Hub de Cidadania Ativa: projeto da FEAC e parceiros fortalece coletivos e cidadania
Por: Fundação FEAC| Notícias| 19/09/2022Em 2020, o projeto da FEAC em colaboração com a OSC Casa Hacker inaugurou o hub Quebrada em Movimento, localizado no Campo Grande, em Campinas
No próximo dia 5 de outubro, a Constituição de 1988 completa 34 anos. Um dos marcos da redemocratização do país, ela também é conhecida como Constituição Cidadã. Sua elaboração teve ampla participação popular: na época, cinco milhões de formulários foram distribuídos nas agências dos Correios para que as pessoas pudessem participar, 72.719 sugestões foram coletadas, vindas de todo o país, além de outras 12 mil propostas dos constituintes e das entidades representativas.
Estimular a participação de grupos e pessoas em ações que visam o bem-estar social e o desenvolvimento de um bairro, cidade ou país é estratégia importante para fortalecer o exercício da cidadania, seja para elaborar novas leis, fazer valer as que já existem ou criar soluções para problemas pontuais da comunidade. E foi com este objetivo em mente que nasceu o projeto “Hub de Cidadania Ativa”, do Programa Cidadania Ativa, da Fundação FEAC.
Em 2020, o projeto da FEAC em colaboração com a OSC Casa Hacker inaugurou o hub Quebrada em Movimento, localizado no Campo Grande, em Campinas. A sede reúne integrantes de dez coletivos da região, que atuam em diferentes áreas, como educação, saúde, esportes, cultura, culinária, entre outras.
“O projeto Hub de Cidadania Ativa tem o propósito de estimular um ambiente de conexão, informação, formação e aprendizagem, que potencializa as ações dos coletivos, dá visibilidade a causas do território e oferece espaço de discussão sobre as principais temáticas sociais que envolvem o território. É um espaço onde os coletivos podem criar juntos soluções inovadoras para os desafios da sua comunidade”, explica Daniela Vieira, líder do Programa Cidadania Ativa, da FEAC.
Hubs potencializam trabalho dos coletivos
Mas, afinal, o que define exatamente um coletivo e por que eles têm se tornado mais presentes nos últimos tempos? Estas organizações têm longa história no Brasil. Começam a surgir nos anos 1970, na contramão das estruturas hierarquizadas das instituições tradicionais e surgem como uma crítica a estes modelos de governança.
Em Campinas, os coletivos se multiplicaram e diversificaram as suas áreas de atuação nas duas últimas décadas. Hoje, pelo menos 140 coletivos marcam presença no esporte, na educação, saúde, empreendedorismo e abraçam a defesa de questões raciais, de gênero, trabalhistas e de direitos humanos, entre muitas outras. E sabem que suas intervenções na comunidade podem servir de base para construção de futuras políticas públicas.
A proposta dos dois hubs, Quebrada em Movimento e Conexão Quilombo Amarais, é oferecer uma sede comunitária, um espaço físico de conexão para os coletivos, para valorizar os trabalhos que realizam e empoderar a comunidade, já que faltam recursos e estrutura a muitos destes grupos. Cada hub atende a dez coletivos previamente selecionados.
Hub Quebrada em Movimento
A sede do Quebrada em Movimento é a Casa de Cultura Itajaí (saiba mais no quadro), no Campo Grande, região periférica de Campinas. Fundada em 1990, a casa nasceu como um espaço de discussão de ideias e desenvolvimento de projetos e hoje também conta com salas, conexão à internet e equipamentos como computadores e impressoras. Marcelo Oliveira, agente cultural e coordenador do hub da Quebrada em Movimento, destaca a importância tanto da tecnologia, que precisa ser acessível para a comunidade, quanto do espaço, que facilita o trabalho conjunto em prol do território.
Para entender as necessidades do bairro, o comitê de gestão do hub faz um mapeamento dos coletivos da área. Este comitê é composto por organizadores do hub e por coletivos que já participaram de experiências anteriores. “Nós queremos que esse espaço seja democrático, onde a gente possa potencializar esses coletivos. Por isso temos esse processo de gestão compartilhada”, explica Marcelo.
Os dez coletivos recebem capacitações técnicas como criação de rede, marketing de causa, captação de recursos, gestão da plataforma Google Workspace e gestão financeira. Eles participam de mentorias para pensar em estratégias e ações com outros coletivos e de encontros com profissionais de diversas áreas. As aulas são presenciais e on-line.
Com base em critérios pré-definidos, os coletivos que integram o hub recebem um capital semente, ou seja, um investimento financeiro para usar em uma ação conjunta e impactar o máximo possível de famílias na região. A ideia é que uma organização que atua com saúde mental, por exemplo, se conecte a um outro coletivo que trabalhe com atividade física e construam um projeto em conjunto, exemplifica Marcelo. Assim, ambos os coletivos saem ganhando.
“E nós podemos criar outras formas de inclusão. A gente quer que o resultado do hub seja de fato uma conexão entre organizações para que elas possam se fortalecer”, diz Marcelo. O hub deseja fomentar a cidadania entre os moradores mostrando que a linguagem técnica pode ser acessível e ensinando formas de dialogar com o poder público. Para Marcelo, o projeto traz uma emancipação política à comunidade: “Para mim, que sou periférico, é diferente estar nesse lugar como coordenador, ver esse projeto se desenrolar e entender que ele vai além de uma jornada de capacitação de mentorias”.
