Imprensa melhora a cobertura, mas ainda há tropeços

Por: GIFE| Notícias| 12/02/2007

Rodrigo Zavala

A cobertura de imprensa sobre ações sociais sempre foi um ponto conflituoso entre os diversos atores envolvidos no processo entre o fato e a notícia. Além das vantagens de ver seu projeto estampado em revistas e jornais de circulação nacional – principalmente pela visibilidade alcançada – fatores como preconceito, falta de formação e desconfiança permeiam o relacionamento entre mídia e terceiro setor.

Jornalistas, empresários, militantes, administradores públicos, enfim, todo o tipo de ator social entra em uma seara em que responsabilidades se tornam difusas e o processo de experimentação é contínuo. Isto é, jornalistas devem qualificar suas reportagens, enquanto os empresários tentam ampliar seu raio de responsabilidade social, os “”ongueiros”” provar a eficácia de seus projetos e, governos, nesse imbróglio, em parte dando assistência, em outra buscando dar escala para os programas com mais êxito.

Segundo o secretário executivo da Agência de Notícias pelos Direitos da Infância (Andi), Veet Vivarta, os jornalistas têm melhorado o seu trabalho. Em primeiro lugar, na visão do especialista, ficou claro para boa parte da imprensa que o terceiro setor é importante quando se quer discutir o cenário social do país.

“”Os jornalistas também passaram a entender que o setor é uma fonte de ação qualificada e seus atores são entendidos como formadores de opinião. Mesmo as pautas para as reportagens podem vir deles””, argumenta Vivarta.

No entanto, há uma série de desafios nesse relacionamento. O secretário executivo da Andi, organização especializada em análise da cobertura jornalística, fala sobre dois: má formação dos jornalistas para tratar sobre o tema e certo preconceito da sociedade civil organizada sobre o trabalho da imprensa.

“”Se por um lado as universidades e as redações não orientam os profissionais para trabalhar com um quadro amplo, como é a área social, as organizações tardaram em perceber que comunicação é relacionamento””, explica.

Um dos exemplos do ruído entre redações e ONGs pôde ser visto em uma matéria transmitida pelo Jornal do SBT – Edição da Noite, ancorado pelo jornalista Carlos Nascimento, no dia 06 de fevereiro de 2007. A reportagem falava sobre um site que contava minuto a minuto o número de mortes ocorridas no Rio de Janeiro (RJ). Quando a repórter falou sobre o trabalho social em favelas, afirmou que as organizações faziam o papel do Estado, sem ver quem apoiava as entidades de assistência citadas no programa.

Em um setor em que empresas, governo e sociedade civil organizada trabalham juntos, a omissão dessas alianças, ou mesmo alimentar a visão puramente assistencial dessas entidades, é um equívoco que só a desinformação explica.

Outro ruído está na relação entre empresas e imprensa. Na última Conferência Internacional 2006 do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a editora de projetos especiais do jornal Valor Econômico, Célia Rosemblum, ponderou que muito da resistência da mídia em relação ao setor privado pode residir no fato de que “”em última instância, a Responsabilidade Social de Empresas (RSE) talvez esteja mesmo ligada ao mercado””.

Assim, a questão do preconceito de alguns jornalistas, que acreditam que falar bem de empresas é merchandising, evidencia-se. Nesse sentido, a colunista do jornal O Globo e comentarista da Rádio CBN, Miriam Leitão, cobrava das ONGs um posicionamento mais efetivo para a consolidação dos princípios da RSE: “”as organizações também devem cutucar, como os jornalistas, questões como as que envolvem empresas que usam trabalho escravo, por exemplo””.

Seja como for, o reconhecimento da imprensa como elemento de estímulo e apoio à transformação social é imprescindível e, apesar dos tropeços, deve ser legitimado pelos demais setores. Segundo o gerente de jornalismo do Sistema Globo de Rádio-SP, Heródoto Barbeiro, o “”jornalismo não é dar somente boas notícias, mas criticar a sociedade””. No entanto, é preciso rever o relacionamento desses diferentes atores para que os preconceitos sejam expurgados e o tratamento editorial seja baseado na isenção e transparência de seus participantes.

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