Grandes investidores preferem Educação

Por: GIFE| Notícias| 10/03/2008

Rodrigo Zavala

O jornal americano The Chronicle of Philanthropy, uma das principais publicações no mundo sobre o setor sem fins lucrativos, divulgou a lista dos 50 maiores investidores sociais nos Estados Unidos. Com o título de “”Um grande ano para grandes doações””, a reportagem revela que, em 2007, os “”mais generosos”” doadores contribuíram com cerca de US$ 7,3 bilhões.

O gigante do ramo de hotéis e cassinos, Willian Barron Hilton, cuja transferência para a fundação de sua família, Conrad N. Hilton Foundation, em Reno (Nevada), encabeça o ranking anual do jornal com US$1,2 bilhões. Ele é seguido por mais 20 grandes nomes da economia, de áreas como tecnologia, petróleo e, principalmente, finanças, cujos investimentos foram de pelo menos US$100 milhões cada um.

A lista fornecida pela publicação é um cálculo baseado sobre o repasse destinado a organizações classificadas como “”de caridade”” ou fundações com fins públicos. No entanto, não são incluídos os investimentos sociais realizados com incentivos fiscais, como dedução ou isenção de impostos.

“”Não mencionamos também os doadores anônimos, apesar do crescimento dessa prática, no ano passado””, alega a editora, Maria Di Mento. Ao que indica a reportagem, o total de recursos levantandos por esse segmento superou US$1 bilhão.

Uma grande economia

Apesar de parecer uma vultosa quantia, uma pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Associações Filantrópicas dos Estados Unidos mostra que o valor não chega a 10% sobre o que representa o terceiro setor no país. O levantamento contabilizou, em 2003, US$1.76 trilhão em investimentos, com gastos que superam 945 bilhões de dólares.

O estudo United States Nonprofit Sector foi realizado a partir dos relatórios anuais de impostos entregues pelas entidades sociais, cujo número chegou a 837.027 no mesmo ano. Para entender o que isso representa, basta ver os cálculos do The World Factbook, informe do governo americano a respeito da geografia política e social do mundo. Em um cruzamento de dados, a movimentação dos recursos do terceiro setor americano é maior do que economias como a do Brasil, Rússia, Canadá, México e Coréia do Sul.

E o Brasil…

Há uma série de contextos que diferem os investidores americanos dos brasileiros. Questões históricas, financeiras, status, leis de herança, ou mesmo altruísmo, distanciam as duas realidades. Não deixa de ser evidente, porém, que elas afetam diretamente o montante dirigido.

Dentre as pesquisas mais atuais se destaca a As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil (Fasfil), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria do GIFE e da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong).

Segundo o levantamento, o número de associações sem fins lucrativos chegou a 276 mil em 2002, dando empregos diretos a 1,5 milhão de trabalhadores, cuja média salarial é de 4,5 salários mínimos mensais – superior à média das empresas em geral de 4,3 salários por mês. Os números mostram que, só em remuneração, elas movimentam R$ 17,5 bilhões anualmente.

No entanto, o investimento social feito pelo setor privado em todo o Brasil é, segundo a Pesquisa Ação Social das Empresas, do Ipea, pouco mais de R$4,7 bilhões (atente que só os 50 mais “”generosos dos EUA”” doaram US$7, 3 bilhões, ou R$12,3 bilhões).

Educação

No estudo americano, a maioria dos doadores, 44 deles, investiu em educação (embora, não apenas nessa área). Seja em escolas e faculdades, seja em programas educativos, o montante é muito superior a, por exemplo, grupos de defesa aos direitos humanos (o segundo da lista), em que 21 investem.

A explicação mais curiosa, que poderia ser também a de qualquer investidor privado brasileiro em educação, é da diretora executiva da Fundo Iner-City Scholarship, Susan M. George. Ela é responsável pela organização apoiada por Robert W. Wilson (48° do ranking), magnata do mundo financeiro. “”Ele (Wilson) percebeu que as escolas públicas estão falhando e nós precisamos educar as crianças””, lembra.

Essa é a ligação entre esses dois mundos (o dos grandes doadores americanos e brasileiros): o foco em educação. Segundo o Censo GIFE 2005-2006, levantamento que reúne os maiores investidores sociais de origem privada no Brasil, essa é a principal área beneficiada com doações (80%). Os associados à Rede GIFE representam R$1 bilhão, ou 20%, de todos os recursos repassados pelo setor privado à área social.

Segundo o Censo, grande parte desse capital está focado em crianças e jovens dos ensinos fundamental e médio (7 a 24 anos) da rede pública de ensino. Nesse sentido, as linhas de ação prioritárias se voltam para a capacitação dos professores, oficinas de arte-educação e complementação escolar.

“”É provável que a preferência pela ação direta, capacitando professores e preparando estudantes, em vez de simples doações de equipamentos e recursos, reflita a percepção, por parte dos associados, de que os problemas da educação não se limitam à falta de recursos, tal como os recursos adicionais nem sempre produzem resultados positivos esperados””, conclui o responsável técnico pelo estudo, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman, no livro.

Assistência

A Pesquisa Ação Social das Empresas, do Ipea, que analisa de forma mais global o investimento do setor privado, dá destaque aos recursos voltados para alimentação, que torna-se a área prioritária de atendimento (52%), ultrapassando as ações voltadas para assistência social (41%).

No lançamento dos dados, a coordenadora do levantamento, Anna Maria Peliano, explicou que a opção por doações assistenciais é mais comum por duas razões: demanda e poder de investimento. Segundo ela, as empresas trabalham a partir de uma determinada necessidade de sua comunidade. Daí, prestar assistência à população de baixa renda.

Somado a isso, há o papel das micro-empresas (com até 10 funcionários), que não possuem recursos para desenvolver programas contínuos. “”Quem tem projetos processuais, como os de educação, são as grandes empresas””, analisou.

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