Movimento Capitalismo Consciente incentiva a transformação das organizações em ambientes de desenvolvimento e harmonia

Por: GIFE| Notícias| 18/05/2015

Imagine você trabalhando numa empresa que, ao invés de uma gerência de marketing e comunicacão, tivesse uma gerência de entretenimento? E, que se fosse cliente deste mesmo negócio, ao invés de receber o retorno de uma atendente do famoso SAC, você encontrasse na sua caixa de e-mail uma mensagem de uma “encantadora”, parte integrante da gerência de encantamento?

Pode parecer um tanto diferente? Pois isso é o dia-a-dia de quem convive e se relaciona com a Meu Móvel de Madeira (MMM), uma loja virtual de móveis sustentáveis, com sede em Rio Negrinho, interior de Santa Catarina. A empresa, que começou em 2006, começou a ganhar novos processos internos e uma gestão diferenciada – incluindo essas nomenclaturas inovadoras para as áreas – a partir de 2011.

À frente da mudança está Ronald Heimrichs, que mais do que um CEO, é o “responsável por manter a criatividade e a cultura da empresa”, como se autodenomina. Ele assumiu o negócio em 2012 e foi motivado a pensar em como poderia deixar um legado. “A pergunta que me trouxeram: ‘Se sua empresa deixar de existir vai fazer falta para o mundo?’ A resposta é: Só vamos conseguir fazer isso deixando marcas consistentes no mundo e não no balanço financeiro”, conta.

A partir de muita leitura, conhecendo experiências de outros negócios e sendo motivado por líderes inovadores, a empresa decidiu parar e pensar de fato para que existia: “Antes, a nossa missão era aquela tradicional, que se coloca na parede e busca-se palavras do dicionário para compô-la. A partir de uma profunda discussão interna, descobrimos de fato qual era o nosso grande propósito neste mundo. O que queríamos era muito mais do que vender móveis. A nossa missão passou a ser: ‘fazer da sua casa o melhor lugar do mundo’”, ressalta Ronald.

A partir daí, a MMM estabeleceu seus dez valores, que servem para avaliar uma pessoa para contratação, para analisar o seu desempenho e também para desligá-la da empresa, caso seja necessário. “Queremos pessoas que tenham os nossos valores. E isso foi talvez a nossa grande diferença. Agora, temos um objetivo comum que está escrito nas paredes, impresso nas camisetas, mas, muito mais que isso, está gravado no coração de todos nós”, destaca o empresário.

Ronald explica que a gestão passou então a compartilhar mais as decisões, se tornou mais próxima das pessoas no dia-a-dia, incentivendo e motivando a inovação. Todos passaram a ser chamados a ter responsabilidade e maturidade. E isso foi se expandindo para as relações com os fornecedores, clientes e todos os stakeholders.

Com essa nova maneira de se fazer, Ronald encontrou um grupo de empresários que também buscam atuar de uma forma diferenciada no cotidiano. E foi aí que, no ano passado, ele chegou ao “Movimento Capitalismo Consciente”.

“O mais interessante do movimento é que ele não estipula normas a serem seguidas, como uma ISO, por exemplo, mas é possível perceber muitas semelhanças entre as empresas, que estão buscando fazer algo diferente. E reunir esse grupo é fantástico, pois todos têm um propósito maior que o lucro”, ressalta Ronald.

Novas práticas

O Capitalismo Consciente é uma filosofia baseada na crença de que uma forma mais complexa de capitalismo está emergindo, que tem o potencial para melhorar o desempenho das empresas e, simultaneamente, promover a qualidade de vida de bilhões de pessoas. O movimento Capitalismo Consciente desafia os líderes empresariais a repensar por que suas organizações existem e a reconhecer os papéis de suas empresas no mercado global interdependente.

O Movimento começou no Brasil em 2009. Um pequeno grupo de líderes empresariais entendeu que seria possível transformar as empresas em ambientes de desenvolvimento e harmonia. Havia a compreensão de que o crescimento desta ideia faria com que os seus próprios integrantes passassem por um processo de transformação e que a força do grupo estava na cocriação e compartilhamento. E, assim, foi criada a “Rede de Líderes Conscientes – RLC”.

Em 2011, um encontro de brasileiros da RLC, em Austin (EUA), com o Conscious Capitalism, abriu a oportunidade de uma integração com o Movimento Conscious Capitalism criado por John Mackey (co-fundador da rede de supermercados WholeFoods), Raj Sisodia (Professor do Babson College, co-fundador e co-presidente do Conscious Capitalism) e outros membros da comunidade acadêmica e empresarial.

Hoje, o Capitalismo Consciente Brasil é uma associação sem fins lucrativos, na qual a governança é formada por membros voluntários, que visa promover os conceitos de capitalismo consciente em seus quatro princípios: Propósito, Stakeholders, Liderança e Cultura.

