Livro compartilha aprendizados e resultados de 10 anos da BrazilFoundation

Por: GIFE| Notícias| 24/02/2014

A Rádio Comunitária Santa Luz, da Bahia, surgiu em 1998, com o objetivo de combater o trabalho infantil, enfrentar o coronelismo e fazer um contraponto às estações comerciais, divulgando os movimentos sociais, propagando a cultura local e ajudando a população a fiscalizar o uso dos recursos públicos.

Durante nove anos de muita insistência, a rádio tentou se manter. Por diversas vezes, os participantes viram seus pedidos de licença negados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), tiveram suas atividades proibidas pela Justiça, responderam a processos na Polícia Federal.

Quando enviaram o primeiro projeto para a BrazilFoundation, de capacitação de jovens para trabalhar como repórteres comunitários, estavam com os transmissores da rádio lacrados. Menos de um ano depois de obter esse apoio, conseguiram a autorização de funcionamento. “Enquanto o governo nos reprimia, uma organização muito séria depositava credibilidade em nosso trabalho. Isso nos fez entender que podíamos ir além”, conta Edisvânio Nascimento, diretor executivo da rádio.

São histórias como essa, repleta de engajamento e vontade de promover transformações sociais, que recheiam o livro “Brazil, Brasil – 10 Anos, Uma Ideia, Muitas Histórias”, lançado pela BrazilFoundation para contar os caminhos percorridos na primeira década instituição. A publicação faz um resgate da atuação da entidade por meio de 20 organizações sociais que receberam apoio nestes anos.

O livro já foi lançado no Rio de Janeiro, São Paulo e também em Nova York (EUA) e ganha agora sua versão online em inglês e português (clique aqui para baixar ).

Fundada em 2001, a BrazilFoundation apoia ações da sociedade civil brasileira que buscam soluções para os desafios enfrentados por comunidades no país. A proposta visa promover o fortalecimento das organizações, a fim de garantir melhores resultados e a aplicação eficiente dos recursos.

Em 13 anos, a Fundação já arrecadou mais de US$ 25 milhões e investiu nas áreas de Educação, Saúde, Cultura, Desenvolvimento Socioeconômico e Direitos Humanos. Os recursos levantados permitiram a BrazilFoundation identificar, financiar e monitorar mais de 350 projetos sociais em 26 estados brasileiros, beneficiando diretamente milhares de pessoas.

Nestes anos de atuação, a organização enfrentou muitos desafios, mas também gerou muitos aprendizados. Os dois primeiros anos de trabalho da BrazilFoundation foram dedicados à montagem da estrutura física e legal da organização. A primeira doação, em 2001, de 20 mil dólares, veio da Fundação Avina, que contribuiu com mais 250 mil dólares para serem usados nos três anos seguintes.

O primeiro edital de apoio a projetos foi lançado em 2002, no qual foram inscritos 73 propostas e apoiadas quatro. No ano seguinte, já chegaram 895 projetos de todos os cantos do Brasil. Foi aí que a entidade percebeu que, sem planejar, vinha preencher uma lacuna no universo das organizações sociais brasileiras. Isso porque a proposta sempre foi atender às ONGs de pequeno e médio porte, que trabalhavam em total isolamento e viviam desamparadas pela filantropia tradicional. Com seus projetos simples, muitas vezes mal redigidos e com falhas de informação, elas dificilmente conseguiriam ganhar outros editais, apesar de apresentarem soluções criativas, eficientes e pioneiras para seus problemas.

Muitas destas organizações receberam o seu primeiro apoio financeiro via BrazilFoundation. “Essas iniciativas são um retrato do Brasil visto de baixo para cima, a partir das necessidades das comunidades”, diz Leona Forman, fundadora da entidade.

Todo o trabalho até agora foi possível por causa da atuação conjunta dos dois escritórios, instalados no Rio de Janeiro e em Nova York, nos EUA, no qual são captados os recursos a serem investidos no Brasil.

Um dos pontos centrais da BrazilFoundation e que, suas fundadoras acreditam que fez toda a diferença, foi a determinação de visitar pessoalmente as entidades antes de apoiá-las. A ideia é verificar se os projetos semifinalistas têm realmente chances de acontecer, se o que está descrito corresponde ao que é feito, se o que é dito se traduz em ações. Essa decisão levou Susane Worcman – outra fundadora da entidade – e os analistas da BrazilFoundation a percorrerem o país de Norte a Sul.

Inicialmente cada projeto apoiado pela Fundação recebia o equivalente a 10 mil dólares, por um ano. Com a queda do dólar, a organização percebeu que era mais seguro definir a doação em real. Atualmente, são destinados R$ 40 mil.

Além disso, a entidade oferece aos beneficiados capacitação e um constante monitoramento, outro ponto de destaque, na opinião da equipe. A capacitação começou em 2005, a partir da percepção de que as organizações sociais tinham dificuldades em sua gestão e na implementação dos projetos. Ela se dá num encontro inicial no estado do Rio em que estão presentes dois gestores de cada organização que terá apoio naquele ano. É um programa intenso de treinamento onde são trabalhados temas relacionados à gestão e à comunicação institucional.

Após a capacitação dos gestores e o início dos trabalhos, tem início o acompanhamento dos projetos, que é feito por meio de assistência técnica permanente e relatórios periódicos. Esse monitoramento ajuda a corrigir os desvios de caminho.

“O planejamento tem auxiliado os gestores a identificarem quais são os possíveis obstáculos que podem dificultar a implantação do projeto, a definirem melhor os seus objetivos, a formularem as suas estratégias, a estabelecerem um cronograma de trabalho e a adequarem os seus orçamentos aos recursos por receber”, diz Márcia de Paiva – em documento produzido em 2011 para o Museu da Pessoa.

A tendência natural da BrazilFoundation de apostar em pequenas e médias organizações faz com que a simples seleção já represente um marco na trajetória dos grupos. Ela dá visibilidade, abre novas portas e, muitas vezes, funciona como um selo de qualidade que atrai outros financiamentos. Já aconteceu de um prefeito ignorar a existência daquele grupo e, na semana seguinte ao anúncio do apoio, perguntar ao gestor: “Vocês querem algo?”

Foi justamente essa crença no pioneirismo das organizações que, na opinião do sociólogo Caio Silveira e do economista Ricardo Mello, da UFRJ, autores de um trabalho de avaliação sobre os dez anos da BrazilFoundation, tem feito a total diferença na história da Fundação: “Talentos são identificados, oportunidades de acesso a recursos financeiros e técnicos são criadas e novas frentes de ação são abertas.”

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