Investimento social privado dos associados passará de R$ 800 milhões em 2004
Por: GIFE| Notícias| 08/11/2004MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE
Nos últimos três anos, o repasse de recursos privados da rede GIFE para a área social cresceu 30% e passará dos R$ 800 milhões em 2004. Esses são alguns dos principais resultados do Censo GIFE 2004, principal levantamento estatístico sobre a atuação dos associados.
Esta é a segunda vez que os membros da rede GIFE participam da pesquisa. O primeiro Censo GIFE foi feito em 2000. Para esta nova edição do levantamento, um questionário eletrônico foi desenvolvido e os dados foram coletados no período de julho a setembro desse ano. A tabulação foi feita em outubro, a partir das respostas de 86% da rede (61 associados).
Além do expressivo aumento no volume de recursos investidos na comunidade, chama atenção a importância dada às parcerias e alianças. Praticamente todos os associados (97%) afirmam desenvolver programas e projetos sociais conjuntamente com outras organizações. Em 2000, esse índice era de 83,3%.
Entre os parceiros e aliados, em primeiro estão os órgãos governamentais (69%), dado que reflete a crescente preocupação da iniciativa privada em participar da definição de políticas públicas. As ONGs aparecem em segundo lugar na lista dos maiores parceiros da rede, representando 66% destes aliados.
A parceria com outros investidores sociais privados (59%) mostra que eles estão buscando também unir os esforços entre si, potencializando os recursos aplicados, ganhando agilidade e eficiência, como mostram os exemplos bem-sucedidos retratados no recém-lançado Guia GIFE sobre Parcerias e Alianças em Investimento Social Privado – Um Caminho Estratégico.
Outro benefício das parcerias é a possibilidade de expandir a atuação para além das comunidades próximas à sede da organização. Apesar da maioria dos associados ter suas bases no Sudeste (86%), a atuação em território nacional predomina. Apenas 26% dos associados com sede em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo concentram o investimento em sua região. Outros 50% investem tanto no local de origem quanto em demais regiões do país.
Financiamento x Operação – Desde a realização do primeiro Censo, aumentou o número de empresas, fundações e institutos associados ao GIFE que declaram financiar projetos de terceiros e operar ações próprias ao mesmo tempo. Em 2000, 35% da rede adotava as duas modalidades de atuação. Nesse ano, o número subiu para 49%.
Para Rebecca Raposo, diretora executiva do GIFE, esse aumento é positivo. Segundo ela, é preciso que haja equilíbrio entre o desenvolvimento de projetos próprios e o apoio a terceiros que estejam dentro de sua linha temática de atuação. “”A organização deve ter seus programas, mas há muitas ONGs que já atuam na área, precisam de recursos e não podem só recorrer a financiamentos internacionais.””
As áreas às quais os recursos são destinados são as mais diversas. Porém, continua predominando o investimento em educação (87%), o que reflete uma visão de longo prazo entre a rede GIFE. Crianças de 7 a 14 anos formam 81% do público-alvo dessas iniciativas, seguidos por estudantes do ensino médio (67%) e de educação infantil (50%). Paralelamente, há projetos que visam a educação profissional (44%) e a alfabetização de adultos (27%).
Cultura e artes mantiveram-se em segundo lugar entre as áreas prioritárias de investimento. Entre os associados, 54% afirmaram investir em ações como oficinas culturais, promoção de eventos, doações de materiais, concessão de bolsas, implantação e manutenção de espaços culturais, entre outras.
Investimentos no desenvolvimento comunitário tiveram aumento significativo desde 2000, passando do 8º (31%) para o 3º lugar (48%) no ranking das principais linhas de atuação da rede. São projetos que envolvem o fortalecimento de organizações comunitárias, formação de lideranças, mobilização popular, além de cursos e palestras de capacitação. Os maiores beneficiados são ONGs, organizações de base comunitária, conselhos sociais e profissionais do terceiro setor.
Gestão moderna – A preocupação com a profissionalização é constante entre os membros da rede GIFE. Os números evidenciam uma preocupação em aperfeiçoar o desempenho institucional, gerando reflexos positivos nos resultados do investimento social privado.
A qualificação como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), por sua forma mais moderna de governança e transparência, têm tido grande adesão dos associados do GIFE. Passou de 5% em 2001 para 22% em 2004, enquanto que aqueles que possuem o título de Utilidade Pública Federal passaram de 56% para 68%.
Assim como aumenta a busca por uma qualificação considerada facilitadora da atuação social, as instituições procuram tornar seu trabalho mais eficiente. Entre outras ações, elas têm promovido maior monitoramento (66%) e avaliação (49%) de seus projetos. Prova disso é o aumento da contratação de consultores externos – 77% da rede conta com esses profissionais – especialmente nas áreas de elaboração (64%) e avaliação (57%).
A contratação de consultores também é reflexo das equipes enxutas. Os 61 associados que responderam ao questionário empregam 10.829 pessoas, mas a metade delas (50%) tem até 10 funcionários. No mundo corporativo, elas poderiam ser classificadas como “”pequenas empresas””, apesar do orçamento geralmente ser de “”média empresa”” (47% têm orçamento entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões).
Sobre os recursos financeiros para o investimento social privado, quase a metade dos associados (49%) afirmou que a definição sobre o volume destinado para a fundação ou instituto é prioritariamente da presidência. Os comitês de responsabilidade social também apareceram com destaque. Eles foram citados por 27% das organizações que responderam concentrar essa decisão fora da alta gerência, da assembléia de acionistas ou da diretoria (de marketing, RH ou financeira).
Isso mostra que a gestão dos projetos sociais tem migrado das áreas de marketing e RH, como era comum ainda recentemente, e passa a ser incorporada cada vez mais nas decisões estratégicas das empresas. Nos comitês, geralmente há especialistas de diversas áreas e de vários níveis hierárquicos. Assim, evidencia-se uma tendência de que os projetos saiam de uma relação de departamentos isolados e tomem um caráter multidisciplinar, aliado à perspectiva da presidência.