Iniciativas de associados GIFE servem de modelo para política pública do governo federal

Por: GIFE| Notícias| 16/11/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Com o objetivo de apoiar a formação profissional de jovens de baixa renda dentro de empresas de médio e grande porte, o Ministério da Educação (MEC) lançou, em outubro, o programa Escola de Fábrica. Em 2005, devem ser investidos entre R$ 18 milhões e R$ 25 milhões na iniciativa.

A meta é ter 500 escolas em fábricas, empresas e unidades produtivas com mais de 300 funcionários de todo o país, formando pelo menos 10 mil alunos por ano. Serão atendidos jovens de 15 a 17 anos, de famílias com renda per capita de até 1/3 do salário mínimo, moradores do entorno das empresas e que estejam regularmente matriculados em cursos de ensino fundamental ou médio da rede pública.

Eles receberão bolsa-auxílio, alimentação, transporte, assistência médica e psicológica, seguro de vida, uniforme e material escolar. Além disso, os empresários terão como meta que todos os alunos saiam empregados, na própria empresa ou em alguma subsidiária.

O secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Antonio Ibañez Ruiz, explica que a iniciativa não tem nenhuma relação com a Lei de Aprendizagem (nº 10.097). “”Este projeto é de cunho social, não desobrigando a empresa que mantiver uma destas unidades formadoras de cumprir com a lei. Ele será um esforço a mais, onde desejamos despertar a responsabilidade social do setor produtivo.””

Ele afirma que a necessidade de atender à demanda por formação profissional no país e de redirecionar jovens em condições de pobreza para o mercado de trabalho levaram à busca por uma expansão das opções e dos programas de educação profissional e tecnológica. “”Assim, partindo de experiências exitosas de instituições como as fundações Iochpe e Projeto Pescar, surgiu o Escola de Fábrica.””

A coordenadora do Programa Formare, Beth Callia, conta que a equipe da Fundação Iochpe forneceu vasto material sobre a iniciativa, que serviu de suporte para a geração de um documento inicial do MEC. Posteriormente, também foram dadas algumas contribuições neste pré-projeto. “”A equipe técnica veio à fundação e nós fomos até lá. Tivemos conversas e reuniões intensas. O secretário Ibañez passou um dia inteiro conhecendo uma escola, falou com o presidente da empresa, com os educadores voluntários e com os alunos, e entendeu muito bem o processo de inserção desse projeto social.””

Processo semelhante aconteceu com a Fundação Projeto Pescar. Ézio Rezende, gerente de expansão e projetos da organização, conta que no primeiro encontro foram repassadas as atividades, a metodologia pedagógica e os resultados alcançados em 28 anos de atuação nessa área. “”O Programa Escola na Fábrica, inteligentemente se propõe a potencializar a multiplicação de experiências na área da educação profissional básica. Neste sentido, parece importante observar, entre as iniciativas existentes, aquelas que já possuem resultados apurados e proposta de replicabilidade sistematizada””, afirma Rezende.

Exemplos – Criado em 1976, o Projeto Pescar é um sistema de franquia social constituído por empresas que se articulam em rede em seis estados, no Distrito Federal e na Argentina. Além de preparar jovens de 15 a 18 anos para a atuação profissional e encaminhá-los ao mercado de trabalho, elas estimulam a prática da cidadania. Cerca de 70% das 8 mil pessoas que já passaram pelas 70 unidades Pescar conseguiram emprego após a formatura e 8% tornaram-se pequenos empresários.

Também utilizando o sistema de franquia, o Formare desenvolve cursos de educação profissional para jovens de 15 a 17 anos. Desde 1988, a organização prepara adolescentes de famílias de baixa renda para o trabalho, com o apoio de empresas que cedem espaço para que seus funcionários atuem como educadores voluntários. Já foram atendidos mais de 1.700 jovens, de 40 escolas, em 11 estados brasileiros. Cerca de 85% deles estão trabalhando e conseguiram, em média, triplicar a renda pessoal nos primeiros anos de atuação.

Beth Callia explica que uma das preocupações da Fundação Iochpe é promover a ampliação do programa garantindo resultados e mantendo a qualidade do trabalho. “”Foi uma preocupação que colocamos para o MEC desde o início: a importância de criar mecanismos que pudessem garantir qualidade na prestação deste serviço, para que a gente continue promovendo formação consistente para estes jovens, com resultado e visão de longo prazo.””

Ela lembra que este é um tipo de ação que, por envolver voluntários, deve sempre contar com pessoas motivadas para ter continuidade. Por isso, ações direcionadas especialmente a este público são essenciais, com distribuição de material e capacitação do grupo, formado por funcionários das empresas. Este é um trabalho lento, que deve levar em consideração uma série de restrições e preocupações pertinentes por parte das empresas.

“”Via de regra, elas encaram esse tipo de ação como um problema, especialmente porque a proposta do MEC não tem nenhum benefício específico para elas. É preciso que haja um processo de ′convencimento′, que envolve apresentar resultados concretos””, explica Beth. O fator motivador para se aderir a um projeto deste tipo, segundo ela, depende de um processo de aproximação com uma pessoa que tem poder de decisão na empresa – o presidente ou o diretor da área de responsabilidade social, por exemplo.

Processo – Por outro lado, é importante considerar também se a relação com o funcionário está bem estruturada. “”Eu já visitei algumas empresas que não tinham resolvida a questão da sua própria área de recursos humanos. Se os funcionários não têm suas necessidades mínimas atendidas lá dentro, não estarão incentivados a fazer uma ação voluntária para alguém. É o tipo da empresa onde um projeto como esse não vai funcionar””, alerta Beth.

O secretário Antonio Ibañez Ruiz explica que, a partir do lançamento do edital, ainda neste ano, será feita divulgação massiva pelos meios de comunicação e apresentação do projeto para entidades representativas do empresariado nacional. O edital de seleção e os critérios de elegibilidade das instituições gestoras, segundo ele, atentarão para que apenas sejam contempladas aquelas com experiência comprovada na área.

As gestoras serão responsáveis por identificar as necessidades de qualificação das empresas e elaborar o projeto pedagógico para cada unidade. As Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica deverão fazer a certificação dos cursos, quando a entidade gestora não atender aos pré-requisitos para isso.

Já o MEC, além de atuar como supervisor de todo o processo, por meio de seu Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep) fornecerá recursos financeiros para a implantação dos espaços de ensino nas empresas selecionadas. Após este processo, cada uma delas também deverá destinar recursos para que o projeto se torne auto-sustentável. Esse investimento será mantido em um fundo, gerenciado pela entidade gestora, em conjunto com as associadas.

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