Ibase debate avanços nas questões defendidas por Betinho

Por: GIFE| Notícias| 16/11/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

O Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) promoveu, entre 9 de agosto e 3 de novembro, o projeto Conversas com Betinho, uma série de eventos em homenagem aos 70 anos de seu fundador, Herbert de Souza. Entre as ações aconteceram quatro seminários, que reuniram cerca de 200 pessoas cada, abordando temas trabalhados por Betinho – como ética na política, acesso à terra, combate à fome, cultura, democratização da informação, geração de emprego e responsabilidade social das empresas -, com a proposta de pensar como ele estaria discutindo e agindo a respeito dessas questões hoje.

Além das palestras, foi lançado o livro comemorativo Um abraço, Betinho, de Dulce Pandolfi (atual diretora do Ibase, junto com Cândido Grzybowski e João Sucupira), um vídeo de Zelito Vianna, que resgata parte da Semana da Arte Contra a Fome, ocorrida em 1993, e um filme do filho de Chico Mário (irmão de Henfil e Betinho), chamado Três Irmãos de Sangue.

Grande parte da atuação de Betinho está registrada na documentação que integra o seu arquivo pessoal, doado pelo Ibase ao Cpdoc (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da Fundação Getúlio Vargas. Ainda como parte das homenagens, o Cpdoc irá organizar e disponibilizar para consulta pública o seu acervo, além de também produzir um livro.

Em entrevista ao redeGIFE, o coordenador de Responsabilidade Social e Ética nas Organizações do Ibase, Ciro Torres, fala sobre a história da instituição, o legado de Betinho e a responsabilidade social das empresas na atualidade.

redeGIFE – O Ibase foi criado por Betinho, em 1981. Como aconteceu a abertura da instituição? Os objetivos daquela época permanecem até hoje?
Ciro Torres – O Ibase foi criado com o objetivo de democratizar a informação para democratizar a sociedade. No início dos anos 80, recebemos até o maldoso apelido de “”SNI da esquerda””! Na verdade, a idéia inicial dos fundadores Betinho, Carlos Afonso e Marcos Arruda estava centrada em trabalhar em parceria e fornecer dados, estatísticas e realizar pesquisas confiáveis para sindicatos, associações de moradores e movimentos sociais de base, além de ajudar a criar ONGs. Não podemos nos esquecer que até 1985 os governos ainda eram militares e depois foi um civil não eleito diretamente. Obviamente que os objetivos não são os mesmos de 81. A sociedade brasileira mudou, o mundo mudou. Contudo, nossas “”palavras chave”” continuam sendo democracia, participação e transparência. Completaremos 25 anos em 2006 e o nosso principal desafio para os próximos 25 anos é trabalhar a democracia e a participação, pensando o desenvolvimento, o meio ambiente e a diversidade.

redeGIFE – Naquela época, pouco se falava sobre a responsabilidade social das empresas. Qual foi o papel do Betinho e do Ibase neste sentido? Foi ele quem lançou este modelo de Balanço Social difundido pela instituição?
Torres – Na verdade, nada se falava sobre o tema de empresas e ação social. Nosso foco era o Estado. Todavia, foi o sociólogo Herbert de Souza que colocou a responsabilidade social das empresas e o balanço social como um tema na agenda nacional, a partir de 1997. Desde então, o Ibase consolidou uma marca muito forte neste tema: a ferramenta Balanço Social. O papel fundamental do Ibase tem sido divulgar o tema e oferecer um instrumento concreto de gestão, divulgação de dados e planejamento das ações sociais e ambientais internas e externas, que é utilizado por centenas de empresas no Brasil.

redeGIFE – De maneira geral, as empresas brasileiras têm atuado com coerência e ética quando o assunto é responsabilidade social (ações internas) e investimento social privado (para a comunidade)?
Torres – A questão fundamental é que RSE deve começar “”em casa””, ou seja, na preocupação com os funcionários e funcionárias, na produção, nos impactos diretos e indiretos dos bens, produtos ou serviços oferecidos pela empresa. Ela também está relacionada com a ação social privada, a filantropia e a caridade. Porém, isso é “”o galho da árvore””. O “”tronco”” da discussão é a responsabilidade e o cuidado com os impactos do próprio negócio em relação às pessoas e à natureza. Muitas vezes esta incoerência deve-se ao fato do discurso andar mais rápido do que a prática, ou seja, na definição de responsabilidade social empresarial, todos acertam. Falam de desenvolvimento sustentável, gestão com todos os públicos interessados, preocupação com as pessoas e o meio ambiente. Quando analisamos os dados dos balanços sociais anuais de cerca de 300 empresas que utilizam o Modelo Ibase, observamos, por exemplo, que o número de acidentes de trabalho vem crescendo nos últimos anos, os investimentos em segurança e saúde no ambiente de trabalho diminuem e não existe uma valorização da diversidade internamente nas empresas analisadas.

redeGIFE – De que maneira a sociedade têm buscado cobrar uma postura mais ética das empresas? Até que ponto isso tem funcionado e o que ainda precisa ser feito?
Torres – Algumas organizações da sociedade como o Ibase, o Idec, o Instituto Observatório Social e tantas outras na área ambiental, por exemplo, têm cobrado uma postura mais ética nas práticas empresariais. Porém, o nosso grande desafio para os próximos anos é sensibilizar e fortalecer outras organizações da sociedade civil no tema da responsabilidade social empresarial e suas ferramentas, especialmente o Balanço Social e as Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais. Contudo, a sociedade civil só é forte quando atua em rede. Por isso, estamos na Red Puentes (uma rede de ONGs e sindicatos que trabalham o tema da responsabilidade social na Argentina, Brasil, Chile, México, Holanda e Uruguai) e estamos trabalhando há um ano com cerca de 20 organizações de todas as regiões do nosso país para criar a “”Plataforma Brasil de RSE””.

redeGIFE – Muito se fala sobre a possibilidade de os dados informados no Balanço Social não serem, de fato, verdadeiros. É possível evitar isso?
Torres – Sim, com transparência e dando poder e capacidade à sociedade para verificar de forma independente estas informações. Transparência e participação são fundamentais neste caso. Temos que colocar para funcionar a famosa gestão por todos os públicos interessados, atingidos e beneficiados pela empresa (stakeholders).

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