Investimento no fortalecimento de organizações contribui para a profissionalização do 3º setor

Por: GIFE| Notícias| 28/06/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

ALEXANDRE DA ROCHA
Subeditor do redeGIFE

Com a crescente demanda pela profissionalização do terceiro setor, muitas empresas, institutos e fundações estão investindo no fortalecimento das organizações da sociedade civil, em vez de financiar exclusivamente projetos de atendimento.

No Brasil, o investimento nesta área ainda não é tão comum como em educação, por exemplo. Mas financiar ou desenvolver ações de fortalecimento institucional já é uma realidade. Segundo o estudo Recursos Privados para Fins Públicos -As Grantmakers Brasileiras, uma radiografia sobre a atuação dos financiadores de projetos no país, 35,5% dessas organizações financiam projetos dessa temática. Entre os associados do GIFE, o percentual é maior (43,7%), e só fica atrás de educação (85,4%) e cultura (56,2%).

“”Ao investir no fortalecimento institucional, a capacidade de fazer acontecer fica instalada na instituição, possibilitando que ela realize melhor qualquer projeto específico””, afirma Neylar Lins, superintendente do Instituto Aliança com o Adolescente e conselheira político-estratégica do GIFE.

Ana Toni, representante da Fundação Ford no Brasil, concorda com Neylar. “”Apostar em uma instituição é muitas vezes muito mais significativo do que apostar em um projeto. A possibilidade de um projeto ′dar certo′ e de poder aprender com os seus erros e acertos depende muito da organização que o implementa””, avalia.

O Instituto Aliança com o Adolescente e a Fundação Ford são duas organizações que apostam no fortalecimento de organizações da sociedade civil. Criado a partir de quatro instituidores, sendo três associados do GIFE (Fundação Kellogg, Fundação Odebrecht e Instituto Ayrton Senna) e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o Instituto Aliança com o Adolescente investe na formação de uma nova geração de jovens, mais solidária, produtiva e capaz de liderar um processo irreversível de transformação social no Nordeste brasileiro, influenciando na formulação de políticas públicas de apoio ao desenvolvimento local.

Para isso, a organização investe no fortalecimento de organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs) em três regiões nordestinas: Baixo Sul (BA), Bacia do Goitá (PE) e Médio Jaguaribe (CE). “”Mais do que o domínio de instrumentos de gestão, trata-se de despertar uma consciência e provocar reflexões que possibilitem às pessoas maior efetividade no cumprimento da missão de suas instituições. Percebemos que estes responsáveis só assumem este compromisso quando têm uma preocupação com o desenvolvimento contínuo de sua instituição, e não apenas com a sua sobrevivência””, conta Neylar Lins. Hoje, o instituto também conta com o apoio do Instituto Votorantim e do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para ações específicas.

No Brasil, a Fundação Ford tem sido fonte de apoio financeiro a pessoas e organizações comprometidas com o progresso humano, a consolidação da democracia e a redução da pobreza e da injustiça. Por meio do fortalecimento de instituições, a fundação busca iniciativas com respostas inovadoras para as questões sociais e ambientais que mais afligem o país. O próprio GIFE, durante dois anos, foi financiado pela Fundação Ford.

Ana Toni acredita que a profissionalização do terceiro setor tem colocado o tema do fortalecimento das organizações na pauta dos investidores e das ONGs. “”Há uma demanda crescente do público pela eficiência financeira, indicadores de performance etc. Para dar conta, as organizações estão cada vez mais dando ênfase ao fortalecimento institucional””, avalia a representante da Fundação Ford no Brasil.

Sustentabilidade – Em 1999, a Fundação Acesita deu início ao Programa Vale Cidadania. O objetivo é fortalecer as organizações sociais situadas no Vale do Aço, em Minas Gerais, que atendem diretamente crianças, jovens e adultos de baixa renda e em situação de risco social, criando, ao mesmo tempo, uma rede que possa promover o desenvolvimento do terceiro setor na região.

Anfilófio Salles Martins, presidente da Fundação Acesita, conta o efeito multiplicador da iniciativa. “”O programa beneficia 41 entidades, que possuem cerca de 1.268 colaboradores, entre empregados e voluntários, e que atendem aproximadamente 10 mil beneficiários diretos.””

Entre as ações desenvolvidas estão a capacitação da equipe das organizações, orientações quanto à administração do trabalho voluntário, estímulo à formação de redes, informatização das entidades e apoio a projetos de melhoria da qualidade do atendimento. O destaque vai para a geração de recursos para as organizações. “”A dependência financeira é uma situação conhecida pelas entidades que têm pouco ou quase nenhum controle sobre os recursos que determinam sua ação. O exemplo mais claro é o da entidade que perde o vínculo com seu único ou mais importante patrocinador e se percebe despreparada para continuar subsistindo sem esse apoio””, conta Salles.

Para isso, a fundação criou um fundo de apoio a pequenos projetos e ações emergenciais e estimula a transição de uma cultura de relativa dependência para uma cultura de auto-sustentação. “”O maior diferencial está na possibilidade de minimizar a dependência, alcançando uma situação na qual as entidades possam ser capazes de gerar os recursos de que necessitam. No entanto, não é um processo fácil. Aí está o desafio do projeto””, afirma Salles.

Destaca-se ainda no Programa Vale Cidadania o desenvolvimento de um trabalho permanente de avaliação, sistematização e disseminação dos resultados, fazendo com que outras instituições sociais conheçam o programa e possam acompanhar sua evolução.

Aprendizado mútuo – A Fundação Otacílio Coser costuma assessorar as organizações comunitárias parceiras em seus projetos sociais. Karla Mendes, coordenadora de projetos sociais, conta que o objetivo é compartilhar o conhecimento em gestão acumulado pelo Grupo Coimex, mantenedor da fundação, para que as entidades possam desenvolver habilidades e capacidades para melhor administrar e potencializar os investimentos sociais realizados.

Porém, ela ressalta que o aprendizado não é em mão única e destaca ganhos para a fundação. “”A flexibilidade é a principal aprendizagem no relacionamento com as organizações sociais. A realidade comunitária é muito dinâmica e repleta de necessidades. Isso estimula também o desenvolvimento de outras características nessas instituições – a criatividade e a capacidade de transpor obstáculos – que nos fazem refletir e aprender.””

O Instituto C&A também aponta o aprendizado mútuo como um dos benefícios do investimento no fortalecimento de organizações. Entre outras ações, a organização investe no aprimoramento da estrutura de governança, elaboração do plano de comunicação e construção da proposta metodológica.

O diretor do instituto, Paulo Castro, diz que, ao longo dos anos, o instituto aprendeu que a construção de alianças com as organizações sociais possibilita uma maior compreensão dos diferentes contextos, acesso a diferentes propostas metodológicas e a construção de um marco conceitual. “”A verdade é que esta experiência nos motivou a não termos projetos próprios, mas construir a nossa participação através das parcerias institucionais.””

Associe-se!

Participe de um ambiente qualificado de articulação, aprendizado e construção de parcerias.

Apoio institucional