Liderança feminina oferece diferenciais às organizações do terceiro setor

Por: GIFE| Notícias| 14/03/2005

ALEXANDRE DA ROCHA
Editor do redeGIFE

JUSSARA MANGINI
Especial para o redeGIFE

Colaborou Mônica Herculano (repórter do redeGIFE)

A presença das mulheres é marcante no terceiro setor. Das 77 organizações associadas ao GIFE, 51% conta com mulheres em posições de liderança. Nos centros de voluntariado do país, o sexo feminino também representa mais da metade das pessoas que desejam fazer algum trabalho voluntário em prol de uma causa, grupo ou comunidade. No banco de dados do Riovoluntário (RJ), por exemplo, 78% das pessoas cadastradas são mulheres.

“”Acredito que o grande diferencial que uma mulher traz para as organizações (do terceiro setor) é o olhar, traduzido pela sua imensa sensibilidade e pela enorme capacidade de se dedicar ao cuidado do outro, à proteção””, analisa Simone Nagai, diretora de administração e relações institucionais da Fundação Volkswagen.

Albanisa Lúcia Dummar Pontes, conselheira do GIFE e diretora executiva da Fundação Demócrito Rocha, concorda que as mulheres oferecem um toque especial para as organizações que investem em projetos sociais. “”A mulher tem o seu lado intuitivo mais latente e isso a leva exercer posições de liderança apegada às causas e menos ao poder.””

Porém, é importante não polarizar a questão. A tendência de a mulher priorizar as questões sociais e humanitárias não quer dizer que o homem não esteja sensível a elas, alerta a diretora do Instituto Pão de Açúcar, Rosangela Bacima Quilicci. “”Acredito que o diferencial no terceiro setor é o mesmo que a mulher traz nas organizações em geral, como o equilíbrio entre a firmeza e a sensibilidade, entre as competências de negociação e técnica com as competências emocional e interpessoal.””

Historicamente, a liderança feminina sempre teve diferenciais pois, ao contrário da liderança masculina, foi uma conquista a partir de mudanças nas concepções e determinações culturais da sociedade. “”De certa forma, a mulher como líder busca estimular a participação, dividir o poder e a informação. Isso é reflexo de todo um processo de conquista de espaço como cidadã, como mulher e como profissional””, avalia Sabrina Gomes Regra, coordenadora executiva da Fundação Semear.

O Banco Real ABN Amro, que possui uma estruturada política de responsabilidade social empresarial e de investimento social privado, está atento às particularidades de estilo e habilidade gerencial que as mulheres têm. “”Para o banco, a diversidade é uma questão estratégica: ter homens e mulheres trabalhando na instituição é extremamente rico””, conta Débora Mathis, coordenadora do grupo Mulheres e Carreira, do Comitê de Diversidade da instituição.

Criado em 2003, o grupo é formado por mulheres de diferentes áreas e níveis hierárquicos. Seu objetivo é propor ações que auxiliem o desenvolvimento de suas carreiras na organização. Atualmente, 50% dos funcionários do Banco Real são mulheres. “”O Comitê de Diversidade nasceu há dois anos e foi criado para olhar a pirâmide do banco e diagnosticar que havia muitos homens no topo e muitas mulheres na base. Então, eu passei a coordenar o grupo Mulheres e Carreira, que tem por objetivo entender a relação das mulheres com suas carreiras e recomendar ações que melhorem a qualidade de vida delas e que ocupem cargos executivos em maior número””, explica Débora.

Segundo a pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais 2004, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de mulheres residente no Brasil é predominante. São 89 milhões de pessoas do sexo feminino, contra 84,9 milhões de homens. Porém, apesar de maioria, as mulheres enfrentam uma série de dificuldades. No campo profissional, por exemplo, elas recebem um salário, em média, 30% menor em relação aos homens com a mesma escolaridade e posição.

Sabrina, da Fundação Semear, acredita que as mulheres também encontram mais obstáculos do que os homens quando o assunto é a direção de projetos sociais. “”A imagem do terceiro setor e do desenvolvimento social, em muitos casos, ainda é ligada ao “”primeiro damismo”” ou ao assistencialismo. O profissionalismo masculino é melhor recebido do que o feminino””, avalia.

Mesmo com as diferenças, a diretora executiva da Fundação Demócrito Rocha, Albanisa Lucia, lembra que muitas vezes as barreiras servem como um estímulo. “”Conheço mulheres que trabalham nos ambientes mais adversos, como no enfretamento da violência contra adolescentes e a prostituição infantil. Nada as impede de seguir em frente em defesa da causa.””

Crescimento – Mesmo com dificuldades e nós a serem desatados, as lideranças femininas ouvidas pelo redeGIFE vêem espaço para um número maior de mulheres em cargos de liderança na área social. “”Depende basicamente da postura profissional, do seu preparo acadêmico e de uma carreira construída em posições de comando””, afirma Rosangela, do Instituto Pão de Açúcar.

Elatia Abate Han, diretora executiva do programa de bolsas da Fundação Estudar, acredita que, assim como em outras áreas profissionais, a qualificação é imprescindível. “”Boa formação, visão, ética e pro-atividade são algumas das características fundamentais para ser um bom líder. Se mulheres procurarem atuar dentro destes moldes, alcançarão mais cargos de liderança.””

A opinião é compartilhada por Rosangela. “”O terceiro setor é também um “”business””, num outro tipo de mercado, mas como todos os outros tem objetivos, preocupação com indicadores e orçamentos, busca por boa performance e resultados. Nele também deve haver uma orientação estratégica, uma visão de futuro a ser conquistada de forma consistente, com responsabilidade pelos resultados, mas com transparência e ética que também são indispensáveis nos demais setores. A atuação da mulher deve ser tão “”profissional”” nas organizações sociais ou sem fins lucrativos quanto nas demais empresas.””

Para a diretora executiva da Fundação Demócrito Rocha, o terceiro setor demanda profissionais sensíveis às causas das minorias, ao combate à pobreza, à inserção social etc, não importa o gênero. Porém, o sexo feminino pode fazer a diferença. “”As mulheres culturalmente assumiram o papel de cuidar dos filhos na relação familiar, tornando-as mais disponíveis ao outro. O outro hoje equivale às demandas sociais. Algo mais que pode ser feito é a busca constante por qualificação profissional e aquisição de competências, sempre na perspectiva de alcançar resultados positivos no seu trabalho e, conseqüentemente, índices sociais melhores para o país””, afirma Albanisa Lucia.

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