O desafio do desenvolvimento local como uma ação de cidadania

Por: GIFE| Notícias| 06/11/2006

Nereide Mazzucchelli *

Desenvolvimento. A expressão por muito tempo esteve associada a crescimento econômico. Na prática, foi preciso intensificar os debates acadêmicos para se entender melhor o novo significado da palavra, muito além das nuances que permeiam o fato gerador de riqueza e desenvolvimento.

Quando se fala em desenvolvimento regional há que se associar o novo conceito à promoção da cidadania, à qual cada ação está por si só naturalmente vinculada à razão de ser do homem, dos interesses coletivos, e, por conseqüência, do potencial – e das capacidades – de todos os indivíduos de uma mesma localidade.

Atuar para transformar comunidades excluídas social e territorialmente em comunidades produtivas exige um amplo trabalho de identificação, de conscientização e de capacitação de líderes locais para promover o desenvolvimento sócio-econômico da região. É uma missão possível cujo resultado depende de intensos trabalhos.

Ao desenvolver um projeto de desenvolvimento local para a iniciativa privada, temos de tratar não apenas do valor agregado pela ação da empresa, mas também alertar a todos os envolvidos na organização sobre o risco de dano agregado, o qual na maioria das vezes não é percebido no primeiro momento por aqueles que implantam projetos; dano que, dia menos dia, a empresa terá que pagar alto preço por falta de planejamento e ressarcir a comunidade pelo erro.

O exercício da responsabilidade social pode, como uma das suas resultantes, contribuir para a imagem da empresa, agregar valor ao negócio, mas não deve ser a meta principal.

Para que projetos ou ações com objetivos de desenvolvimento social, econômico e ambiental tenham sucesso é preciso atuar de forma integrada. Quando me refiro às comunidades, falo do conjunto de atores que atuam na região; cidadãos e organizações civis, iniciativa privada e poder público.

A vivência ao longo dos anos nos ensinou que é preciso fortalecer as comunidades capacitando-as por meio de suas lideranças, das organizações e seus gestores. Não é possível obter resultados em saúde, educação, cidadania ou desenvolvimento econômico se a comunidade não souber quais são os resultados esperados e como ela vai fazer para alcançá-los. Ou seja, é impossível chegar com receitas prontas. Ainda vivemos os resquícios de anos sem participação. É preciso ensinar a comunidade a participar, construindo canais de relacionamento.

Criar um canal de relacionamento entre a comunidade e a empresa contratante é o principal objetivo da missão. E um passo muito importante nessa questão é conscientizar os habitantes locais sobre os benefícios que a empresa irá trazer para a região. Esse entendimento mútuo mostrará como essa interação promoverá ações para o desenvolvimento da localidade.

Na expedição deste ano a seis municípios amazônicos aprendemos muito. A região foi escolhida pelo preciosismo de sua diversidade biológica, pela fragilidade a que fica exposta quando falamos em desenvolvimento sócio-econômico, pelas novas tecnologias introduzidas e ainda pela dualidade que há entre desenvolver e preservar, visto que conservar não significar excluir ou isolar seus habitantes.

O bom planejamento tem que começar com uma equipe de ponta, composta por sociólogos, ambientalistas, advogados, economistas e peritos em novas tecnologias. Ainda estamos na análise do que vimos. Mas qualquer proposta deverá ser desenvolvida na direção de melhorias de qualidade de vida e respeito à preservação.

E o Brasil está mudando assim… De um lado, uma transformação silenciosa está acontecendo nas comunidades excluídas socialmente. De outro, vê-se, territorialmente, mudanças sensíveis nas comunidades produtivas.

Pelas razões acima expostas e por inúmeras experiências de resultado é que os profissionais envolvidos numa ação social devem vincular a necessidade econômica à questão social. Com planejamento cuidadoso e de forma integrada: cidadãos, organizações civis, iniciativa privada e poder público.

* Nereide Mazzucchelli é socióloga e urbanista- com experiência na formulação e implementação de programas, planos e projetos voltados para o desenvolvimento sustentável, em várias regiões do Brasil e no exterior.

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