Investidores sociais privados buscam mais articulação e participação nas políticas públicas para jovens

Por: GIFE| Notícias| 16/08/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Na última quinta-feira (12/8), membros da rede GIFE que têm atuação voltada para a juventude estiveram reunidos na sede da organização, em São Paulo, com o objetivo de discutir a possibilidade de uma atuação mais articulada nessa área, tanto no campo político quanto por meio de parcerias em projetos.

Como resultado da reunião, foi criado o Grupo de Afinidade de Juventude, do qual já fazem parte a ACJ Brasil, os bancos JP Morgan e ABN Amro, as fundações Abrinq, BankBoston, Iochpe, Kellogg, Lemann e Orsa e os institutos Ayrton Senna, C&A, Credicard, Gtech, Hedging-Griffo, Pão de Açúcar, Unibanco e Votorantim.

Os grupos de afinidades são espaços para a interação entre os associados do GIFE, por meio da troca de experiências e de debates. Além desse grupo recém-criado, há os que tratam de Educação e Marco Legal, entre outros. Os trabalhos realizados pelo primeiro, por exemplo, deram origem ao Guia GIFE sobre Investimento Social Privado em Educação, lançado em 2003.

Durante o encontro, a presidente do Instituto Aliança com o Adolescente, Neylar Lins, apresentou dados e discutiu com os representantes das organizações o cenário das políticas públicas de juventude no Brasil e as possibilidades de articulação. Ela mostrou ações do Estado, organismos internacionais, ONGs, redes e de movimentos e organizações de jovens.

Segundo Neylar, o país jamais viveu um momento tão importante para a participação da sociedade nas políticas públicas para a juventude como o atual. “”O Brasil é um dos países mais atrasados em estruturas para a discussão de políticas para a juventude. É a primeira vez que se abre espaço para este debate.””

À reportagem do redeGIFE ela explicou que existem ações alternativas, que beneficiam diretamente a comunidade, e alterativas, capazes de modificar a estrutura da política do governo para a universalização daquela ação. Para ir de uma ação alternativa para uma alterativa, é necessário haver uma decisão política do investidor, além de um certo grau de poder e de influência. “”Nem todas as instituições podem assumir ações alterativas. Mas há empresas que, como negócio, têm papel estratégico no campo econômico do país. Cabe a elas fazer algo apenas alternativo? Será que eu só devo ser estratégico no campo econômico e fazer qualquer coisa alternativa no campo social?””, questiona Neylar.

De acordo com a gerente do Instituto Votorantim, Daniela Fonseca dos Reis, os poderes político e econômico das empresas e de seus institutos e fundações são mesmo significativos. “”Se unirmos a capacidade de transformação dos nossos investimentos ao potencial de influência política das nossas organizações, passamos a ter, juntos, uma grande oportunidade de contribuição para um país melhor, mais justo e igualitário””, avalia.

Para ela, as ações sociais para a juventude ainda são feitas de maneira fragmentada, pontual e desarticulada. Porém, se os investidores sociais privados definirem como missão o desejo de contribuir para o aprimoramento, o fortalecimento e a construção das políticas públicas, este quadro será mudado. “”Se temos a receita do sucesso, podemos aplicá-la em escala. Articulação, construção coletiva de solução, engajamento e comprometimento são palavras-chave quando as organizações atuam unidas. Não basta cada um fazer a sua parte. Há que se ter um comprometimento com o todo. Isso só pode ser feito em conjunto. A atuação isolada traz resultados também isolados.””

O Instituto Votorantim tem o jovem como público-alvo, articulando projetos nas áreas de educação, saúde, esporte, meio ambiente e cultura, buscando promover o seu desenvolvimento no âmbito da família, da escola, da comunidade e da sociedade em geral.

É necessário que as organizações acompanhem e analisem os impactos destes movimentos e as decorrências em suas ações. Neylar Lins, em sua apresentação para os associados GIFE, resumiu em três etapas a atuação da sociedade civil nas políticas públicas para a juventude: conhecimento, participação e influência. “”Legitimidade se constrói no processo. É preciso conhecer e participar sempre para conseguir influenciar.””

A partir daí, com ações articuladas e focos de interesse comuns, garante-se alcance e impacto cada vez maiores e mais coordenados, de acordo com a superintendente de projetos da ACJ Brasil, Jaqueline de Camargo. A ACJ é afiliada à United Way e tem como estratégia de atuação a educação dos jovens, contando com o esforço conjunto de empresas como DuPont, Gillette, Invista, Johnsons, Leo Burnett, PricewaterhouseCoopers, Procter and Gamble, Rhom and Haas e os bancos CSFB e Morgan Stanley, entre outras.

