Instituto DNA Brasil quer dar visibilidade às questões estruturais do país

Por: GIFE| Notícias| 02/05/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Na última terça-feira (26/4), em São Paulo (SP), o Instituto DNA Brasil promoveu o lançamento de um livro, uma cartilha e um DVD que abordam as principais questões e polêmicas a respeito do desenvolvimento brasileiro. Os produtos são resultado do I Fórum DNA Brasil, que reuniu 50 personalidades nacionais em Campos do Jordão (SP), em setembro de 2004, para três dias de reflexão sobre a vocação e o futuro do país.

O livro narra os momentos mais importantes de cada sala temática e relata toda a dinâmica do evento, inédita no Brasil. A cartilha, voltada para os alunos do ensino médio, sugere atividades para a sala de aula, a partir das idéias e provocações expressas pelos convidados durante o fórum. O DVD é fruto do registro em vídeo feito durante as discussões.

Criado durante o fórum, o Instituto DNA Brasil tem como missão repensar o país estrategicamente, de forma sistemática e interdisciplinar. Para isso, reúne especialistas de diversas áreas, como antropólogos, artistas, biólogos, economistas, empresários, estudantes, físicos, geógrafos, líderes comunitários, matemáticos, médicos e religiosos.

O presidente executivo da organização, Caio Túlio Costa, fala ao redeGIFE sobre os objetivos do DNA Brasil e como eles serão trabalhados. Ele explica que a intenção não é discutir questões conjunturais, mas sim as estruturais, buscando aprofundar os assuntos e dar visibilidade a eles.

redeGIFE – Como e quando surgiu a idéia do fórum e da criação do instituto?
Caio Túlio Costa – A idéia surgiu em 2003, por uma necessidade de se fazer alguma coisa para pensar o Brasil de forma estratégica e em longo prazo. Isso aconteceu a partir de uma reunião comigo, Ricardo Semler, Horácio Lafer Piva, Emerson Kapaz, Leão Serva, Gilson Schwartz, Hugo Marques da Rosa e Eduardo Giannetti da Fonseca. Depois, se agregou ao grupo o João Sayad. Esse é o comitê idealizador do evento que, no ano passado, reuniu 50 entre as melhores cabeças brasileiras para pensar o Brasil nos próximos anos, os desafios que temos pela frente e o que deve ser feito agora para que, daqui a 50 anos, tenhamos um país com qualidade de vida, boas condições ambientais, distribuição de renda, enfim, com pessoas felizes e vivendo bem. A partir desse evento, criou-se o Instituto DNA Brasil, que agora já está em pleno vôo.

redeGIFE – Qual a função original do instituto?
Costa – Ele foi pensado para ser um “”think tank“”, reunir boas cabeças e pensar o Brasil estratégica e interdisciplinariamente. O instituto não discute questões conjunturais, apenas estruturais. Para isso, fazemos reuniões das quais se extrai o que chamamos de inteligência coletiva. Isso resulta em alguns produtos, como os que lançamos agora – livro, cartilha e DVD -, papers e unidades de reflexão, que aprofundam os assuntos levantados nos encontros anuais e servem de base e documentação para as próximas reuniões. Com isso, atende às necessidades de seus conselheiros e patrocinadores e pretende ter alguma influência em políticas públicas.

redeGIFE – Existe algum diálogo com o governo sobre essas propostas?
Costa – Não temos essa preocupação. A idéia é aprofundar os assuntos e dar visibilidade a eles. Não há o objetivo de negociar com o governo, instituições ou empresas. O instituto produz inteligência.

redeGIFE – Quando se trata dos objetivos do instituto, fala-se sobre identificar a vocação do Brasil. Neste primeiro encontro, já conseguiram descobrir?
Costa – O nome DNA Brasil vem daí. Começou-se a pensar neste sentido. Uma das unidades de reflexão, inclusive, está buscando essa identidade nacional brasileira. Eu diria que, no primeiro encontro, ficamos mais voltados às questões clássicas da visão que o Brasil tem de si mesmo. O mais importante ali foi o fato de termos chegado à conclusão de que não há como dissociar o Brasil da nova condição hegemônica internacional e que o país ainda é um dos poucos que pode pensar em desenvolvimento nacional. Somos um dos poucos países que preservou o meio ambiente, por exemplo, e isso faz parte do nosso DNA. Deve fazer parte da nossa vocação preservá-lo.

redeGIFE – Um evento que tem como objetivo principal pensar o Brasil nos próximos anos acaba gerando algumas expectativas de propostas concretas para o país. Isso foi possível?
Costa – Eu diria que este primeiro evento foi para aprofundar as nossas discussões e entender o que vamos discutir daqui pra frente. Dali, não surgiu nenhuma proposta concreta, mas surgiram várias idéias e debates, que neste segundo ano estão sendo aprofundadas. Imaginamos que alguma coisa mais concreta pode sair dos próximos eventos, mas não existe essa preocupação, porque indicamos desafios a serem vencidos, apontamos caminhos. Não existe nenhuma carta de princípios ou de ação.

