O impacto efetivo será fundamental

Por: GIFE| Notícias| 17/10/2013

Andre Degenszajn*

Considerando o Brasil, um dos países mencionados no artigo inspirador de Matthew Bishop, há fortes expectativas de que o número crescente de bilionários leve a uma expansão da filantropia. Mas não podemos esperar que ela siga os mesmos caminhos trilhados por países anglo-saxões, onde a tradição filantrópica é bastante enraizada. O Brasil, país conhecido por suas desigualdades, ainda enfrenta o desafio de aumentar a quantidade de dinheiro doada a causas públicas, assim como de desenvolver seus próprios modelos de filantropos.

Há enormes barreiras fiscais e legais para gerar um ambiente mais favorável à filantropia no Brasil. Em primeiro lugar, e acima de tudo, o Brasil tem uma alíquota muito baixa de imposto sobre herança, que funciona como um desincentivo à criação de fundos patrimoniais — e, estranhamente, o mesmo imposto é aplicado sobre as doações filantrópicas. Assim, as pessoas ricas no Brasil são menos impelidas a seguir os passos de Bill Gates ou Warren Buffett, que comprometeram grande parte de sua riqueza para a filantropia. Ao contrário, elas têm usado sua riqueza, capacidades e influência para contribuir com políticas públicas mais eficientes em áreas como educação e meio ambiente.

Especialmente em função dos recentes protestos que tomaram as ruas em várias cidades do Brasil, é difícil prever a evolução das percepções públicas sobre filantropia. Mas talvez seja possível afirmar que a filantropia não tem uma reputação muito boa e é geralmente vinculada a práticas assistencialistas, que dificilmente produzem transformações efetivas. E as novas gerações de pessoas ricas tendem a seguir diferentes caminhos, frequentemente envolvendo-se na promoção de investimentos de impacto ou desenvolvendo mecanismos de mercado com finalidade social.

Se há um receio de uma “crescente influência plutocrática”, questão pertinente levantada por Bishop, ela tenderia a crescer independentemente de qualquer atividade filantrópica. Na realidade, se a filantropia for capaz de produzir transformações reais, ela também poderá contribuir com uma percepção pública mais favorável em relação aos super ricos. O impacto efetivo produzido por suas ações pode ser o elemento crítico para levar o pêndulo para um lado ou para o outro.

* Andre Degenszajn é Secretário-Geral do GIFE

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