Iniciativas para o fortalecimento de negócios de impacto chama a atenção de investidores sociais

Por: GIFE| Notícias| 20/04/2015
Fortalecer negócios de impacto, ou seja, organizações inovadoras que buscam resolver problemas sociais e/ou ambientais e que surgem como uma resposta para diminuir as vulnerabilidades por meio de soluções escaláveis, tem se tornado cada vez mais o foco de ação de diversos institutos e fundações. O tema, inclusive, se tornou uma das agendas estratégicas do GIFE para os próximos anos e é tema do próximo curso Ferramentas de Gestão GIFE.

E não é para menos. Trata-se de um setor em franca expansão e com ótimas perspectivas para os próximos anos. Isso porque o volume de recursos comprometido com investimento de impacto na América Latina cresceu 12 vezes em apenas cinco anos, de acordo com o relatório “The state of impact investing in Latin America”.

“São, aproximadamente, 2 bilhões de dólares atualmente, no qual, grande parte dessa importância foi investida no Brasil. Paralelamente, a quantidade de empreendedores que se autointitulam empreendedores de negócios de impacto social também cresceu exponencialmente. Somente no processo seletivo da ARTEMISIA, em 2014, recebemos mais de mil inscrições, sendo que, em 2011, foram apenas 100 inscritos”, afirma Renato Kiyama, diretor de Aceleração de Negócios da ARTEMISIA, organização referência em negócios sociais no Brasil, e consultor do curso do GIFE.

Célia Cruz, diretora executiva do ICE (Instituto de Cidadania Empresarial) – instituição que tem investido fortemente neste campo – ressalta que há muitas oportunidades para os investidores sociais que desejam fortalecer esta área. Uma delas é justamente na potencialização dos chamados “intermediários”, ou seja, aquelas iniciativas que conectam, facilitam e certificam os negócios e a oferta de capital. Neste caso, as aceleradoras, incubadoras e instituições que mapeiam impactos, por exemplo.

Inclusive, a Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais (saiba mais abaixo) vai realizar nos próximos dois meses, em parceria com a consultoria Delloite, uma pesquisa para ajudar a identificar quem são estes intermediários que podem ajudar a viabilizar esse ecossistema de finanças sociais.

O programa de aceleração Artemisia, por exemplo, já apoiou a criação e desenvolvimento de 69 negócios sociais no país e articulou mais de R$ 32 milhões em investimentos para o portfólio de empresas apoiadas. Renato Kiyama destaca ainda que existem, atualmente, 20 organizações atuando com investimento de impacto no Brasil, cada uma entrando em momentos diferentes das empresas e utilizando ferramentas diversas.

De acordo com o consultor, atuar nesta frente de ação pode ser estratégico e fundamental para garantir a continuidade dos negócios de impacto. Isso porque, hoje, há muito investimento feito nas iniciativas em fase inicial – que precisam entre R$ 50 a 100 mil – mas, quando elas passam para a segunda fase, na qual esse valor gira em torno de R$ 300 mil – não existem mais recursos, pois o modelo atual não é rentável, e é justamente nesta etapa que a maioria dos negócios sociais no Brasil se encontram.

“Hoje, temos um volume de capital disponível para investimento de impacto no Brasil de cerca de R$ 300 milhões de dólares em ativos, sendo gerado por fundos de impacto, mas só ¼ deste valor foi efetivamente investido nos negócios. Todo o resto ainda está no banco. Isso significa que temos um desafio de fazer com que esse fluxo continue andando. Se ele não andar, as empresas vão morrer. Uma forma de andar é por meio de investimentos mistos, ou seja, com fins de lucro e também sem fins de lucro”, comenta, destacando que é nesta fase é que entra o trabalho das aceleradoras com as fundações. “Neste momento os negócios precisam mais do que investimento, mas sim networking e entrada comercial em grandes instituições”, completa.

Por isso, a ARTEMISIA está atuando nessa etapa contando com o apoio de investidores sociais, como o Instituto Inspirare, a Fundação Leman, a Fundação Telefônica, entre outros. Em conjunto com o Instituto Coca-Cola, a organização está acelerando negócios que atuam com empregabilidade juvenil. Já em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, a atuação é com negócios sociais voltados para a primeira infância.

Isso acaba dando uma qualidade de apoio radicalmente superior. Unimos o nosso conhecimento de modelagem de negócios e startup e os institutos e fundações entram com o capital social de atuação no setor. Acaba sendo muito benéfico para os negócios”, comenta o diretor da ARTEMISIA.

Outro campo de oportunidade para os investidores sociais, acredita Célia Cruz, é no fortalecimento de negócios de impacto nos territórios de atuação das empresas, a partir da aplicação de recursos de contrapartidas de empréstimos feitos pelas corporações junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por exemplo.

São os institutos e fundações que podem orientar as empresas a como aplicar esses recursos, dando prioridade para negócios sociais, trabalhando junto aos atores que estão nessa cadeia de valor das corporações e ligando eles a programas governamentais e compras institucionais, por exemplo, como a merenda escolar”, comenta.

