Histórico das organizações é fundamental para sua gestão

Por: GIFE| Notícias| 02/10/2006

Rodrigo Zavala

“”Organizações devem deixar de ter uma visão romântica sobre sua história e perceber que a memória é um diferencial estratégico para sua gestão””. A conclusão apresentada por Karen Worcman, fundadora e diretora do Instituto Museu da Pessoa, evidencia quão benéfico podem ser os investimentos na criação de centros de memória em empresas, institutos e organizações não-governamentais.

A atividade que mantém o Museu da Pessoa, criado em 1992, é o desenvolvimento de pesquisas direcionadas a resgatar a trajetória de qualquer instituição, empresa, entidade, grupo ou setor da sociedade. O que diferencia esses projetos de outros trabalhos de pesquisa histórica é o seu enfoque.

Em vez de um relato oficial, que inevitavelmente acaba sendo menos abrangente nos pontos de vista oferecidos, o museu procura dar vida à memória de organizações, reunindo histórias de vida das pessoas que integram a sua trajetória, sejam elas nomes conhecidos ou anônimos.

“”O grande desafio de um projeto de memória é mostrar os resultados práticos. As pessoas ainda não percebem como seu uso pode ser múltiplo na gestão do conhecimento das instituições””, argumenta Karen.

Um dos exemplos de como esses conceitos se equacionam com a prática empresarial vem de Minas Gerais. A CTBC Telecom, operadora do Grupo Algar, criou um Centro de Memória que passou a colher não apenas o histórico da empresa, mas também a coletar informações da população. “”A história da organização está ligada ao desenvolvimento social daquela região; uma responsabilidade indissociável””, afirma Ana Flávia Martins, coordenadora de projetos do Instituto Algar.

Segundo ela, quando uma empresa cresce, torna-se um desafio manter o relacionamento próximo com a comunidade, no que tange à identificação. Assim, a criação do Centro de Memória está relacionada ao investimento social da empresa e a preservação de seus laços na região em que ela atua.

Por meio da recuperação da memória oral e formação continuada de professores, o Instituto criou, em 2001, o Histórias da Nossa Terra, em parceria com prefeituras, secretarias municipais de Educação e os institutos Museu da Pessoa.Net e Avisa Lá.

Promovido pela primeira vez na cidade de Ituiutaba (MG), o projeto realiza ações de preparação e sensibilização dos alunos e professores de escolas parceiras que, após aprenderem as dinâmicas de pesquisa, saem a campo entrevistando as pessoas, colhendo informações, verificando fotos e dados. Além de captarem os depoimentos, as crianças produzem desenhos com base nesses trabalhos, que posteriormente são disponibilizadas numa exposição.

A iniciativa leva a questão para duas vertentes: enquanto tenta melhorar a qualidade do ensino fundamento público da região, solidifica sua marca no cotidiano popular.

Com outro foco, há o exemplo da Bunge, que também criou um centro de memória. No entanto, esta iniciativa se destaca pela utilização do espaço como um ponto diferencial na rotina de trabalhos da empresa.

Para isso, atua em três áreas: gestão de informação, na qual disponibiliza documentos; gestão de ações internas, em que abarca intranet, pesquisas internas e uma gama de trabalhos para a integração de funcionários; e difusão cultural e ação educativa, em que se trabalha conceitos de educação patrimonial e projetos culturais.

“”Os resultados são evidentes, como a otimização ao acesso à informação, além de agregar valor à marca e à corporação, disseminar a cultura preservacionista e a valorizar o colaborador. O trabalho se divide dentro e fora da empresa””, defende Daniele Juaçaba, coordenadora do Centro de Memória da Fundação Bunge

Um detalhe apresentado nos dois exemplos, no entanto, traz um questionamento simples: se as empresas passaram a acreditar que seus centros de memórias são importantes, por que eles geralmente são coordenados pelas suas fundações ou institutos?

Para explicar isso, Ana Isabel Ferraz, da equipe de Assuntos Corporativos da Nestlé, sugere que as empresas ainda não acordaram para o real potencial da memória, apesar dos anunciados benefícios. “”Você tem que provar o valor estratégico dessa prática a todo o momento. Dizer ao CEO da empresa que o benefício mexe no bolso dele””, acredita.

A aplicabilidade desses conceitos sobre práticas efetivas pode ser vista em São Bernardo do Campo, São Paulo. O Museu da Pessoa desenvolveu um projeto chamado Metalúrgicos do ABC: preservação da memória dos trabalhadores. Iniciativa do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a pesquisa tem como proposta organizar um banco de dados com aproximadamente 1,5 mil depoimentos e fotos de pessoas que participaram dos movimentos trabalhistas na região, além de recuperar a própria história da entidade.

Espera-se que com essas informações, os trabalhadores terão mais facilidade para pensar e desenvolver estratégias de negociação salarial.

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