Jaqueline lembra ainda que, em se tratando de ações para a juventude, as questões de educação e trabalho são fundamentais. “”A entrada no mundo do trabalho é uma das chaves mais importantes para a criação de oportunidades reais de inclusão social e ampliação de suas perspectivas de vida. Isso se deve a duas tarefas sócio-existenciais para todos: a construção da identidade e a construção de um projeto de vida.””

Força transformadora – Simone André, coordenadora da área de juventude do Instituto Ayrton Senna, concorda que não é possível construir identidade e um projeto de vida sem uma educação de qualidade. “”Desse modo, arte, esporte, tecnologia digital, profissionalização e saúde são ações necessárias e urgentes, mas sempre mediadas por um processo educativo””, explica. Para ela, o reconhecimento da força transformadora da juventude e a criação de oportunidade para o seu desenvolvimento humano são estruturantes. “”É necessário termos uma política de juventude na qual o jovem seja reconhecido como parceiro do seu desenvolvimento e de sua comunidade.””

Para participar, o jovem necessita de formação completa, em todas as suas dimensões, como lembra Samara Werner, gerente do Instituto Telemar. “”Todas as áreas devem necessariamente passar por uma ação educativa, buscando formar um jovem autônomo, solidário e competente, para que possa exercer plenamente os seus direitos e deveres como cidadão e contribuir para a construção de um país mais justo.””

Renata Cavalcanti, analista de recursos humanos e responsabilidade social do banco JP Morgan, também entende que essa formação deve estar na base de qualquer ação voltada para a juventude. “”A cada geração, novas tecnologias e necessidades sociais estão postas como desafios para o melhor desenvolvimento e realização do jovem que está aí. Não basta apoiarmos ações até a criança completar 12, 13 anos. É necessária especial atenção para este jovem que continua em busca de formação.””

A gerente de responsabilidade social do Instituto Unibanco, Silvia Cerveira, completa que é preciso criar possibilidades de atuação para o jovem no mercado de trabalho. “”O conhecimento, a capacitação e o exercício da cidadania de nada valem se ele não puder obter uma forma de geração de renda e de se sentir parte da sociedade, contribuindo com seu trabalho produtivo.””

Por isso, Vanessa Weber Leite, coordenadora de responsabilidade social da Basf, defende a existência de alternativas diferenciadas para a geração de emprego, renda e sustentabilidade financeira, além de ações em torno da valorização da diversidade. “”Logo, faz-se necessário incorporar nas iniciativas de investimento uma discussão mais ampla. O jovem brasileiro tem fome de comida e de sonhos. Suprir as necessidades básicas é prioridade, mas o sonho de desenvolvimento profissional e humano não fica de lado.””

A questão profissional deve ser encarada como desenvolvimento pessoal em suas várias dimensões, e não apenas uma questão de sobrevivência imediata. É o que afirma Beth Callia, coordenadora do projeto Formare, da Fundação Iochpe. Para ela, a sociedade deve exigir que o Estado cumpra o seu papel ao garantir os direitos fundamentais das crianças e dos jovens do país. “”As empresas, fundações e os institutos, por meio de seus investimentos sociais, assumem outro papel: o de criar programas bem-sucedidos de jovens, com jovens e para jovens, que deverão inspirar, subsidiar ou complementar políticas públicas na área de educação, cultura e saúde.””

Participação – A criação e a revisão de políticas públicas, de acordo com a diretora executiva do Instituto Hedging-Griffo, Silvia Morais, devem partir de um consenso e da união democrática de forças entre governo, empresas, institutos, fundações e organizações de base que atuam com a juventude, além dos principais atores envolvidos: os próprios jovens. “”São visões distintas que se complementam e podem proporcionar maior qualidade às políticas públicas””, explica.

Para ela, é importante partir de um diagnóstico, estabelecendo prioridades para construir uma agenda única em favor da juventude. “”É necessário elevar a qualidade da intervenção social que as organizações empresariais têm promovido em favor da juventude. Elevar o valor investido sem repensar a qualidade não provocará o impacto social necessário nessa área.””

Silvia Cerveira, do Instituto Unibanco, entende que a criação de novas políticas públicas somente deveria ser feita para projetos de alto impacto e multiplicabilidade, testados e com resultados comprovados. Além disso, Neylar Lins lembra que, há muito tempo, as empresas sabem que, para influenciar determinadas questões que facilitem ou estimulem seus negócios, precisam fazer lobby.

“”Todas as grandes empresas têm lobistas dentro do governo, trazendo informações, defendendo seus interesses e influenciando. Na área social é a mesma coisa. Não é possível influenciar sem uma ação específica de advocacy. Se as grandes empresas que fazem investimento social querem trazer para essa área o que de melhor há no mundo empresarial, que tenham pensamento estratégico de seus investimentos. E, se querem influenciar políticas públicas, que tenham ações sistemáticas de advocacy pelas causas que defendem.””

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