Investimento social privado é aliado no combate ao HIV/Aids
Por: GIFE| Notícias| 11/12/2023Crédito: Istock Photo
O último mês do ano traz consigo uma campanha importante em prol da saúde dos cidadãos brasileiros: o Dezembro Vermelho, que busca conscientizar a população a respeito da prevenção e tratamento do HIV/Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Dados do Ministério da Saúde (MS), divulgados neste mês, mostram que houve queda no número de óbitos decorrentes da Aids, mas ainda são alarmantes, sobretudo entre a população negra.
Em 2022, foram 10.994 óbitos provocados por HIV ou Aids, o que corresponde a 8,5% menos que em 2012, quando foram registradas 12.019 mortes. No entanto, os números atuais chamam atenção para o seguinte cenário: em média 30 pessoas morreram de Aids por dia no ano passado. Os números apresentados pelo Boletim Epidemiológico sobre HIV/Aids divulgado pelo MS, também mostram que 61,7% dos óbitos foram entre pessoas negras, sendo 47% pardas e 14,7% pretas, e 35,6% entre brancos.
“Embora o país tenha um sistema público de saúde com capilaridade territorial e variedade de serviços promovendo as ferramentas de prevenção combinada e tratamento ao HIV/Aids gratuitamente, o estigma, a desigualdade e a falta de investimento em comunicação sobre, impedem que a população acesse esse sistema”, explica Nise Santos, enfermeira e mestranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ainda de acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2011 a 2021 cresceu o número de grávidas negras infectadas pelo HIV, de 62,4% em 2011 para 67,7% em 2021. “As populações mais afetadas pelo HIV vivem em vulnerabilidade econômica, o que afeta o acesso à informação sobre saúde e muitas vezes o próprio deslocamento aos serviços e a adesão, à prevenção ou tratamento. Política que não chega a todas as pessoas, não resolve crise de saúde”, alerta Nise Santos.
Filantropia para além das bolhas
Buscando reverter esse cenário preocupante, o Fundo Positivo tem há quase uma década desempenhado papel importante, sendo o único fundo nacional privado que trabalha com a temática do HIV/Aids no país, como explica Harley Nascimento, diretor executivo.
“Temos apoiado iniciativas que trabalham no campo da prevenção, ações de influenciamento de políticas públicas e advocacy e no atendimento e acolhimento de pessoas vivendo com HIV/Aids”. Harley aponta a importância de uma rede nacional fortalecida pelo Fundo com os movimentos de base e de organizações da sociedade civil. “Principalmente nos últimos quatro anos, marcados pelo desmonte do departamento HIV/Aids do governo federal.”
Harley Nascimento chama atenção também para a dificuldade que projetos comunitários enfrentam no acesso a recursos filantrópicos. “Infelizmente o recurso do ISP, principalmente da grande filantropia, ainda segue uma dinâmica voltada para dentro, mas não para financiar diretamente projetos comunitários.”
Para ele é preciso que o investimento social fure a bolha e leve o apoio para as comunidades, “porque é onde consegue-se quebrar as desigualdades sociais do país”. Divulgada em abril de 2023, a pesquisa Periferias e Filantropia: as barreiras de acesso aos recursos no Brasil confirmam o cenário. O levantamento mostrou que no Brasil, 31% das organizações de periferia vivem com menos de R$ 5 mil por ano.
“O Fundo Positivo é um fundo independente, a gente tem que captar recursos para financiar outros projetos, e esse é o grande desafio: a mobilização de recursos”, continua Harley Nascimento.
Apesar das críticas, o diretor reafirma o papel transformador e potencializador da filantropia nesse cenário. “A filantropia sem dúvidas, é uma ação de transformação social. Nesse sentido, é importante que os potenciais financiadores estejam conscientes sobre a importância de financiar projetos de base, de comunidade e impulsionar a transformação social”, finaliza.