheiros e colaboradores da mantenedora – participam de instâncias efetivas para direcionar as ações. Já os stakeholders externos, quando envolvidos, estão presentes apenas em instâncias consultivas ou informais.

“Vimos que as empresas até fazem pesquisas ou outras ações junto aos beneficiarios, por exemplo, mas há poucas instâncias estruturadas de diálogo com a sociedade”, comentou Eduardo Szazi, da Szazi Bechara Storto Advogados e autor de um artigo na publicação do Censo.

Parcerias estabelecidas

A gerente de Conhecimento do GIFE destacou a tendência observada em relação às parcerias cada vez mais fortes na área de investimento social privado. Segundo o Censo, 67% dos respondentes desenvolvem pelo menos alguma atividade em parceria com outros investidores sociais, sendo que há uma diversidade nas maneiras de fazer coinvestimento para além do aporte de recursos financeiros, como aporte de know-how, metodologias e recursos humanos.

“Percebe-se a importância política e estratégica das parcerias para além do volume em si dos recursos, que é baixo frente ao todo, já que o valor médio aportado é de R$1,1 milhões”, destacou Iara.

Outro aspecto relevante e que foi apronfundado nesta edição diz respeito à relação dos investidores com as políticas públicas. Há um claro esforço dos investidores sociais em aproximar suas iniciativas às políticas públicas: 89% das organizações afirmam ter iniciativas neste sentido.

Esse alinhamento é apontado de diversas formas, mas há uma redução gradual dos percentuais de alinhamento à medida que as conexões vão se tornando mais tangíveis: 64% dos programas têm como beneficiários segmentos da população atendidos por políticas públicas; 58% dos programas procuram influenciar/apoiar a construção de políticas públicas; 44% dos programas são concebidos em parceria com a gestão pública; 35% dos programas são reconhecidos como tecnologias sociais por órgãos governamentais; e 23% dos programas desenvolvidos pelo associado são adotados por governos.

Alinhamento ao negócio

O debate sobre o alinhamento do investimento social privado ao negócio das empresas é uma tema que tem despontado nas principais conversas do campo e, como não poderia deixar de ser, também foi incorporado nas questões do Censo. A pesquisa contemplou esse tema por vários ângulos: como o gestor leva em conta as atividades da empresa no processo de decisão do investimento social; como o investidor vê a sua atuação refletiva nas próprias ações da empresa; e os riscos e oportunidades em relação ao alinhamento.

Entre os vários aspectos observados neste item, um que se destacou foi a o fato de que os investidores têm a percepção de que influenciam as práticas das empresas (60%) mais do que são influenciados por elas. E isso ocorre, principalmente, em questões mais ligadas à cultura das empresas do que diretamente relacionadas ao negócio como, por exemplo, no sentido da incorporação ou aprofundamento das práticas de sustentabilidade; ampliação dos impactos socioambientais positivos; princípios e valores da empresa; e melhoria do diálogo e relacionamento com a comunidade.

“Ou seja, são mais de 80% em aspectos de princípios e valores. Só que, quando a gente olha para questões relacionadas à parte mais produtiva, como, por exemplo, mudar processos produtivos ou relações com fornecedores, é bem pequena. Ou seja, esses valores não estão conseguindo se traduzir e se desdobrar em ações”, comentou o consultor Rafael Oliva, que também é autor de um artigo na publicação do Censo.

Segundo o especialista, o Censo mostrou que há um quadro bastante heterogêneo, inclusive, em relação ao quanto os investidores sociais levam em consideração aspectos centrais da empresa, e também muitas incertezas e inseguranças sobre os riscos e oportunidades deste alinhamento. “Há uma expectativa valorizada dos benefícios e apenas 12% admitem que têm riscos.  Ou seja, há um otimismo ao que pode vir”, destacou.

Áreas de atuação dos investidores

De acordo com a pesquisa, os investidores adotam estratégias híbridas (doadores e executores) de atuação (45%). Entre os 37% predominantemente executores, executam 50% do total de investimento e, dos 18% predominantemente doadores, executam 7% do total de investimento

As doações representam 25% do valor do investimento em 2014 e foi possível perceber que o maior potencial de doação está entre as empresas.

