GIFE realiza debate online sobre transparência no setor

Por: GIFE| Espaços de diálogo| 16/03/2015

Afinal, vale a pena ser transparente? Esse foi o mote que norteou o primeiro debate online promovido pelo GIFE, no dia 11 de março, e contou com a participação de Andre Degenszajn, secretário-geral do GIFE, e de Eduardo Szazi, advogado especialista no terceiro setor.

A conversa teve como base o conteúdo da publicação “”Abertura: Desmistificando a transparência de investidores sociais”, que faz parte de uma série de iniciativas a serem realizadas pelo GIFE nessa temática, sendo essa uma das agendas prioritárias de trabalho da instituição.

Andre abriu o debate apresentando o cenário da transparência na área de investimento social privado, lembrando que essa agenda já está presente no setor há bastante tempo, mas que se estrutura de fato a partir de 2010, quando o GIFE constrói sua visão de dez anos e olha para três aspectos essenciais do investimento: relevância da iniciativa, diversidade do investimento e a abrangência do investimento. “A transparência é um dos pilares da relevância. Isso porque a prática da transparência está ligada à relação que se estabelece com a sociedade, visibilidade, mostrar os resultados e dialogar sobre os temas relevantes. Trata-se de garantir a legitimidade deste campo, dentro das organizações e na sociedade como todo”, comentou.

Segundo Andre, o tema tem ganhado mais espaço no setor e vem ao encontro de um movimento mais amplo de inserção da transparência na agenda nacional, como, por exemplo, com a criação da Lei de Acesso à Informação, o combate à corrupção, entre outras iniciativas de controle social.

Por meio do Censo GIFE, é possível observar a presença da transparência nas instituições, com a indicação de que publicam relatórios e balanços financeiros. No entanto, são informações difíceis de serem encontradas. “O discurso está presente e bastante instalado no dia a dia, mas a prática ainda está distante. Por isso, decidimos desenvolver um conjunto de ações que possam elevar as práticas de transparência e ampliar o entendimento sobre estas iniciativas, afinal, estamos falando sobre algo que vai muito além de abrir informações. Esse é só o primeiro passo”, destacou.

Szazi lembrou que, quando se fala em transparência, essa se relaciona à prestação de contas e, por isso, é preciso se considerar dois aspectos: que informação é preciso dar e para quem. Hoje, com o alto nível de exigência da sociedade por informações, a expectativa é que todos possam ter acesso a elas. No entanto, o tipo de informação que as instituições prestam ainda está muito ligada apenas à parte financeira, ou seja, aos balanços e demonstrativos. “E eles não têm a capacidade de mostrar o que a entidade faz, se contrata pessoas deficientes, por exemplo, de quem recebe doações etc”.

Por isso, na opinião do advogado, é preciso agora discutir a qualidade das informações que as entidades oferecem e incentivar que divulgem muito mais do que apenas os bons resultados alcançados. “O grande desafio é, na prestação de contas, mostrar um resultado comparado com as metas iniciais da entidade. As falhas ninguém está disposto a mostrar, apenas os sucessos. Tudo fica muito escondido”.

O que acontece muitas vezes, segundo os especialistas, é que as organizações, por serem privadas, acreditam que não têm a obrigação ou o dever de dizerem o que fazem, como fazem, que resultados alcançaram etc, e que isso se limita apenas ao setor público. No entanto, como lembrou Andre, a partir do momento que essas instituições passam a realizar ações visando o interesse público, saem então da esfera privada e, como tal, devem se relacionar com a sociedade, afinal, a sua ação repercute na vida das outras pessoas.

Outro aspecto a ser observado é o impacto dessas organizações, ou seja, quanto mais abrangente é a sua atuação, maior é a necessidade de prestar contas. “Uma pequena ONG que tem só ação numa determinada comunidade, alguém ali localmente vai querer saber o que está acontecendo. Agora, se ela está atuando para alterar uma política pública, por exempo, é necessário que tenha um maior nível de prestação de contas. Além disso, muitas vezes, a entidade sem fins lucrativos, embora seja privada, tem isenções. Ou seja, a sua ação está sendo feita à custa de uma arrecadação. Assim, justamente por economizar os impostos, ela tem que falar para a sociedade o que faz com o dinheiro. Portanto, deve ser mais transparente.”, destacou Szazi.

