Instituto EcoFuturo inaugura centésima biblioteca comunitária

Por: GIFE| Notícias| 17/11/2014

Após 15 anos de ação, o projeto Ler é Preciso do Instituto Ecofuturo acaba de atingir um marco importante. Na última semana foi inaugurada a 100a biblioteca comunitária da iniciativa, na Comunidade de São Felix, em Imperatriz, no Maranhão.

A nova biblioteca, a segunda do município, foi instalada na Escola Municipal São Félix e, além dos 126 alunos do ensino infantil e fundamental I e II, atenderá toda a comunidade do entorno, além das famílias e vizinhos do próprio povoado, que está localizado em um lugar de difícil acesso, a mais de 35 km do centro de Imperatriz.

O desenvolvimento do espaço contou com o apoio e envolvimento do poder público. A prefeitura, além de incluir a biblioteca como política pública, também é responsável pela sua manutenção, garantindo toda a infraestrutura, de reformas para a inauguração à internet, telefone, água, luz, material de escritório e renovação do acervo. A contratação dos funcionários que trabalharão nas ações locais de promoção de leitura também é responsabilidade do poder público.

Durante o processo de implantação da biblioteca, foram realizadas mobilizações comunitárias, oficinas de gestão e sustentabilidade, com foco na manutenção da biblioteca e cursos de capacitação (auxiliar de biblioteca e promotor de leitura).

Os cursos foram realizados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), parceira técnica do projeto, e contaram com a participação de 36 pessoas da comunidade e da escola. Assim como nas demais bibliotecas Ler é Preciso, a nova unidade do povoado de Imperatriz também será acompanhada pela Rede Ler é Preciso, que prestará assistência técnica e monitoramento à distância.

“Não nascemos sabendo e nem gostando de ler, por isso é preciso educar para ler desde a primeira infância, ler gêneros diversificados, ler literatura. E, sim, a biblioteca é a casa do leitor e suas portas devem estar escancaradas para ele!”, diz Christine Fontelles, diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo.

O projeto Ler é Preciso nasceu em 1999 com o objetivo de colocar a leitura e a escrita no dia-a-dia de crianças da rede pública. Por meio de articulações entre o poder público, empresas e comunidade, 100 bibliotecas comunitárias já foram implementadas, em onze municípios brasileiros. Hoje, boa parte da população alfabetizada não entende o que lê e não consegue se comunicar pela escrita. A ideia do projeto é justamente transformar esse cenário, preparando as crianças para atuar na sociedade do conhecimento a partir do domínio crítico da linguagem, base da autoestima e da cidadania. Por isso, o projeto é orientado para a formação de pessoas e a aquisição de um acervo de qualidade novo, focado na literatura infantil e juvenil.

O redeGIFE conversou com Christine Fontelles, diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo sobre o a importância dessa marca. Confira o bate-papo:

redeGIFE: Por que é tão importante alcançar essa marca?

Christine Fontelles: São 15 anos de Ecofuturo, completados em dezembro próximo e 100 bibliotecas em 11 estados Brasil adentro, bem Brasil adentro. Esta centésima, inaugurada na semana passada no povoado de São Félix, zona rural do Maranhão, é um bom exemplo disso. A biblioteca está localizada numa escola de ensino infantil e fundamental I e II e atenderá seus 126 alunos, a comunidades do entorno, onde moram cerca de 100 famílias, e dos povoados vizinhos, carentes de equipamentos de acesso à cultura e educação. Até hoje, trabalhamos por qualidade e não por quantidade. Como dizia Einstein, nem tudo que conta é contável e nem tudo o que é contável conta.

Isso não nos impediu de desenvolver uma pesquisa inovadora, de sustentabilidade e impacto das bibliotecas, que sob a coordenação de Ricardo Paes de Barros, à época coordenador de pesquisas do IPEA, atestou a importância do projeto no aumento do desempenho escolar e na redução da evasão escolar nas escolas do entorno do projeto. A 100ª biblioteca não será perfeita, mas ela contém o melhor de nós e do nosso trabalho, um trabalho bonito, comprometido e competente, realizado pela equipe do Ecofuturo, Daniele Juaçaba e Vanessa Espíndola, em profunda conexão com a equipe da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

redeGIFE: O que isso representa na trajetória do instituto e do projeto?

Christine Fontelles: Aprendemos, compartilhamos, monitoramos, avaliamos, reinventamos e desenvolvemos uma das formas de parceria inter e intrasetorial mais prósperas e persistentes que conheço, em matéria de implantar e fortalecer políticas públicas de bibliotecas abertas à comunidade pelo Brasil. Representa um trabalho cuidadoso, tecido a várias mãos, tocado com tenacidade e que tem muito conhecimento para compartilhar e muitas razões para celebrar.

redeGIFE: Quando o assunto é leitura, o que já mudou no cenário brasileiro nesses 15 anos?

Christine Fontelles: Há muito mais atenção ao tema da promoção da leitura do que existia em 1999. O Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) foi aprovado em 2011. Existe a Lei 12.244/10 que determina que até 2020 todas as instituições de ensino do país devem ter uma biblioteca, tema da campanha “Eu quero minha biblioteca”, uma iniciativa do Instituto Ecofuturo, baseada numa coalizão que envolve 10 organizações não governamentais (mais informações podem ser acessadas no site da campanha.

Muito mais ações estão sendo desenvolvidas pelo investimento social privado. Há mais bibliotecas públicas, embora ainda em quantidade e atendimento insuficientes. Existem importantes pesquisas que muito contribuem para pautar planos de ação, como o INAF e a Retratos da Leitura no Brasil – boa parte delas reunidas no Compêndio Leitura em Números produzido pelo Instituto Ecofuturo, em cooperação com a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), sob a coordenação de Ricardo Paes de Barros. O mercado editorial cresceu muito, em quantidade e diversidade.

redeGIFE: O que ainda precisa mudar?

Christine Fontelles: Ainda não estamos lendo mais e melhor, 63% das escolas não tem biblioteca, faltam bibliotecas públicas que cumpram a função social de formar leitores competentes, práticas leitoras diversificadas não estão no cotidiano de crianças, jovens e adultos, o índice de alfabetismo pleno não sai do patamar dos 26% registrados há dez anos.

A meu ver, precisamos, governo e sociedade, compreender que é preciso educar para a leitura desde a primeira infância e que ler requer esforço e disciplina; precisamos compor esforços para garantir o direito à leitura. E isso passa, inevitavelmente, pela família, pela escola e pela disponibilidade de boas bibliotecas abertas à comunidade.

redeGIFE: Qual a importância de engajar a sociedade civil nessa causa?

Christine Fontelles: Como disse Alberto Manguel em sua passagem por São Paulo na semana passada: “”Vivemos em uma sociedade de valores opostos à leitura, com propósitos financeiros. A leitura, que não tem proveito financeiro e requer tempo, paciência e concentração, é exatamente o contrário do que a sociedade valoriza”. Quando perguntado sobre o que devemos fazer para que os jovens leiam mais, disse, e eu concordo: “precisamos, enquanto sociedade, oferecer claras e concretas demonstrações de que ler é um valor social”. Ou seja, é absolutamente fundamental o engajamento consciente e planejado da sociedade civil para efetivar práticas sociais e políticas públicas de leitura e biblioteca eficientes.

Mais informações sobre o projeto Ler é Preciso podem ser obtidas no site do Instituto Ecofuturo.

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