O Fórum Social e o outro mundo possível

Por: GIFE| Notícias| 14/02/2005

Já na marcha que abriu o 5° Fórum Social Mundial, a proposta do encontro ficou clara: dar voz e vez a qualquer um que se dispusesse a se deslocar a Porto Alegre e manifestar sua posição.

Na parada, que segundo as fontes oficiais tinha 200 mil pessoas, havia desde militantes trotskistas que lançavam velhas palavras-de-ordem – “”O povo unido jamais será vencido”” – até jovens secundaristas que experimentavam pela primeira vez a sensação de poder sonhar que um outro mundo é possível. Empresários com propostas de comércio mais justo; comunicadores defendendo democracia na circulação de informação; políticos e seus seguidores; feministas; gays, lésbicas e simpatizantes; artistas.

Essa polifonia, a multiplicidade de vozes como proposta, contrasta fortemente com modelos políticos pré-queda do Muro de Berlim (1989). Se antes as ideologias dominantes apontavam para dois modelos alternativos de sociedade (uma capitalista, em que o Estado garante a propriedade privada, e outra comunista, em que o Estado se faz presente em praticamente todas as esferas), hoje manifestações como esta já não apontam para um ou outro modelo, pelo contrário, têm como valor fundamental a diversidade.

A própria organização do Fórum reflete isso: tem lideranças fortes, mas não tem dono; tudo é decidido por um coletivo de representantes das organizações que promovem o evento; as deliberações são por consenso, não por maioria simples ou absoluta; não há documento final; não há posição oficial do Fórum. O instrumento político é o diálogo. A idéia, em resumo, consiste em facilitar essa polifonia, em criar espaços e tempos para que os cidadãos se encontrem, conversem e formulem propostas e estratégias para superar desafios os mais variados – da educação de adolescentes ao manejo sustentável da Amazônia.

Ao final do evento, mais de 350 dessas propostas foram entregues à organização. Tal como as palavras-de-ordem da marcha inicial, não são propostas que remetem a um único modelo de sociedade. São propostas talvez menos ambiciosas do que as que ocorriam nos movimentos de esquerda pré-89; por outro lado, são mais práticas, mais específicas. Na verdade, analisando muitas dessas propostas, nem fazem mais muito sentido à divisão esquerda-direita.

A cobertura da maior parte da mídia dá um contorno um tanto exótico ao evento, selecionando certos episódios, como as vaias ao presidente Lula, como se fossem uma manifestação de um todo, e não de pequenos grupos. Mas de fato o Fórum gera um certo estranhamento: aonde tudo isso vai nos levar, se é que nos leva a algum lugar? Que outro mundo é este que se anuncia como possível?

Para quem se acostumou com capitalismo e comunismo como as duas alternativas de sociedade, o que mais incomoda nessa nova forma de manifestação política é a falta de síntese, a inexistência de um centro, a ausência de uma teoria que dê conta dessa proliferação de desejos e vozes. Mas parece ser essa a proposta central do Fórum Social Mundial.

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