Na opinião de Andre, uma boa defesa para justiticar o sentido público das entidades é justamente mostrar com clareza o que se faz, acabando assim com suspeitas que possam surgir da sociedade pela falta de informação disponível. “Se eu tenho um baixo nível de transparência, isso amplia o espaço da lógica de suspensão. Essa falta de informação facilmente acessível é fragilidade do próprio setor”, apontou o secretário-geral do GIFE.

 

Em ação

Mas, afinal, quais os beneficíos da transparência e o que fazer para se tornar uma instituição transparente? Para responder a esse questionamento, o GIFE preparou um infográfico, que enfatiza o porquê dos investidores serem transparentes e apresenta cinco passos que podem ser realizados por qualquer instituição.

Andre ressaltou que, um dos benefícios de ser transparente, é ter acesso a outras experiências e se engajar num diálogo a fim de aprimorar suas ações. “Cria-se um ambiente mais favorável para fazer parcerias, é mais fácil identificar sinergias e colaboração, além de receber o retorno dos públicos com os quais se relaciona”, disse.

Sobre como fazer, o secretário-geral do GIFE ressaltou a importância de compartilhar as avaliações – algo ainda pouco frequente no setor – e utilizá-la não apenas como prestação de contas, mas como instrumento de aprendizado não só próprio, mas que os outros possam aprender também com sua prática. Além disso, é fundamental utilizar-se de todas as ferramentas hoje disponíveis de comunicação.

“A entidade precisa estar preparada para dizer o que faz e as suas motivações, de onde vem os seus recursos, quais os resultados esperados e os alcançados. Mas é um processo de construção. Por isso, ela tem que desenvolver seus canais de diálogo e ver quais são as formas mais eficientes. A internet é importante, mas talvez, numa determinada comunidade, um cartaz na parede da ONG seja mais eficaz”, ressaltou Szazi.

 

Muito além do balanço

Publicar relatórios, balanços e realizar auditoria são importantes, mas não garantem uma gestão transparente. Por isso, de acordo os debatedores, é preciso pensar em outras dimensões da transparência, como as instituições se relacionam com a sociedade.

O GIFE sistematizou quatro destas dimensões:

“É preciso que essa instituição se comunique com os grupos com os quais trabalha, para ter novos aprendizados e trocas, além de criar espaços para que as ONGs possam falar abertamente, afinal, quem está desenvolvendo determinada ação talvez não tenha todo o conhecimento sobre o que impacta o desenvolvimento do programa”, destacou Andre.

De acordo com Szazi, a transparência deve ser vista como um processo de diálogo, de construção e compartilhamento de conhecimento. E, será a partir desta postura, que os projetos estarão, de fato, atendendo a uma determinada necessidade. “Por vezes, muitas organizações se consideram as únicas capazes de fazer tal ação, enquanto no processo de demonstrar o que faz e de buscar informações sobre o que fazem, acabam percebendo a importância de se formar redes. Fica claro que, para participar de uma rede, a transparência é um elemento fundamental”, falou.

Na opinião do advogado, é preciso, antes de mais nada, instaurar a cultura da transparência dentro da própria organização, para que todos os colaboradores saibam a missão, os valores e os projetos em andamento. “Se você tem certeza de que toda a informação é compartilhada e que todos os colaboradores são capazes de falar sobre o que ela faz, objetivos e alcance, você já tem um nível de transparência bom”, apontou.

 

Passo a passo

Ao final do debate, Szazi trouxe algumas dicas de como ser transparente antes, durante e ao final de um programa.

De acordo com o advogado, na primeira etapa é preciso estabelecer – como já havia ressaltado – o diálogo com as comunidades e os beneficiários, ou seja, é preciso envolvê-los no desenho do programa. Já no desenvolvimento da iniciativa, é essencial disseminar o máximo de informações a respeito do andamento das ações para todos os públicos com os quais a organização se relaciona – beneficiários, parceiros etc. E, por fim, apresentar uma análise, comparando as metas com os resultados realmente alcançados.

Saiba mais

Assista o debate completo no Youtube do GIFE e acesse também um vídeo sobre o assunto e alguns infográficos. Conheça outros materiais sobre o tema.

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