Investidores sociais devem utilizar dados sobre analfabetismo em suas decisões

Por: GIFE| Notícias| 20/07/2012

Os investidores sociais responsáveis por influenciar políticas públicas devem usar os dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011, de uma forma mais aprofundada na tomada de decisão. A conclusão é de especialistas com base nos dados divulgados na última semana que apontam o descompasso entre o aumento de escolaridade e os a ganhos nas habilidades de leitura

O Inaf 2011, elaborado pelo Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, apontou que, durante os últimos 10 anos, houve uma redução do analfabetismo absoluto e da alfabetização rudimentar e um incremento do nível básico de habilidades de leitura, escrita e matemática. No entanto, a proporção dos que atingem um nível pleno de habilidades manteve-se praticamente inalterada, em torno de 25%.

Esses resultados evidenciam que o Brasil já avançou principalmente nos níveis iniciais do alfabetismo, mas não conseguiu progressos visíveis no alcance do pleno domínio de habilidades, que são hoje condição imprescindível para a inserção plena na sociedade letrada. Segundo a diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lúcia Lima, boa parte destes avanços é devida à universalização do acesso à escola e do aumento do número de anos de estudo. Com efeito, de acordo com dados censitários produzidos pelo IBGE, o número de brasileiros com ensino médio ou superior cresceu em quase 30 milhões na década 2000-2010.

Entretanto, os dados do Inaf levantados no mesmo período indicam que estes avanços no nível de escolaridade da população não têm correspondido a ganhos equivalentes no domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática. Somente 62% das pessoas com ensino superior e 35% das pessoas com ensino médio completo são classificadas como plenamente alfabetizadas. Em ambos os casos, essa proporção é inferior ao observado no início da década.

O Inaf também revela que um em cada quatro brasileiros que cursam ou cursaram até o ensino fundamental II ainda estão classificados no nível rudimentar, sem avanços durante todo o período. “Apesar dos avanços, tornam-se cada vez mais agudas as dificuldades para fazer com que os brasileiros atinjam patamares superiores de alfabetismo. Este parece um dos grandes desafios brasileiros para a próxima década”, avalia Ana Lúcia.

Para a coordenadora geral da Ação Educativa, Vera Masagão, os dados do Inaf mostram que a chegada de novos estratos sociais às etapas educacionais mais elevadas vem, muitas vezes, acompanhada da falta de condições adequadas para que estes estratos alcancem os níveis mais altos de alfabetismo, o que reforça a necessidade de uma nova qualidade para a educação escolar, em especial nos sistemas públicos de ensino. “Outro fator essencial para avançar é o investimento constante na formação inicial e continuada de professores, que precisam ser agentes da cultura letrada em um contexto de inovação pedagógica”.

Investidor Social
Outra pessoa a opinar sobre este assunto foi a gerente da Fundação Itaú Social, Isabel Santana. Ela chama a atenção para a contribuição que o investimento do Instituto Paulo Montenegro faz para a produção de informação qualificada, como o Inaf, pois neste cenário nasce uma contribuição para tomadas de decisões na área de políticas educacionais.

“É fundamental para os institutos e fundações, responsáveis das políticas públicas, usar esses dados (do Inaf 2011) de uma forma mais aprofundada na tomada de decisão em investimento social privado”, disse Isabel.

De acordo com ela, o investimento social privado no Brasil concentra grande parte de seus recursos na área da educação. Quando se observa que o aumento de escolaridade da população não é proporcional ao aumento de educação plena, e considera-se o volume de recursos investidos na área pela iniciativa privada pelo viés social, só é possível chamar de investimento se houver foco nos resultados.

Isabel cita algumas ações que poderiam ser feitas para melhorar este cenário de alfabetismo no Brasil:

– Possibilidade de sinergia entre institutos;
– Ações estruturadas de mobilização da sociedade para tornar este tema prioridade nos âmbitos públicos;
– Desenvolvimento e experimento de novas formas de aprendizagem;
– Trabalhar de forma parceira e vinculada às políticas educacionais que a secretaria de educação vem fazendo.

Para finalizar, Isabel apontou duas questões para se refletir sobre este cenário. Primeiro, estamos em plena discussão sobre o Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece várias metas, e uma forma de aprofundar este estudo é olhando os dados do Inaf. Segundo, as conclusões de que os avanços no nível de escolaridade da população não têm correspondido a ganhos equivalentes no domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática, é reflexo da má formação que os estudantes têm no ensino médio, que dificilmente conseguirão recuperar no nível superior.

A coordenadora do Instituto Ayrton Senna, Inês Kisil Miskalo, afirma que apesar de institutos, fundações e empresas terem ampliado continuamente os investimentos na educação brasileira, é preciso que essas instituições realizem um papel mais importante: expor o quanto o fracasso educacional compromete o desenvolvimento do país, mobilizar vontades e influenciar políticas públicas efetivas e eficazes, capazes de romper o fracasso educacional, notadamente no quesito alfabetização.

“”Saber ler, escrever, contar e entender a natureza e seus fenômenos deve fazer parte da formação de crianças e jovens, tanto quanto saber relacionar-se, resolver problemas cotidianos, acessar e selecionar informações e posicionar-se criticamente. É uma tarefa educacional gigantesca e estratégica para o desenvolvimento do país, que vai muito além das habilidades de leitura, escrita e matemática, e que não pode ser responsabilidade apenas dos profissionais da educação, ou do setor governamental, mas sim de todos os setores da sociedade. Daí a importância da participação dos institutos, das fundações e das empresas, em uma ação de corresponsabilidade social””.

De acordo com ela, as instituições podem colaborar em duas frentes: para que as práticas gestoras de diagnóstico, planejamento, gerenciamento da execução e avaliação de processos e resultados sejam elementos constituintes das políticas públicas; e podem disponibilizar ferramentas gerenciais que facilitem o estabelecimento e o alcance de metas e a eficiência do processo.

Em relação a assegurar que o tema alfabetismo tenha prioridade nas políticas públicas, Inês ressalta três importantes pontos:

– É preciso demonstrar a necessidade de se ter educação de qualidade como prioridade, pois os investimentos feitos em educação reduzem os custos econômicos e sociais, e são os que trazem os maiores retornos financeiros a médio e longo prazo. Mostrar para os governantes que investir em educação é um “bom negócio”, é essencial para lhe dar o status de prioridade.

– Oferecer ao setor público ações que possam ser executadas sob a forma de política pública, ou seja, levadas a qualquer estado ou município brasileiro.

– Acompanhar os processos e tornar públicos os resultados, sempre em relação às metas inicialmente propostas.

“”Tornando o poder público responsável pelo desenvolvimento e resultados é a forma de se garantir prioridades, pois ele deixará de sê-lo no momento em que o “problema” for solucionado””, conclui Inês.

Saiba mais no site do IBOPE e veja a reportagem divulgada no Jornal Nacional.

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