“Guia das Periferias para Doadores” apresenta práticas a serem adotadas por investidores sociais

Por: GIFE| Notícias| 22/04/2024

Imagem: IstockPhoto

No próximo dia 9 de maio, a Iniciativa PIPA vai realizar o lançamento, em São Paulo (SP), do “Guia das Periferias para Doadores”, uma pesquisa que propõe “a inversão do jogo”. Quando muito se fala do que as organizações periféricas precisam fazer para terem financiamento, a PIPA apresenta o que as organizações doadoras podem fazer para que seu recurso seja repassado de forma mais equitativa.

A coordenadora de Pesquisa da Iniciativa PIPA, Nildamara Torres, afirma que o documento aponta para um cenário alarmante, que precisa de mudanças efetivas o quanto antes. “A PIPA entende que para falarmos de uma filantropia estratégica no país, é preciso levar em consideração as vozes que estão emergindo das periferias brasileiras, e demandando que os recursos cheguem aonde a realidade acontece.”

A partir de anos de acúmulo e experiência, a organização detectou práticas possíveis que os investidores sociais podem adotar para que seus processos de doação permitam que os recursos cheguem na ponta. Para isso, o Guia destaca três eixos:

  • Pluralidade nas equipes: especialmente no que tange à raça, gênero e territorialidade. Desde o planejamento, passando pela execução e terminando na avaliação, pois impulsiona uma mudança estratégica programática internamente.
  • Financiamento institucional: o Guia defende que os doadores precisam olhar com mais atenção para suas estratégias de financiamento, visando focar recursos para o fortalecimento institucional das organizações. Usualmente, as organizações de periferias apontam que quando acessam financiamento, estes são para execução de projetos. Com valores que, muitas vezes, não possibilitam nem os custos da passagem ou alimentação dos trabalhadores, que majoritariamente atuam de forma voluntária.
  • Transparência de portfólios: a existência e apresentação dos portfólios dos financiadores é fundamental para a estratégia de captação de recursos de organizações periféricas. Diferentes gestoras e gestores dessas organizações repetem o mesmo relato: o caminho do dinheiro é super concentrado, e não sabem a quem solicitar recursos. Por conta disso, o Guia demanda que seja uma prática dos financiadores a transparência dos seus portfólios, apresentando que linhas programáticas apoiam.

As periferias têm as respostas

Para Rodrigo Pipponzi, fundador e conselheiro do Instituto ACP, se trata de um material disruptivo, que escancara o contexto de forma potente e corajosa.

“Quando falamos de qualificar o apoio do ISP para organizações periféricas, temos um contexto muito enfraquecido. As organizações periféricas são muito pouco vistas e dependem muito de acessar redes de contatos muito complexas de serem acessadas.”

Para fazer o recurso chegar nessas organizações, o investidor acredita que o primeiro passo é exemplificado pelo trabalho desempenhado pela PIPA: apresentar dados para que o setor entenda o tamanho do problema. Em seguida, avalia, é preciso educar os detentores do capital filantrópico para que entendam que as organizações periféricas são aquelas que estão vivendo os problemas do território, e consequentemente as mais capacitadas para entender o contexto.

“Ao mesmo tempo, elas são grandes geradoras de inovação. São elas que estão buscando as soluções, e por conta disso é muito importante que acessem capital para ampliar os seus impactos e desenvolver essa inovação.”

Nildamara Torres lembra que não é de hoje que gestores, ativistas e iniciativas como a PIPA evidenciam o pouquíssimo investimento que têm chegado nas periferias.

A coordenadora de pesquisa conta que uma das conclusões do Guia é que para se caminhar em direção a mudanças sistêmicas é necessário que as organizações doadoras publicizem o quanto de recurso repassam para as organizações de periferias, tornando possível o monitoramento dessas ações.

Outra ação fundamental, é ampliar o número de pessoas de periferias ocupando os espaços de tomada de decisões, principalmente, espaços responsáveis pelo aporte de recursos. 

“Só haverá o que estamos chamando de filantropia estratégica no Brasil quando transformarmos os pilares que sustentam a doação no país.  Para isso os movimentos e coletivos periféricos precisam ser visibilizados e cogitados como prioridade orçamentária pelo setor. É urgente que o campo entenda que as periferias têm as respostas”, finaliza.


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