Sobre o processo de decisão para aportar os recursos, apenas uma minoria (1%) aponta como razão para apoiar o fato de a organização defender causas que outros atores não estão dispostos a defender.

A maior parte deles (75%) apoiam quando as organizações são capazes de implementar programas nos contextos / territórios / causas prioritárias dos associados e 72% quando são organizações que têm legitimidade para atuar nos temas de interesse dos associados.

“É possível perceber que o volume total na forma de doação a terceiros é estável ao longo dos anos e é signifiticativo, mas é preciso ver o tipo de organização e do repasse  que está sendo feito.  Ainda não há elementos que fundamentam de que o campo do ISE tem o papel de fortalecer as organizações, pois está dedicado a fortalecer agendas.  Não há uma percepção clara se há um ganho adicional nas agendas com essa relação com a sociedade civil. É preciso entender se elas são mais um meio – como prestadoras de serviço, por exemplo -, ou um fim em si mesmo, no qual prevaleceria o valor de democracia de termos organizações institucionalmente fortes”, comentou Andre Degenszajn, secretário-geral do GIFE.

Área de atuação

A Educação, mais uma vez, despontou no Censo GIFE como a área prioritária para investimento: 85% dos investidores atuam neste campo. São, no total, 137 programas com foco em Educação, sendo operados por 77 respondentes. Nestas iniciativas, as redes públicas e as escolas são os principais parceiros e, em seguida, as organizações sociais com ações no contraturno escolar. O público prioritário é a faixa etária do Ensino Fundamental, com crescente investimento em Educação Infantil.

“Um dos campos mais monitorados e avaliados é o de Educação, inclusive, com estratégias de avaliação de impacto. Há uma proporção maior de programas com modelos mais estruturados e rigorosos”, comentou Ana Lúcia Lima, diretora do Instituto Paulo Montegreno, destacando que, segundo as respostas dos investidores, não há indicações de inovações sendo pensadas para os próximos anos. “Apesar do privilégio do setor em inovar, a maioria apontou que pretende continuar a desenvolver os mesmos programas. Temos o desafio de buscar caminhos mais próximos do nosso segmento nesta atuação”, ressaltou.

Apesar desta predominância em Educação, outras areas têm crescido de forma expressiva também, como Esporte e Recreação (de 36% no último Censo para 47%) e Saúde (33% para 43%). Um dos motivos para esse crescimento pode ser, inclusive, a criação de leis de incentivo específicas para estes dois campos.

Sobre a localização destas iniciativas, há uma concentração de atuação no Sudeste, mas há também importante proporção de organizações com programas que atingem todo o país sem distinção (47%).

Comunicação e monitoramento

Os investidores sociais foram questionados no Censo sobre a forma como comunicam sobre a organização e suas ações. Percebeu-se que, quanto mais estratégicas as informações, menos são divulgadas em sites e veículos de acesso público. Assim, informações como áreas de atuação são disponibilizadas por 95% dos investidores, mas o estatuto, por exemplo, apenas por 19%. As empresas são as que reportam mais itens e a metade dos associados respondentes contam com equipe interna dedicada exclusivamente à comunicação.

“O GIFE vem trabalhando a associação entre comunicação e transparência e a importância do diálogo aberto entre os investidores e a sociedade, tendo em vista que são atores relevantes para a transformação social e, com isso, têm responsabilidades a assumir”, relembrou Iara.  Isso se reflete, inclusive, no cuidado e atenção que os investidores têm em relação ao monitoramento de suas atividades. Apenas 2% dos investidores não realiza alguma iniciativa neste sentido.

Produtos Censo GIFE

Além da publicação do Censo, que já está disponível no Sinapse do GIFE (clique aqui), está sendo elaborado também um “Key Facts”, em  parceria com a Foundation Center, para a produção de infográficos a respeito das principais descobertas do Censo, que deverá ser lançado no início de 2016.

Outros produtos a serem disponibilizados aos associados do GIFE são os relatórios de comparação, a fim de que os investidores possam se avaliar diante dos seus pares em diversos aspectos do investimento social.

Apoiam o Censo o Santander, Instituto Unibanco, Fundação Telefônica Vivo e Instituto C&A.

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