São negócios que adotam um propósito maior que transcende a maximização do lucro; são gerenciados para o benefício simultâneo de todos os seus stakeholders interdependentes; a liderança é impulsionada pelo serviço ao propósito da empresa e foco na entrega de valor para os stakeholders; e as culturas dessas empresas são muito tangíveis para os seus stakeholders, bem como aos observadores externos: pode-se sentir a diferença quando se entra em um negócio consciente.

“A ideia é sair do paradigma: o objetivo da empresa não é gerar lucro, mas gerar valor. O lucro é o valor do acionista. O funcionário, por exemplo, quer outro tipo de valor. É por isso que é preciso criar espaços de escuta. E quando a empresa passa a ouvir o outro, tudo muda. E isto tem que começar pela liderança. Não se trata de um movimento revolucionário, mas de cima para baixo. O líder tem que investir nas coisas que acredita, ter autoconhecimento e propor ações”, comenta Thomas Eckschmidt, diretor geral do movimento Capitalismo Consciente Brasil.

De acordo com Thomas, o primeiro passo para qualquer organização que pretenda “gerar prosperidade de forma humanizada”, é pensar no seu real propósito, ou seja, a diferença que vai causar no mundo, e traduzí-lo nos diversos relacionamentos, construindo relações colaborativas. Outro ponto é deixar de lado a tradicional barganha na negociação de preço, para pensar no real valor das coisas. “Um fator fundamental do processo é começar a incorporar linguagens de mediação no mundo do stakeholders e aprender a escutar as necessidades do outro, saindo daquele jogo de ‘ou é assim ou não tem negociação’”, comenta.

Para disseminar esses princípios, o movimento Capitalismo Consciente no Brasil busca compartilhar práticas conscientes que as empresas aplicam, por meio de cursos, encontros, eventos, palestras e materiais no site da associação. A ideia é inspirar novas iniciativas de se fazer negócio, que gere “felicidade para todos”, comenta Thomas.

O diretor do movimento lembra também que há uma diferença em relação à responsabilidade social empresarial, devido às suas origens dentro da empresa, como expressão de uma perspectiva global sobre a forma de conceber e construir um negócio ao invés de uma resposta às noções externas do que conta como “”socialmente responsável”” ou pressão externa.

“A RSE nem sempre começa no propósito, como uma concessionária que utiliza incentivos fiscais para fazer atividades culturais, ambientais, esportivas, mas sem qualquer associação direta com o fato de cuidarem da estrada. Se fossem de verdade fazer algo que tem a ver com o seu propósito, que poderia ser – ‘trazer e levar você com segurança para a sua casa’-, as iniciativas deveriam estar ligadas à essa questão de ‘segurança’. Assim, deveriam, por exemplo, ajudar na iluminação das comunidades ao redor. Tem que fazer parte do DNA da empresa”, comenta Thomas.

Resultados positivos

Quem vive essa “nova maneira de gerir os negócios”, como a Meu Móvel de Madeira, enfatiza que os resultados têm sido positivos.

“Quando o resultado financeiro passa a ser consequência e não o fim, é impressionante como ele vem e muito mais. Os clientes percebem isso e hoje têm um relacionamento muito mais forte conosco porque não é só um produto. Eles se identificam com algo maior que faz a diferença na vida das pessoas” , ressalta o proprietário da MMM.

E esta participação passa a ser maior dentro da própria empresa também. O Dia do Voluntariado na MMM, por exemplo, tem o engajamento de 85% dos profissionais. “Trata-se de um índice muito acima do esperado para iniciativas como essa”, comenta Ronald. Nesta data, parte do “time” vai a uma escola próxima da empresa e realiza atividades, como reorganização da biblioteca, campanha para doação de livros, pequenas reformas no espaço etc.

Outro projeto realizado pela empresa são os cursos oferecidos para os alunos da região. A MMM recondiciou alguns computadores que não estavam mais sendo usados pela equipe e os funcionários foram motivados a compartilhar seus conhecimentos em designer, produto, logística para os jovens do território. Em 2014, 50 alunos participaram de atividades todas às noites na empresa. “Foi muito bom ouvir outro dia de um funcionário: ‘Eu sempre quis fazer o bem, só não sabia que podia fazer isso numa empresa’. Essa frase resume tudo”, ressalta o empresário.

O diretor do movimento traz alguns números que enfatizam essa mudança de postura interna das empresas e as consequências diretas para o próprio lucro das mesmas. Segundo Thomas, o engajamento nas grandes empresas é muito baixo, de acordo com pesquisas: só 30% estão engajados; 50% não têm engajamento nenhum; e 20% estão muito desengajados. Porém, quando essas empresas começam a aumentar o engajamento dos funcionários/fornecedores/clientes, e estes passam a ter vontade de produzir, de dar ideias e de se manisfestar, o impacto é direto.

A média de valorização das ações das empresas nos EUA ao longo de 15 anos é de 100 a 150% . Já aquelas que têm um nível de engajamento muito superior no mercado, com práticas mais conscientes, a valorização das ações chega a 1800%. “Isso tudo é porque você cria uma cultura de compartilhamento coletivo. Todos saem ganhando”, ressalta Thomas.

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