Juventude deve ser foco de investimento social

Por: GIFE| Notícias| 19/11/2007

Rodrigo Zavala

Na última semana, a ONG Atletas pela Cidadania, em parceria com o Instituto Ethos, o GIFE e o Ministério do Trabalho e Emprego, lançou o Placar do Aprendiz, uma iniciativa em prol da empregabilidade de adolescentes.

Com base na lei n° 10.097/2000, conhecida como Lei do Aprendiz, o projeto tem o objetivo de dar visibilidade às empresas que cumprem a legislação e contratam jovens (de 15 a 24 anos) sem experiência, como aprendizes. A abertura de postos para essa faixa etária é obrigatória para empresas com mais de 100 funcionários, em percentuais que variam de 5% a 15% do número de colaboradores efetivos.

O objetivo da parceria, nesse contexto, é apontar, por meio de uma espécie de contador mensal, quantos jovens estão trabalhando como aprendizes pelo Brasil e quais as organizações privadas que seguem à lei. “”Esperamos incentivar as empresas e mobilizar toda a sociedade para que alcancemos, até 2010, a marca de 800 mil aprendizes contratados””, diz o diretor da Atletas pela Cidadania, Raí Oliveira.

Os resultados serão levantados por meio de um cruzamento da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), formulários preenchidos pelo setor privado ao ministério do Trabalho. “”Assinamos um termo de cooperação técnica com a Atletas e deixo todas as Delegacias do Trabalho a disposição do projeto””, afirmou o ministro Carlos Lupi, durante a cerimônia de lançamento do Placar.

Além do contador, o site do Placar disponibilizará informações mais completas sobre a Lei do Aprendiz. Empresas podem consultar o que é necessário para contratar jovens e tirar dúvidas sobre o Manual do Aprendiz (elaborado pelo Ministério do Trabalho). “”Hoje temos 113 mil aprendizes contratados. Mas isso não é sequer 10% do que podemos alcançar””, afirmou a jogadora de vôlei e uma das co-fundadoras da ONG Atletas pela Cidadania, Ana Moser.

Setor Privado – Nesse contexto, a parceria articulada pela ONG aponta para uma preocupação expressiva do setor privado em realizar ações para jovens. Por meio de práticas socialmente responsáveis e, nesse bojo, de investimentos comunitários, é direcionado um volume cada vez maior de recursos para esse público.

“”Ao contrário do que acontecia nas décadas de 80 e 90, quando o foco era a infância, atualmente existe uma preferência pela juventude, pois ela se tornou a caricatura dos males sociais, ao concentrar problemas nas áreas de emprego, saúde, educação e violência. Dois terços da população carcerária do país, por exemplo, estão nessa faixa etária””, explica o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.

Segundo um estudo do Banco Mundial (“”A Juventude em risco no Brasil””), a População Economicamente Ativa (PEA) brasileira perderá cerca de R$320 milhões nos próximos dez anos se não investir nesse segmento da população. O mesmo levantamento mostrou também que os benefícios perdidos, decorrentes da baixa escolarização desse público, são de 755 milhões para cada geração (com base apenas no abandono escolar de 14% do alunado, de acordo com o Censo da Educação do Ministério da Educação).

“”Os jovens estão sendo massacrados e nós não conseguimos dimensionar os problemas para realizar projetos eficientes. No Rio de Janeiro, por exemplo, a diferença da expectativa de vida entre homens e mulheres era de três anos. Hoje, esse número foi para 11, graças à criminalidade carioca, que coopta jovens sem oportunidades””, argumenta a superintendente do Instituto Unibanco, Wanda Engels.

E há dados piores: enquanto os investimentos do governo na juventude não chegam a 1%, cerca de 50% da população desempregada é composta por jovens. Destes, 90% são de famílias com renda per capitã inferior a dois salários mínimos. Estima-se também que os rendimentos anuais perdidos com taxas de desemprego excepcionalmente altas entre jovens de 16 a 24 anos estão entre 641 milhões e 1,2 bilhão de reais.

“”Empresas que trabalham de forma responsável são minoria. Nossa realidade mostra que o país não vai dar certo. Sem colocar o jovem como prioridade absoluta, qualquer alternativa para uma sociedade melhor é balela””, argumenta o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos e membro do Conselho do Pacto Global da ONU, Oded Grajew.

Segundo ele, países desenvolvidos só deram certo porque concentraram esforços em crianças e adolescentes em todas as áreas (educação, saúde, segurança, infra-estrutura etc). “”O número de jovens aprendizes não chega a 10% do potencial. Quanto custaria para o setor privado cumprir o máximo? O empresariado não sabe como esse investimento pode impactar nos negócios, na sociedade. Mas, com certeza, será um retorno muito maior””, acredita Grajew.

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