Atualmente, o Hub Quebrada em Movimento está com as inscrições abertas para quem desejar participar. Pode ser um coletivo, organização da sociedade civil, escola ou posto de saúde. Clique aqui e participe! As inscrições vão até o dia 16 de setembro.
Casa de Cultura Itajaí: símbolo de resistência
Casa de Cultura de Itajaí é um símbolo de resistência sociocultural na região do Campo Grande, em Campinas. É um ponto onde as pessoas podem se encontrar para trocar ideias e participar de oficinas culturais e educacionais. Ela já poderia ser chamada de hub antes mesmo de acolher o Quebrada em Movimento.
Foi por meio de encontros entre jovens de diferentes idades na Casa de Cultura que nasceu a Casa Hacker, organização social parceira da Fundação FEAC no Hub de Cidadania Ativa. No início, as atividades eram voltadas ao combate à desinformação, mas outros projetos surgiram, e hoje a organização possui três eixos de atuação: educação STEAM – metodologia que integra os conhecimentos de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática –, igualdade de gênero e fortalecimento de comunidades e territórios.
A Casa de Cultura Itajaí faz parte do programa Pontos de Cultura, criado pelo Ministério da Cultura, que foi extinto em 2019. A presença da Casa Hacker e do hub Quebrada em Movimento como organizações parceiras é fundamental hoje para garantir a sobrevivência da Casa de Cultura e fortalecer a comunidade na relação com o governo.
Hub Conexão Quilombo Amarais
Já no Jardim São Marcos, outros dez coletivos estão recebendo esse mês a nova unidade do projeto Hub de Cidadania Ativa: o hub Conexão Quilombo Amarais. A sede do hub possui sala de reunião, área externa, internet, computadores, impressoras, kits de gravação, entre outros equipamentos disponíveis aos coletivos.
“É importante o hub comunitário chegar aqui no território. Eu faço parte de um coletivo e sinto na pele a dificuldade de não ter uma sede própria. Desde o início do coletivo nós estamos numa luta para conseguir um espaço, e são muitas questões burocráticas. E a gente acaba identificando que essa é a realidade da maioria dos coletivos”, diz Lusicléia Firmino, articuladora social do hub Conexão Quilombo Amarais e integrante do coletivo Saber em Arte.
A mesma metodologia implementada na Quebrada em Movimento foi adaptada para as necessidades e realidade da nova região. Em parceria com a Casa Hacker, foram feitas dinâmicas para entender, entre outras coisas, o que precisava ser prioridade na seleção dos coletivos, quais temas deveriam ser trabalhados nas oficinas e como deveria ser a identidade visual.
Dez coletivos foram selecionados para participar do hub, que oferecerá, a partir de meados de setembro, oito oficinas voltadas para a construção de um plano de ação. Eles aprenderão conteúdos como introdução ao checklist administrativo de atividades, projetos de impacto, marketing de causa, técnica de planejamento estratégico, fluxograma, posicionamento nas redes, gestão de causa, planejamento financeiro e prestação de contas.
“A ideia é que essas oficinas os ajudem a desenvolver o plano de ação, a captar recursos e apresentar soluções. É nesse caminho que a gente vai construir tudo em conjunto com os coletivos”, fala Amanda Santos, consultora da Casa Hacker e uma das coordenadoras do Hub de Cidadania Ativa.
Campeãs da Taça das Favelas
Entre os participantes do hub de São Marcos está o coletivo de futebol feminino Projeto ReAção Feminina. O projeto existe há três anos e começou na quadra de futebol do CEU Estação Cidadania – Cultura Thaís Fernanda Ribeiro, na Vila Esperança. No início, apenas meninas do bairro participavam das aulas, mas com a popularização do projeto, garotas de outras regiões de Campinas e, até mesmo, de cidades como Limeira, Araras e Americana entraram para os times.
“Nós acolhemos muitas meninas com problemas de saúde, como depressão. Não acolhemos só para ter o time, mas justamente para dar esse suporte”, explica Aline Ferreira Ribeiro Silva, conselheira do Projeto ReAção Feminina e integrante do comitê do Conexão Quilombo Amarais. Em paralelo, o coletivo também faz outras ações como campanhas de vacinação.
O Projeto ReAção Feminina levanta verbas para custear os times de futebol por meio de rifas, bingos e campeonatos. Neste ano, o time São Marcos foi campeão e levou a Taça das Favelas, na final feminina, para a casa. “É um momento histórico para nós, até para a nossa região que abraçou o projeto. Nunca aconteceu de sairmos daqui, em sete ônibus, para ir ao estádio da Ponte Preta e vencer. Nunca tinha acontecido nem com o futebol masculino”, celebra Aline.
Aline vai participar das oficinas do Conexão Quilombo Amarais, e acredita que o hub contribuirá para o crescimento do Projeto ReAção Feminina. “O hub vai nos ajudar muito a ter mais conhecimento e fazer com que os nossos sonhos e projetos saiam do papel e se concretizem”, conclui.
Por Pietra Bastos