Investimento privado nas ONGs de saúde

Por: GIFE| Notícias| 19/02/2007

Eduardo de Almeida Carneiro*

Não há exagero quando se afirma ser a precariedade dos serviços médico-hospitalares públicos um dos mais graves problemas brasileiros. A maioria da população (150 milhões de habitantes) é assistida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e apenas 21% (40 milhões) têm acesso à medicina privada, principalmente por meio do seguro-saúde.

Além de atentar contra a qualidade de vida, a debilidade do SUS provoca danos econômicos: é de R$ 420 milhões anuais o prejuízo provocado pelo tempo de trabalho perdido pelos pacientes nas filas do atendimento, demonstra estudo do IPEA. Os 5.864 hospitais e as clínicas do sistema registram 11,6 milhões de usuários/dia, incluindo consultas, exames e internações, mas a espera média nas filas é de quatro dias e 12 horas. Seu custo é de 29 a 58 reais por pessoa, variando conforme a idade e a renda.

Os dados ampliam o significado da cidadania empresarial, que, felizmente, evolui no Brasil, onde o Terceiro Setor cresceu 71%, entre 1995 e 2002, segundo relatório do Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV), em parceria com The Johns Hopkins Center for Civil Society Studies, instituição norte-americana que estuda as organizações sem fins lucrativos. O número de instituições passou de 190 mil para 326 mil. Estudo do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) demonstra que 462 mil empresas brasileiras (59% do total nacional) declaram realizar, em caráter voluntário, algum tipo de ação para a comunidade, investindo nisso R$ 5 bilhões/ano.

Entretanto, os projetos de saúde incluem-se entre os que, proporcionalmente, recebem menor atenção: 54% das empresas que declaram aplicar recursos investem em ações de assistência social; 41% contemplam alimentação e abastecimento; 19%, educação e alfabetização; 19%, desenvolvimento comunitário e mobilização social. Apenas 17% informam investir na saúde, que empata com esportes e fica à frente apenas da cultura, com 14%. Há organizações que atuam em mais de um segmento.

Os números sugerem haver uma interpretação equivocada da realidade das ONGs da saúde, como se instituições bem geridas, com visibilidade na mídia, instalações e tecnologia de bom nível e fontes permanentes de receita não precisassem do apoio da sociedade e das empresas. Por conta dessa distorção de imagem, certamente ligada a um fenômeno de comunicação e jamais à má vontade da comunidade, várias organizações enfrentam problemas para atender à demanda. Assim, além da mobilização cívica no sentido de que o Estado cumpra seu dever constitucional, é importante ampliar o apoio da iniciativa privada às organizações do Terceiro Setor que atuam na saúde.

*Eduardo de Almeida Carneiro, empresário, é o presidente voluntário da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).

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