Machismo prejudica diversidade e desenvolvimento estratégico

Por: GIFE| Notícias| 19/07/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

O Instituto Promundo é uma organização não-governamental brasileira que atua em parceria com instituições nacionais e internacionais nas áreas de saúde pública, direitos humanos, prevenção de HIV/Aids e desenvolvimento social. Uma de suas principais ações é o Programa H, desenvolvido com a ONG Ecos – Comunicação em Sexualidade (SP), o Instituto Papai (PE) e a Salud y Genero (México).

A iniciativa tem como objetivo promover a eqüidade de gênero e a saúde sexual e reprodutiva por meio de intervenções com homens jovens. Para isso, são realizadas oficinas educativas, campanhas de marketing social e iniciativas para atrair os homens jovens aos centros de saúde. O Instituto Promundo também lançou no Brasil a Campanha do Laço Branco, que busca mobilizar homens de todo o mundo e nos mais diversos contextos – profissional, educacional, familiar – pelo fim da violência contra a mulher.

Como parte de sua metodologia de avaliação de impacto, em 2003, a organização realizou uma pesquisa em três comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro (Maré, Bangu e Morro dos Macacos), com 780 homens, de 14 a 25 anos, que responderam questões sobre comportamento sexual e relacionamento, antes e depois da implementação do programa.

Em entrevista ao redeGIFE, o superintendente da organização, Gary Barker, fala sobre os resultados da pesquisa e a importância de ações das empresas e das organizações da sociedade civil na conscientização do homem jovem sobre as conseqüências do pensamento machista.

redeGIFE – Quais foram os principais resultados da pesquisa O impacto do machismo na saúde pública dos jovens brasileiros?
Gary Barker – Os resultados demonstram que as intervenções modificaram o comportamento e as atitudes de homens jovens identificados com o machismo. Na fase inicial do estudo, foi desenvolvida uma escala que associa os comportamentos machistas ao risco ao HIV/Aids e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), à violência contra a mulher, à participação dos homens jovens nas tarefas domésticas e à homofobia, entre outros. Os resultados da avaliação demonstraram a redução de comportamentos e atitudes machistas, que se reflete, por exemplo, no aumento do uso de preservativos e na diminuição de casos de DSTs.

redeGIFE – Quais são as principais causas do pensamento machista nos jovens?
Barker – Há diversos fatores que influenciam a construção de normas de gênero e masculinidade, entre eles uma certa dicotomia ou polarização na construção das relações sexuais, segundo a qual a masculinidade é identificada como “”ativa”” e a feminilidade como “”passiva””. Vários estudos realizados nas regiões da América Latina e Caribe, como os do chileno José Olavaria, apontam para uma grande pressão cultural exercida por “”mandamentos de masculinidade””. Segundo eles, os homens jovens devem ter a iniciativa nas relações sexuais e são presumivelmente mais bem informados e experientes na atividade sexual, e as mulheres jovens devem ser fiéis, puras e ceder às vontades dos homens nas relações sexuais.

redeGIFE – Analisando a sociedade como um todo, quais são as principais conseqüências das atitudes machistas?
Barker – Os altos índices de violência contra a mulher, o baixo envolvimento dos pais na criação dos filhos e a sobrecarga de trabalho doméstico das mulheres, por exemplo, são problemas que podem ser encarados como conseqüência do machismo. No ambiente de trabalho, já se percebe que o machismo prejudica a diversidade no ambiente corporativo e o próprio desenvolvimento estratégico das organizações.

redeGIFE – De que maneira é possível conscientizar o jovem, em larga escala, a respeito deste problema?
Barker – É importante estimular os jovens a pensar sobre novas definições do que significa “”ser homem””. Nossos workshops e campanhas de marketing social em comunidades de baixa renda buscam fazer isso. Em larga escala, a conscientização pode ser feita, por exemplo, por meio de campanhas que mostrem os “”custos”” do comportamento machista para o próprio homem jovem e para a sociedade. A disseminação da Aids, a violência contra a mulher e até mesmo os altos índices de mortalidade masculina em acidentes de trânsito são exemplos desses custos.

redeGIFE – Como as empresas, as fundações e os institutos podem ajudar?
Barker – Com a criação de códigos de conduta e políticas corporativas que contribuam para ações afirmativas no ambiente de trabalho, por exemplo. Estimulando ações que promovam a diversidade e o respeito e ressaltando a sua importância para o desenvolvimento estratégico das organizações.

redeGIFE – Quais são as principais dificuldades encontradas para a implementação de uma iniciativa como o Programa H?
Barker – A implementação propriamente dita das iniciativas do Programa H é feita pelas organizações que capacitamos. Apesar de o programa contar com um Fundo Internacional Empresarial, criado para assegurar a sustentabilidade de suas atividades em diversos países, entre as dificuldades está o desafio de obter financiamento para atividades voltadas para o público masculino, mesmo que tenham comprovado impacto na melhora da saúde da mulher. Outro desafio é o recrutamento dos homens jovens que disponham de tempo para participar de projetos dessa natureza. Normas sociais tradicionais exercem pressões, por exemplo, para que os homens sejam provedores. O “”desempenho sexual”” definido em termos quantitativos e calcado na idéia de conquista é uma outra preocupação comum entre os homens jovens.

redeGIFE – Já existem planos para ampliação do programa?
Barker – O Programa H contou desde o início com o apoio de organizações como a Organização Pan-Americana de Saúde e o IPPF/WHR (International Planned Parenthood Federation/ West Hemisfere), e da SSL International, fabricante dos preservativos Durex. Esta interlocução internacional facilitou a ampliação do programa para outros países da América Latina, Ásia e África. Ele vem sendo replicado para organizações não-governamentais, governos – em nível local, estadual e federal – e organizações multilaterais, como o FNUAP (Fundo de População das Nações Unidas), no Brasil e em outros países. Isso garante que a tecnologia social do Programa H seja disseminada para várias outras organizações.De quatro anos para cá, o programa consolidou-se como uma aliança estratégica entre ONGs, agências das Nações Unidas, organizações governamentais e instituições de pesquisa que trabalham para engajar os homens jovens de 15 a 24 anos na promoção de eqüidade de gênero. O Instituto Promundo desempenhou um papel fundamental na coordenação destas articulações.

redeGIFE – O que se pretende fazer a partir dos dados obtidos na pesquisa?
Barker – Pretendemos contribuir para a conscientização dos vários segmentos da sociedade sobre a importância de incorporar os homens jovens em projetos e políticas que visem a promoção de saúde, de eqüidade de gênero, e da diminuição da violência contra as mulheres.

Associe-se!

Participe de um ambiente qualificado de articulação, aprendizado e construção de parcerias.

Apoio institucional