Insegurança alimentar e mudanças climáticas são crises combinadas e que distanciam mundo de acabar com a fome

Por: GIFE| Notícias| 10/06/2024

No Climate Solutions Forum, debate com Erin Sikorsky, Diretora do Center for Climate & Security (virtual) - André Degenszain, Diretor Executivo, Instituto Ibirapitanga - Asma Lateef, Chefe de Impacto de Política e Advocacia, SDG2 Advocacy Hub - Joan Jamisolamin, Instituto Samdha - Mike Oliveira, Gerente Sênior de Programas da Porticus - Ricardo Abramovay, Professor da Universidade de São Paulo e da Cátedra Josué de Castro - Renata Miranda, Secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativas do Ministério da Agricultura - Allison Robertshaw, Estrategista e Implementadora de Mudanças Climáticas da Comic Relief

Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. O mundo tem pouco mais de cinco anos para cumprir essa tarefa, se quiser atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da Agenda 2030 da ONU. 

Para Asma Lateef, chefe de impacto de política e advocacia do SDG2 Advocacy Hub, as coisas não estão indo bem. Ela foi uma das participantes do F20 Climate Solutions Forum (CSF) 2024, que aconteceu no Rio de Janeiro entre os dias 4 e 6 de junho para debater este e outros temas.

Ela explica que a primeira coisa a esclarecer é que para ter qualidade de vida, não basta qualquer alimento. É preciso oferecer, além de calorias, nutrientes. A representante do SDG2 explica que a mudança do clima torna os alimentos nutritivos ainda mais caros, e afeta o teor de nutrição dos cultivos agrícolas.

A solução para o problema perpassa os pequenos agricultores, aponta Asma Lateef. Isso porque diminuir o tamanho das cadeias de produção alimentares reduz os Gases de Efeito Estufa (GEE), além de contribuir financeiramente para as comunidades rurais.

Para André Degenszajn, diretor do Instituto Ibirapitanga, a questão da saúde também precisa entrar na conversa. “Se não agregarmos as mudanças climáticas ao olhar para a obesidade e desnutrição, pensaremos soluções que podem funcionar para mitigação de emissão GEE, mas produzir nova carga de impactos, principalmente sobre as populações vulneráveis.”

“O sistema que nos alimenta está alimentando a crise climática”

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, 31% das emissões de GEE a partir do homem são feitas pelo sistema agroalimentar mundial. Em 2023, um estudo do Observatório do Clima revelou que mais de 80% da emissão do Brasil vem dos sistemas alimentares.

O sistema em questão é baseado na monotonia. Ou seja, as dietas são cada vez menos diversificadas: 66% do consumo global vêm de apenas nove culturas. Essa demanda gera uma produção igualmente monótona, que agride o meio ambiente. 

Diante desse quadro, a secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Renata Miranda, é categórica: o que nos trouxe até aqui não vai nos levar ao futuro. “Seríamos capazes de alimentar toda população em insegurança alimentar. Isso não acontece por desigualdade social, falta de estrutura de distribuição e de energia”, enfatiza, reforçando a necessidade de frear a utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia. 

Legados para o G20 

Uma das iniciativas da presidência brasileira do G2O é a Força-tarefa para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Para Asma Lateef, o G20 tem potencial para fortalecer a agenda. “A experiência brasileira de redução da insegurança alimentar nos anos 2000 mostra que com vontade política, recursos, abordagens inovadoras é possível alcançar grande impacto em pouco tempo.”

Ricardo Abramovay, professor da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da USP, destaca duas mensagens para o G20. A primeira é que o mundo não precisa desmatar para alcançar serviços ecossistêmicos sustentáveis e produção alimentar saudável.

Já a segunda é um alerta sobre o consumo de ultraprocessados e o avanço da obesidade nas populações mais pobres do mundo. “A humanidade conhece sete mil produtos cultiváveis ou coletados, no entanto 75% das calorias que hoje consome vem de seis produtos. A monotonia é um problema com o qual hoje felizmente as mais importantes fundações filantrópicas do mundo estão comprometidas a combater.”

Ainda sobre o papel da filantropia, Mike Oliveira, gerente sênior de Programas da Porticus, aposta na capacidade do setor para elevar as vozes do Sul Global. “Geralmente nossa narrativa de sistemas alimentares é baseada no que o Norte Global produz. O G20 é uma oportunidade para criar nossa narrativa.” 


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