redeGIFE – Você falou sobre as unidades de reflexão. As atividades do instituto estão baseadas em 15 delas, definidas pelos convidados durante a plenária final do evento. De que maneira elas serão trabalhadas?
Costa – Cada presidente tem a liberdade de definir como a unidade trabalha. Por exemplo, a unidade “”Nós e o Mundo”” – que tem como presidente o Jorge Forbes e discute a identidade nacional, como ela é vista lá fora e como o país deve se relacionar com as potências estrangeiras – já fez uma reunião de aprofundamento, na qual as pessoas discutiram os primeiros temas nascidos em Campos do Jordão e estão lançando novos assuntos a serem levados de volta pra lá. Uma outra que já está trabalhando e tem como presidente o Paulo Henrique Amorim também está no aprofundamento de temas. Ele reuniu especialistas em comunicação para tratar dos temas futuros com relação à mídia no Brasil e está sendo desenhado um mapa da mídia. Uma das próximas unidades a se reunir é a de política, que deve ter o mesmo formato, reunindo especialistas para discutir questões como obrigatoriedade do voto e financiamento de campanha. O João Pedro Stedile, presidente da unidade de “”Exclusão Social””, reúne um pessoal em junho. Agora em maio, a Ísis Lima Soares deve reunir pessoas para debater a educação. Fernando Reinach está trabalhando com pesquisa e levantando toda uma documentação relativa à sua unidade, que é “”Propriedade Intelectual e Competitividade””.

redeGIFE – O que é o Índice DNA Brasil e como ele funcionará?
Costa – O índice foi criado em Campos do Jordão a partir de uma visão de como o Brasil deve estar daqui a 25 anos, segundo 24 indicadores de sete áreas: bem-estar econômico, competitividade econômica, condições socioambientais, realidades da educação e da saúde, coesão social e proteção social básica. Cada um dos participantes disse como aqueles indicadores que estavam mais próximos de sua especialidade deveriam estar para que o Brasil estivesse 100%. Todo ano mediremos como o país estará em relação a isso. Nesse primeiro encontro, foi identificado que estamos a menos da metade (46,8%).

redeGIFE – Como conseguir reunir pessoas tão importantes e de especialidades tão diversas para um diálogo como esse?
Costa – Foi muito trabalhoso, houve uma preparação muito grande de nossa parte, foram vários meses de contatos para conseguir reunir este pessoal. Com a ajuda da empresa de consultoria Accenture e da Unicamp (Universidade de Campinas), nossos parceiros, foram feitos treinamentos do que chamamos de agentes provocadores. Eram pessoas que conheciam mais profundamente a obra, os pensamentos, as concordâncias e discordâncias dos participantes e tinham a função de abordá-los nos corredores, nos intervalos, exatamente para trançar as informações que estavam sendo veiculadas nas salas temáticas, nas salas de debates e nas plenárias, para fazer com que um grupo tão heterogêneo pudesse produzir inteligência ou que se pudesse extrair deles o que chamamos de “”inteligência coletiva””.Também foram usados diversos métodos de aproximação do pessoal, para quebrar o gelo, como saírem em dupla para conversar e, na volta, cada um apresentar o outro a partir da infância. Ou nos colocarmos dentro de uma orquestra, para ver como ela funciona a partir de determinados comandos de um maestro, além de vários outros instrumentos utilizados para permitir que o grupo trabalhasse bem. Acho que conseguimos isso e o livro reflete bastante essas discussões. Nas salas temáticas foram discutidas questões fundamentais para o Brasil, como preservação do meio ambiente, trabalho, longevidade, pirataria, taxação, impostos, futuro da política, consumo, religião, mídia e toda a questão internacional, entre outras.

redeGIFE – Os próximos encontros devem reunir as mesmas pessoas?
Costa – Basicamente sim, mas agregando sempre outras cabeças. Por exemplo, o próximo evento, que estamos prevendo para o meio do ano, reunirá 50 brasileiros conforme a divisão socioeconômica feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pessoas de diversas partes do Brasil, representando a quantidade de homens e mulheres, a divisão de renda, de instrução escolar e racial. Eles irão discutir os mesmos temas e isso será levado para a reunião dos 50 conselheiros, que acontecerá em outubro, novamente em Campos do Jordão.

redeGIFE – A participação da sociedade civil em geral, de empresas e ONGs nesta iniciativa deve ser desta forma? A idéia é ter outros encontros como este, reunindo outras pessoas?
Costa – Sim, encontros regionais e setoriais. Fazemos isso, inclusive, com a ajuda de muitas ONGs, fundações e institutos. Com a ajuda desses parceiros, estamos viajando o Brasil inteiro em busca de pessoas que correspondam a essa matriz de 50 brasileiros que representem a divisão socioeconômica.

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