Mais politizado, mas sem informação

Por: GIFE| Notícias| 25/09/2006

Rodrigo Zavala

Às vésperas das eleições, iniciativas sociais comunitárias se deparam com um público cada vez mais conscientizado sobre seus direitos políticos. No entanto, educadores apontam que o conhecimento sobre como colocá-los em prática ainda é muito restrito.

Nesse sentido, os programas em prol de emancipação política passaram a pensar em processos para o cidadão se empoderar de ferramentas participativas. Isto é, que entenda como é possível se articular em espaços públicos e pressionar os agentes governamentais.

“”Vivemos uma situação insatisfatória. Existe uma vontade de contribuir, mas não se sabe como. O que se vê agora, porém, é o estímulo a processos educativos em redes mais pró-ativos””, acredita Liliana Leite, coordenadora do Instituto Direito e Cidadania (IDC).

Em funcionamento desde outubro de 2002, o instituto já realizou mais de 100 mil atendimentos, beneficiando cerca de 32 mil pessoas. A iniciativa faz parte do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia (DIS Baixo Sul), uma parceria entre o Governo da Bahia, a Associação dos Municípios do Baixo Sul (Amubs), a Fundação Odebrecht e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul (Ides).

O trabalho é estruturado em dois grandes programas: Balcão de Direitos e Educação para a Cidadania. O primeiro proporciona o acesso da comunidade à Justiça e à cidadania por meio da facilitação da emissão de documentos, atendimento jurídico e social. O segundo visa a conscientização das comunidades, oferece espaço para discussões de problemas junto ao poder público, fortalecimento de conselhos municipais, comissões de cidadania e formação de jovens nos 11 municípios do Baixo Sul.

“”Defendemos que as políticas públicas partam de uma democracia participativa. É claro que uma parcela opta por se eximir. Mas constatamos que existe movimentos populares, principalmente do segmento jovem, mais politizados e atuantes. É um leque enorme de nós e ainda estamos muito distante do ideal””, crê Liliana.

A solução encontrada por ela em seu trabalho é a construção conjunta da emancipação política por meio do diálogo. “”Todo o processo educativo exige uma mudança de comportamento. O que fazemos é pensar formas que nos conduzam a práticas mais corretas.””

Dentro de uma preocupação didática em prol do pensamento político, também se encontra o trabalho realizado pela Fersol Indústria e Comércio S/A, empresa química de Mairinque, Interior de São Paulo. Com pouco mais de 350 funcionários, investe em projetos de iniciação à política e à filosofia para seus funcionários e fornecedores.

Ao fortalecer esses conhecimentos, por meio de aulas realizadas durante o horário de trabalho, a empresa aquece o debate político comunitário. “”O ser humano esqueceu do que é o pensamento reflexivo. Quando ele começa a pensar o porquê das coisas, começa a extrair valores de suas entranhas””, reflete Michael Haradom, diretor- presidente da Fersol.

A iniciativa obteve resultados tão positivos, explica, que passou à rede pública de ensino. “”Temos parcerias também com universidades da região, que em troca de nosso curso, fazem trabalhos comunitários.””

A preocupação com o diálogo e expressão como as bases para enfretamento político é um ponto forte no Programa Aprendiz Comgás (PAC), uma iniciativa da Comgás – Companhia de Gás de São Paulo e da ONG Cidade Escola Aprendiz. O projeto tem o objetivo de contribuir na formação de jovens de 14 a 18 anos, estudantes do ensino médio e técnico, de escolas públicas e privadas de São Paulo, interessados em desenvolver projetos sociais em suas comunidades.

Segundo Luciana Faria, educadora do PAC, os jovens atendidos já participam de algum movimento politizado (não partidário), como grêmios estudantis, por exemplo. “”Mesmo assim, são jovens como os outros, que convivem nos mesmos espaços. O que os diferencia é que o programa permite a livre expressão e oportuniza mudanças ao dar instrumentos para eles intervirem em suas comunidades””, acredita a educadora.

Democracia – Mesmo sem uma participação política, é evidente que os jovens mostram entendimento sobre o que é viver em uma sociedade democrática. Essas são algumas das conclusões obtidas pela pedagoga Ana Maria Klein durante sua dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP).

Em um estudo que envolveu 80 estudantes, do terceiro ano do ensino médio de duas escolas particulares e duas públicas da cidade de São Paulo, Ana colheu depoimentos a partir das opiniões dos jovens sobre o que é uma sociedade democrática e como ela é vivenciada.

Com base nas respostas, ela concluiu que os estudantes de escolas públicas e privadas têm visões diferentes sobre o que é uma democracia. Aqueles que têm a possibilidade de pagar pelos estudos associam democracia a valores como igualdade e liberdade. Por outro lado, estudantes de escolas públicas entendem voto e a liberdade de expressão como as bases de um Estado democrático.

“”O que se viu é que os grupos trouxeram elementos muito pertinentes. Se você for olhar o processo de desenvolvimento democrático no mundo, falar em participação, falar em liberdade, igualdade é totalmente pertinente com uma democracia, pois são valores fundantes dela””, explica.

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