Investindo em democracia: o papel do setor privado

Por: GIFE| Notícias| 28/02/2012

Dina Sherif e Frederic Sicre*

As revoluções que têm acontecido e que continuarão acontecendo na região árabe podem ser vistas como um aviso ao mundo de que os sistemas sem responsabilidade, transparência e justiça social estão perdendo terreno. A estrutura dos países envolvidos na Primavera Árabe estava falha: os sistemas políticos e socioeconômicos apesar de darem poder para alguns, tiravam totalmente a legitimidade da maioria.

Agora, assim como demandado os seus direitos dos governos, os cidadãos também estão de olho no setor privado e o seu papel deverá estar em evidência na transição para a democracia. Isto deixará pouco espaço para que as empresas se engajem em iniciativas comunitárias superficais. Os setores privados orientados pelo comprometimento comunitário precisarão de ações de grande impacto social.

Frederic Sicre comenta que, se houve um momento essencial à expansão dos mercados locais, a geração de oportunidades de empregos e o investimento em comunidades locais, esse momento é agora. Com frequência, o setor é visto apenas em termos dos lucros que obtém e dos salários que paga. Também precisa ser visto como o fornecedor de mais oportunidades de emprego para todos e recursos que podem ser mobilizados para mais investimentos no desenvolvimento de comunidades sustentáveis.

Além do mais, o setor privado precisa considerar o investimento na “base da pirâmide” onde pode oferecer serviços mais em conta para grupos de baixa renda, que nunca antes foram levados em conta devido à suposição de gerarem baixos lucros. Estas presunções se mostraram erradas por algumas empresas multinacionais como a Proctor and Gamble até empresas Egípcias locais como o Grupo Mansour e a Orascom Housing.

Um padrão de prática democrático
Apesar da maioria das instituições governamentais sofrerem de estrutura carente e corrupção desenfreada, muitas empresas na região árabe têm feito grandes esforços para ampliar as suas estruturas de governança e conformidade de forma a permitir manterem-se globalmente competitivas. O setor privado como um todo precisa alavancar o conhecimento adquirido para promover uma aplicação mais ampla de boa governança corporativa, igualdade de oportunidades e anticorrupção em suas empresas.

Agindo desta maneira torna-se um modelo a ser seguido não apenas no setor público como também no setor dos sem fins lucrativos. Visto que uma democracia eficiente não funciona adequadamente sem uma boa governabilidade e responsabilidade, o setor privado fica numa fortalecida posição intelectual de liderança permitindo funcionar como modelo para que todos os setores possam entender uma democracia. Os governos bem sucedidos no futuro serão os que adotam o setor privado como um agente positivo de mudanças. Os governos estão dispostos a definir as regras e o nível de atuação pelo qual as empresas podem operar com a tarefa de criar, investir em empregos e ampliar o crescimento social.

Investindo na sociedade civil
As organizações institucionalizadas da sociedade civil continuam com falta de recursos financeiros e técnicos necessários para se expandirem e se manterem sustentáveis. Na última década, o setor privado na região árabe tem sido uma das principais fontes de financiamento disponível para as organizações da sociedade civil. Precisará ficar mais estratégico nas suas doações e, quando possível, agir em parceria com organizações relevantes da sociedade civil para atingir suas metas e objetivos.

Isto não pode mais estar limitado a uma transferência de recursos financeiros. As empresas precisarão estender seus compromissos com a sociedade civil, fornecendo seu tempo, esperteza e conhecimento para ajudar a fortalecer o setor e permitir que sejam parceiros estratégicos no processo de desenvolvimento.

O setor privado pode ter um papel chave em assegurar uma transição democrática devido ao seu potencial para agrupar um grande número de acionistas. A transição democrática da África do Sul não teria sucesso se os setores privados desse país não estivessem envolvidos a fundo. Os diretores das maiores empresas do país se engrenaram com todos os partidos políticos para assegurar que as instituições reformadas desenvolveriam as políticas econômicas adequadas a serem adotadas pelos futuros líderes.