A Força Tarefa de Finanças Sociais, inclusive, realizou uma pesquisa lançada em fevereiro a respeito da inclusão de negócios de impacto nas compras de grandes empresas e governo, a fim identificar os desafios e oportunidades enfrentados por todos os stakeholders desse processo. O levantamento promoveu 25 entrevistas em profundidade com profissionais de empresas, governos, órgãos de controle e negócios de impacto. Além disso, foram analisados dados secundários, como forma de identificar best practices internacionais no âmbito dos negócios de impacto.

A pesquisa identificou que a inclusão de negócios de impacto nas compras de grandes empresas é ainda limitada, mas apresenta muitas oportunidades. Os principais desafios neste campo de ação são: falta de disposição (willingness), por parte das empresas, para atuar com negócios de impacto, rigorosas políticas internas e padrões exigidos pelas empresas e as dificuldades existentes no relacionamento com intermediários e/ou parceiros.

Tendo em vista esses desafios, algumas recomendações foram traçadas, tais como sugerir que as empresas pensem em formas de incorporar o conceito e a visão de negócios de impacto em seu DNA; definir novas políticas de inserção de negócios de impacto na cadeia de suprimentos; buscar uma relação mais próxima entre as áreas de sustentabilidade e compras; trabalhar as compras de negócios de impacto como uma forma de investimento estratégico; fomentar organizações intermediárias que possam fazer um elo entre as grandes empresas e os negócios de impacto; buscar formas de auxiliar os negócios de impacto a se estruturarem para garantirem o impacto social e a qualidade de seus produtos e serviços, apoiar o ecossistema de negócios de impacto e atuar mais fortemente em parcerias.

Força Tarefa

No Brasil, há um grupo empenhado em mapear os entraves e oportunidades para o desenvolvimento das finanças sociais no Brasil, constituindo uma “Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais”, lançada em maio do ano passado.

Neste contexto, finanças sociais “compreendem instrumentos financeiros, novos e existentes, que mobilizam capital para investimento em atividades com a intenção de produzir impacto social com sustentabilidade financeira, podendo ou não gerar retorno financeiro sobre o capital investido. O impacto social deve ser mensurável e analisado periodicamente. O eventual retorno financeiro sobre o capital investido pode ou não ter limitações quanto a sua distribuição para o investidor”.

Neste um ano de atuação, o grupo tem desenvolvido uma série de iniciativas, como as pesquisas apontadas ao longo desta matéria e outros produtos, como um relatório com o objetivo de apresentar às agências e bancos de desenvolvimento econômico nas esferas nacionais, regionais e estaduais, sua importância estratégica no fomento do campo de Finanças Sociais no Brasil.

Outro avanço conquistado pelo grupo foi o convite feito pelo G8 Social Impact Investment TF para o Brasil participar de um Global Steering Comittee.

Durante os meses de maio e junho, a Força Tarefa irá promover ainda sete eventos voltados para públicos específicos, como líderes da Avina, associados do ICE, gestores públicos, entre outros.

E, no dia 14 de outubro, será promovido o evento “Finanças Sociais: tendências globais e recomendações para o Brasil”, em São Paulo, para apresentar as recomendações da Força Tarefa Brasileira para avanços no campo, com a participação do Sir Ronaldo Cohen, co-fundador da Social Finance Ltd.

Curso do GIFE

O GIFE promove, no dia 8 de maio, o curso “Investimento de Impacto e Empreendedorismo”, em São Paulo. O objetivo da formação é apresentar os conceitos de investimento de impacto (impact investing) e negócios sociais, além de debater as premissas, princípios e métricas que devem guiar seu desenvolvimento.

Durante o curso, serão apresentados exemplos no Brasil e no mundo deste tipo de iniciativa, como a da Omidyar Network.

A abordagem mais inovadora que eu conheci atuando no país é a da Omidyar Network, um fundo de investimento de impacto internacional que começou a atuar no país há dois anos. Eles utilizam uma estratégia mista de investimento com fins lucrativos e doações. Os investimentos são realizados em empresas com um bom modelo de negócio, um impacto social comprovado e o potencial de se tornar um grande exemplo. Essas empresas sociais inovadoras, geralmente, atuam como pioneiras, tendo de criar todo um mercado novo. É aí que as doações entram. As doações são realizadas em outras organizações que contribuem para a construção do ecossistema em que as investidas atuam. Tanto os investimentos, quanto as doações, são realizadas pelas mesmas equipes. A abordagem, a cobrança de resultados e as métricas são as mesmas para os dois casos. A Omidyar avalia estrategicamente como seus investimentos irão colaborar para desenvolver todo um setor de negócio e não apenas a organização que receberá o recurso”, explica Renato Kiyama, diretor da ARTEMISIA e consultor do curso.

Na formação, os participantes terão ainda a oportunidade de conhecer mais os formatos de avaliação de um negócio social, como investidores avaliam o potencial de uma empresa de impacto e quais são os desafios práticos vividos pelos empreendedores durante o começo do desenvolvimento de seus empreendimentos.

As inscrições para o curso podem ser feitas pelo site do GIFE. A formação tem uma carga horária de oito horas e será realizada no Instituto Itaú Cultural – Av. Paulista, 149 – Jd. Paulista.

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