GIFE marca presença na Virada Sustentável com debate sobre negócios sociais e as cidades
Por: GIFE| Notícias| 01/09/2014Em sua quarta edição, a Virada Sustentável em São Paulo (SP), mostrou que veio mesmo para ficar. Entre 28 e 31 de agosto, esse movimento de mobilização colaborativa para a sustentabilidade do Brasil, ofereceu mais de 100 atrações para tratar o assunto de diversas formas. O GIFE fez parte da programação com o debate: como soluções inovadoras e negócios sociais estão transformando as cidades?
O evento aconteceu no dia 29 e reuniu cerca de 50 pessoas no Itaú Cultural. O público foi composto por professores universitários, estudantes de políticas públicas e administração, empreendedores sociais, profissionais do terceiro setor e interessados no tema. No palco, para contar suas experiências e mostrar o cenário dos negócios sociais estavam Ricardo Mastroti (Yunus Social Business Brasil), Talita André (Artemisia), Luana Lobo (Instituto Alana e Maria Farinha Filmes), Fernando Assad (Programa Vivenda) e José Gilberto Boari (QEdu – Fundação Lemann).
Logo na abertura, a coordenadora de comunicação do GIFE, Mariana Moraes, mostrou satisfação em participar pela primeira vez da Virada Sustentável e explicou o tema. “O GIFE trabalha pelo impacto do investimento social e tem visto a importância da inovação no atuação dos associados, no sentido principalmente de assumir riscos, e uma oportunidade aos investidores sociais de explorar e apoiar os negócios sociais, como mais uma forma de transformação social”.
Acelerando mudanças
Um ponto comum na fala de todos os convidados foi a vontade de querer promover a transformação de pessoas e espaços dentro do sistema vigente e, isso significa, uma alternativa além do modelo de negócio tradicional. Ricardo Mastroti foi o primeiro a falar dessa questão, e após apresentar a trajetória da Yunus Social Business – incubadora e fundo de investimento para negócios sociais – explicou que esse “novo empreender” consegue unir a causa social de organizações não governamentais com a ideia de sustentabilidade financeira de uma empresa.
“Estamos falando em unir forças para causar impacto de maneira sustentável, e por isso, não existe melhor ou pior modelo de empreendimento. É como um ecossistema, eles têm que estar juntos para funcionar. O negócio social tem fins lucrativos, mas com impacto positivo na sociedade, sem desconsiderar outras atuações”, disse.
Talita André, da Artemisia – organização sem fins lucrativos que fomenta negócios de impacto social – comentou a força que esse tipo de empreendimento está ganhando no Brasil. “O sonho é promover mais igualdade por meio dos negócios e esse caminho já está sendo construído em nosso país”. Ela contou que em 2010, a Artemisia fechou um ciclo de 12 projetos que se tornaram negócios de impacto social. Nos últimos dois anos, esse número foi 47.
“Os desafios existem, como conseguir capital inicial, as questões legais e outros, mas há uma procura, um interesse maior nesse modelo”, falou Talita. Para Ricardo, acontece uma onda evidente de mudanças e oportunidades para colaboração. “As grandes empresas e investidores também estão atentos e já enxergam um viés para além da filantropia. É a chance de desenvolver algo para a sociedade, de deixar um legado”, completou.
Rede de iniciativas
Com o intuito de inspirar, Fernando Assad, Luana Lobo e José Gilberto Boari contaram sobre as iniciativas e responderam perguntas sobre empreendedorismo social, principalmente no que diz respeito a ter a ideia e tirá-la do papel. Sobre essa questão, Fernando Assad foi enfático “é preciso querer, mas querer muito e correr atrás”. O Programa Vivenda é uma prova dessa “insistência”, saiu da Artemisia diretamente para a melhoria das moradias das comunidades de São Paulo.
“O Vivenda nasceu quando percebi que o processo de urbanização em favelas, por exemplo, acontecia da porta para fora das casas das pessoas: com ruas asfaltadas por exemplo. Grande parte das habitações, no entanto, permanecia do mesmo jeito. Essas moradias precisavam de conserto, ou acabamento, para se tornarem mais dignas e livres de elementos causadores de doenças. O problema é que bons pedreiros não existem para esse público, estão cuidando de casas fora da favela, então a obra ficava insustentável, mas planejada. Era um nicho, um negócio social começando”, contou Fernando.
Foram algumas tentativas até chegar na Artemisia e ver como o Vivenda podia acontecer. Hoje, eles oferecem assessoria técnica na elaboração do projeto, mão de obra especializada e parcelamento da reforma em até 12 vezes para quem realmente precisa. Na Maria Farinha Filmes, o processo é um pouco diferente e parte do audiovisual como meio para causar impacto social. Luana Lobo disse que a produtora identifica uma causa forte e trabalha na busca de parceiros para viabilizar o projeto.
O ‘Muito além do peso’, um dos primeiros documentários da produtora, veio de uma conversa com o Instituto Alana, que trabalha com a questão da infância e o consumo. “No fim, nosso tipo de negócio acaba funcionando como um trabalho integrado, ganha – se dos dois lados: a pesquisa e o capital vêm de um interessado, por exemplo, e nós transformamos em produto para a comunidade. Essa é nossa ferramenta para cumprir uma missão social”, explicou.
No QEdu, a melhoria da educação brasileira é o foco da iniciativa. O site, criado pela Meritt e apoiado pela Fundação Lemann, funciona como uma plataforma aberta e gratuita para obtenção de dados sobre a qualidade do aprendizado em cada escola, município e estado do Brasil. Segundo José Gilberto Boari, o QEdu é um exemplo de produto que pode mudar realidades.
“Essa plataforma coloca quem realmente precisa saber sobre educação dentro desse universo. Os dados da Prova Brasil eram de difícil acesso aos próprios professores e agora está tudo ali, a um clique. Gráficos e comparativos que ajudam a construir o debate da educação no país”, comentou.
Para o futuro
Os exemplos mostrados no encontro e as diferentes visões desse universo deram um panorama da situação do Brasil em relação aos negócios sociais. Para Ricardo Mastroti, as discussões tendem a crescer mais e será preciso uma força tarefa para entender esse tipo de empreendimento que “não se encaixa na filantropia, não visa o lucro pelo lucro, mas que é um negócio”, finalizou.
Para saber mais sobre outras atrações da Virada Sustentável acesso o site.