Como exemplo, a força policial estava profundamente corrompida e com moral baixo. Era preciso de um líder forte para reverter a situação e criar os elos necessários com um sistema legal modernizado. O homem que orquestrou essas mudanças foi o presidente da South Africa Breweries, que em 1997 também assumiu a posição do mais alto cargo da força policial. Por último, uma empresa bem administrada também tem o talento e o conhecimento para saber como aplicar melhor recursos limitados para atingir as metas.

Abraaj Capital: um exemplo
Enquanto as duas últimas décadas têm testemunhado um crescimento exponencial no setor privado árabe, ainda existe uma carência de empresas com responsabilidades nas linhas descritas acima. É por esta razão que se destaca a Abraaj Capital, a maior firma de capital das regiões do Oriente Médio, África do Norte e Sul da Ásia (MENASA).

A Abraaj Capital é pioneira em novos enfoques indo além dos métodos de negócio tradicionais para incluir progresso e desenvolvimento para a empresa e a comunidade visualizando as partes interessadas e a comunidade tão importantes quanto os seus acionistas. Além do mais, a Abraaj decidiu ser modelo de boa governança e aquiescência. Desenhou a sua própria Complacência Holística e Estrutura de Governança assim como também os padrões estabelecidos pela Global Reporting Iniciative. Além do mais, a Abraaj Strategic Stakeholder Engagement Track e a Riyada Enterprises Development são dois exemplos de como a Abraaj permanece dedicada no desenvolvimento sustentável de suas comunidades.

Por meio do Abraaj Strategic Stakeholder Engagement Track, a empresa desenvolve e implementa estratégias de engajamento com multiorganizações, dando dessa forma aos seus empregados e empresas parceiras a oportunidade de contribuir significativamente na criação de sociedades mais sustentáveis e mais equitativas na região de MENASA. (Meio-Oriente, África do Norte, África do Sul).

A Abraaj community partner organizations (ACPO) inclui a Dubai Cares, Endeavor. Injaz-al Arab, Mowgli e a Welfare Association. Elas estão dedicadas a combater o desemprego por meio de investimentos em empreendedorismo, educação e saúde. Investir nesta área é crucial visto que o desemprego é o efeito de um país em transição e se este se eleva, gera instabilidade.

Dando apoio aos pequenos e médios empreendimentos
Empreendimentos pequenos e médios (SMEs) já são responsáveis por cerca de 70% do emprego e perto de 30% do PIB da região. Eles são cruciais no âmbito corporativo e uma fonte importante de estabilidade social e econômica. Eles podem ter um papel chave em transformar as indústrias tradicionais como saúde e educação por meios de modelos de negócios inovadores.

No entanto, as SMEs da região enfrentam obstáculos estruturais. O mais fundamental é o acesso limitado ao capital com as tradicionais formas de aumento de financiamentos como os débitos bancários e o capital de risco/private equity que estão com pouca oferta na região. Além do capital, as SMEs precisam de apoio estratégico incluindo acesso a novos mercados assim como as melhores práticas de recursos humanos e de negócios. A Abraaj Capital estabeleceu a Riyada Enterprises Development, em 2009, como uma plataforma independente para investir no setor para contribuir estrategicamente com o crescimento da economia local e resolver problemas urgentes de desemprego entre os jovens.

Os negócios no mundo árabe têm uma pesada agenda pela frente à medida que os ventos das mudanças sopram ao longo da região. Se os árabes percebem ou não ou se gostariam de saber é outra coisa. A negação nunca é uma boa abordagem para criar um desenvolvimento sustentável; no entanto, a sustentabilidade é de interesse para as empresas.

Se as pessoas são tiradas da pobreza e se lhes é oferecido educação, treinamento profissional e oportunidade para se destacarem e puderem se manter, a classe consumidora cresce, gerando expansão no mercado em vez de contração. E aí está a chave: a mentalidade no setor privado precisa mudar de uma visão de curto prazo para a criação de valor de longo prazo. Caso isto não for feito, a Primavera Árabe será uma crise perdida e, como todos nós gostamos de dizer, nunca desperdice uma crise!


Frederick Sicre é sócio da Abraaj Capital nos Emirados árabes Unidos. Email: [email protected]


Dina Sherif é diretora associada no John D Gerhart Center for Phylanthropy and Civic Engagement na American University em Cairo. Email: [email protected]

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