Mapeamento identifica baixo índice de avaliação sobre alianças e parcerias

Por: GIFE| Notícias| 28/11/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE*

A Aliança Capoava – iniciativa da Ashoka Empreendedores Sociais, do GIFE, da Fundação Avina e do Instituto Ethos – e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo lançaram, na última quinta-feira (24/11), a publicação Alianças e Parcerias – Mapeamento das Publicações Brasileiras sobre Alianças e Parcerias entre Organizações da Sociedade Civil e Empresas. Produzido com o patrocínio da Lamsa e da TIM e apoio da Ripasa, o livro traz um amplo mapeamento sobre a temática, a partir do levantamento das principais questões, conceitos e lacunas existentes na bibliografia nacional nos últimos 10 anos.

São apresentados: um panorama das questões consideradas essenciais na implementação e avaliação de ações conjuntas entre ONGs e empresas; entrevistas com responsáveis por cinco modelos de parcerias – ONG e fundação empresarial, ONG e empresa multinacional, ONG e empresa nacional, fundação empresarial e empresas; comentários de especialistas no assunto; casos de referência que estimulam a reflexão e a prática; e resumos de publicações existentes no Brasil sobre o tema.

Um dos principais resultados do mapeamento foi a identificação da predominância da produção de conhecimento sobre essa temática na região Sudeste (69%), com pouca reflexão a respeito da diversidade regional. Além disso, predominam reflexões que partem da ótica e das motivações empresariais e existe uma tendência à transposição de propostas originadas em outras realidades – nem sempre adequadas à diversidade e fluidez vivida no Brasil.

“”A principal lacuna encontrada a partir do mapeamento diz respeito a instrumentos e metodologias para monitoramento e avaliação da relação em parceria e dos impactos sociais do trabalho feito em conjunto. As reflexões apontam uma tendência crescente das parcerias e alianças entre ONGs e empresas, considerando que o trabalho em conjunto é capaz de potencializar os efeitos e impactos da ação, mas são pouco freqüentes os mecanismos de mensuração deste fato””, conta Cristina Meirelles, coordenadora da Aliança Capoava.

A representante para o Nordeste da Fundação Avina, Neylar Vilar Lins, que participou do processo de pesquisa para a publicação, afirma que pouco foi encontrado sobre a perspectiva das organizações da sociedade civil, suas motivações, dificuldades e desafios. “”Acredito que estas lacunas refletem muitos aspectos da nossa realidade, e não só do desenvolvimento das alianças e parcerias. Por exemplo, com certeza as organizações da sociedade civil têm muito o que dizer sobre o tema, mas talvez não tenham tido as mesmas oportunidades e condições que as empresas, fundações e instituições de ensino e pesquisa para sistematizar, publicar e difundir este conhecimento. Este seria um belo desafio para uma nova contribuição da Aliança Capoava””, indica Neylar.

Ela explica que o trabalho de pesquisa foi muito mais complexo e demorado do que se imaginava ao começar o levantamento. “”Para tornar o trabalho mais completo e garantir a representatividade regional foi necessário, além das pesquisas nas bibliotecas virtuais e consultas na internet, fazer contato com pesquisadores de 15 Estados, acessar indicações feitas pelo Comitê de Pesquisa e identificar referências bibliográficas citadas nos títulos levantados.””

Prática – Vivianne Naigeborin, diretora internacional de parcerias estratégicas da Ashoka e membro do comitê gestor da Aliança Capoava, destaca três aspectos que podem ser aperfeiçoados no sentido de criar parcerias e alianças eficientes e eficazes. O primeiro é superar preconceitos entre empresas e organizações da sociedade civil em relação às suas diferenças culturais, ideológicas e gerenciais. “”O respeito e a valorização das diferenças é fundamental neste tipo de relação””, afirma.

Outro aspecto é garantir o alinhamento prévio de expectativas, papéis e responsabilidades no estabelecimento das alianças e parcerias. “”Pode parecer algo óbvio, mas isso não é nada simples. A falta de alinhamento pode gerar conflitos e frustrações e, muitas vezes, comprometer o resultado final e a continuidade do projeto””, explica Vivianne. Além disso, é preciso garantir a articulação da comunidade nas alianças ou parcerias. “”É surpreendente constatar que a comunidade beneficiada por um projeto social realizado em parceria raramente é envolvida nos processos de gestão e decisão dos aliados. Até que ponto isso não compromete a legitimidade da ação? Este fato merece uma reflexão cuidadosa por parte daqueles que estão operando em parceria.””

Durante o lançamento da publicação, Paulo Itacarambi, diretor executivo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, também integrante do comitê gestor da Aliança Capoava, apontou para o fato de que é necessário considerar, nas relações de parceria, o respeito e a confiança mútuos. “”É legítimo haver interesses diferentes. A questão é como respeitar o interesse do outro, como respeitar as limitações do outro, como ter os seus interesses respeitados. Será possível fazer alianças, se não houver crença?””, questionou.

Fernando Rossetti, secretário geral do GIFE, complementou que tem de valer a equação do ganha-ganha. Para ele, a magnitude dos problemas sociais brasileiros e a velocidade com que se intensificam têm superado as capacidades individuais de solucioná-los isoladamente. “”As parcerias são o meio de unir diferentes atores, de potencializar os recursos aplicados, de evitar sobreposições e de alcançar metas que dificilmente seriam factíveis sem colaboração de um aliado””, afirmou.

Conceitos – Para Vivianne Naigeborin, o crescente interesse pelo tema alianças e parcerias contribuiu para aprofundar a reflexão sobre essas práticas e suas implicações. Contudo, é principalmente na prática cotidiana que as instituições podem experimentar e compreender melhor as especificidades destas relações, as oportunidades existentes e os desafios a serem superados. “”A publicação da Aliança Capoava comprova que ainda existe uma grande diversidade de conceitos e definições para alianças e parcerias, o que reflete a variedade de relações existentes e os diversos significados atribuídos a elas. Isso dificulta qualquer análise sobre a preponderância de uma sobre a outra.””

O gerente de serviços da Fundação Avina, Sean Mckaughan, também faz parte do comitê gestor da Capoava e acredita que a diferença entre parcerias e alianças é uma questão semântica. “”Quando houver um consenso entre os pesquisadores sobre isso, será possível fazer uma distinção mais conceituada. O interessante é que há um boom de parcerias e alianças no país, porque o Brasil possui, por um lado, uma sociedade civil grande e bem desenvolvida, e por outro um empresariado relativamente mobilizado em comparação a outros países onde a Fundação Avina trabalha na América Latina””, conta.

McKaughan concorda que ainda existe certa desconfiança entre a sociedade civil e o setor privado, especialmente fora das grandes capitais. Isso acontece, segundo ele, por serem culturas distintas – o que muitas vezes dificulta a comunicação entre si – e também porque não há muitas referências disponíveis sobre como construir e manter uma aliança ou parceria, muito menos avaliar sua qualidade e impacto. “”A Aliança Capoava busca responder justamente a esta necessidade, promovendo e disponibilizando guias, referências e ferramentas para animar, facilitar e aperfeiçoar as parcerias intersetoriais.””

Os interessados em adquirir a publicação devem entrar em contato com Claudia Candido, pelo e-mail [email protected].

*Colaborou: Jussara Mangini

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