Investimento social privado cresce na região sul do país

Por: GIFE| Notícias| 29/09/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Lançada em agosto pela Fundação Semear, a pesquisa Responsabilidade Social Empresarial no Rio Grande do Sul apontou que 81,1% das 445 empresas que responderam ao questionário fazem algum tipo de investimento social na comunidade. O resultado confirma uma tendência das organizações do Sul em reconhecer a importância de suas ações para o desenvolvimento social da região, apesar de ainda necessitarem de mais planejamento nessa área.

Em 2001, a pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), indicou que a região Sul do país era a que tinha menor participação das empresas em ações para a comunidade: 46%. No Sudeste, 67% delas tinham atuação social, no Nordeste 55% e, nas regiões Norte e Centro-Oeste, 50%.

“”Isso pode ser atribuído à menor participação relativa das microempresas, sobretudo as do Rio Grande do Sul. Como lá existem muitas micro e pequenas empresas, essa participação mais reduzida faz baixar a média geral de participação da região””, explica a coordenadora do estudo do Ipea, Anna Maria Peliano. Segundo ela, o comportamento das grandes empresas do Sul é o mesmo daquelas da região Sudeste.

Maria Carolina Zani, diretora de infra-estrutura e finanças de O Boticário, empresa com sede no Paraná, acredita que esse índice refletia o fato de que essa questão ainda não havia sido despertada na região Sul. “”Talvez por acharmos que muitos já faziam ou porque não tínhamos muita consciência de nossos problemas sociais. Mas sinto que a participação das empresas na área social está aumentando. Temos recebido inúmeras solicitações de palestras, visitas e benchmarking, na maioria das universidades existem núcleos de discussão sobre essas questões e há uma crescente diversificação na apresentação de cases de empresas que estão fazendo investimento social.””

A Síntese de Indicadores Sociais 2002, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em junho deste ano, demonstrou que, das ligeiras reduções de desigualdade de renda constatada em todo o país, a maior ocorreu na região Sul. “”É difícil fazer uma relação direta de causa e efeito, mas não é por acaso que esses índices são melhores nessa região. Junto com o Sudeste, o Sul tem as maiores empresas, uma sociedade mais organizada e com mais tradição nos serviços públicos. Acredito que esse esforço coletivo deve ter influenciado””, afirma Anna Maria.

Para Nelson Sirotsky, diretor-presidente da RBS, mantenedora da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, com sede em Porto Alegre, as empresas da região Sul são abertas ao investimento social privado e este é um movimento que tem crescido. “”Temos uma sociedade aberta e solidária, que viabiliza projetos voltados à comunidade. Apesar do contexto econômico adverso, observamos o crescimento da cultura do investimento social e das parcerias entre empresas, ONGs e poder público.””

Planejamento – A pesquisa da Fundação Semear apontou que 70,4% do empresariado gaúcho elegeu a criança e o adolescente como alvo prioritário dos seus investimentos sociais, tendo como foco a educação. “”Porém a população idosa no estado tem aumentado significativamente e existem poucos investimentos para este público. Além disso, também temos poucos investimentos na inserção de pessoas portadoras de necessidades especiais no mercado de trabalho””, alerta Jair Kievel, diretor executivo da organização.

Definir estratégias para buscar maior efetividade e melhor aplicação dos recursos é o que a Semear espera poder fazer a partir da pesquisa. Kievel conta que o estudo mostrou que as ações das empresas são muito pulverizadas e sem um foco definido. “”As empresas ainda estão desenvolvendo suas ações dentro de um conceito de filantropia, e não de investimento social. Conseqüentemente, os resultados produzidos são pouco visíveis e não provocam mudanças na situação dos públicos beneficiados.””

De acordo com Maria Carolina, de O Boticário, esse assistencialismo muitas vezes acontece com o consentimento das próprias organizações e das comunidades. “”As instituições que buscam apoio não estão bem estruturadas para atender às expectativas das comunidades e das empresas que as apóiam, assim as ações tornam-se dispersas, quando muitas organizações poderiam somar esforços para atuar em conjunto e ter resultados mais relevantes.””

Ela lembra que na região Sul pode até existir uma variação, em menor ou maior grau, dos problemas sociais que nas demais regiões, mas, de modo geral, eles são iguais. Da mesma forma, como nos outros locais, as organizações também encontram dificuldades para a manutenção e a qualificação de suas atividades.

Parcerias – Maria Carolina explica que as organizações da região ainda estão aprendendo a atuar em parceria e, quando elas existem, têm sido viabilizadas em âmbitos regional e local. Para Kievel, de certa forma, isso é positivo. “”Entendemos que as comunidades podem e devem se organizar para buscar soluções para seus próprios problemas.””

A atuação conjunta das organizações do Sul começa no processo de estímulo ao investimento social privado na região. Aquelas que já têm uma atuação consistente estão buscando influenciar as outras, por meio de palestras, seminários e visitas.

“”Essas ações são sempre bem-vindas, pois podemos mostrar aos outros o que fazemos, nossa motivação e nossos valores. E nada melhor do que falar e apresentar práticas nas quais acreditamos, estamos envolvidos e que deram certo. É a melhor forma de sensibilizar e multiplicar””, afirma Maria Carolina.

José Paulo Martins, gerente de comunicação da Gerdau, empresa com sede no Rio Grande do Sul, alerta para o fato de que ainda não existe um fórum de discussão sobre a qualidade das ações sociais na região Sul. “”Estamos trabalhando para que essas ações tenham indicadores, que já têm orientado diversos organismos que detêm conhecimento na área, mas que estão sendo tratados muito mais de maneira individual do que por regiões.””

Associe-se!

Participe de um ambiente qualificado de articulação, aprendizado e construção de parcerias.

Apoio institucional