O papel do investimento social privado e das organizações do terceiro setor no combate ao câncer infanto-juvenil no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 15/09/2003

CAPDEVILLE WERNECK
Coordenador de projetos Instituto Ronald McDonald. Autor do livro O Combate ao Câncer Infanto-Juvenil no Brasil – Uma Visão Social

As instituições que compõem a rede de combate ao câncer infanto-juvenil se beneficiam do momento favorável vivenciado pelo terceiro setor, mas se desenvolvem e se sedimentam na percepção de um conjunto de valores que antecede a essa mobilização ocorrida na década passada. Nem por isto o surgimento de novas demandas, trabalhadas pelos atores interessados na efetiva resposta às suas ações, deixou de exigir um reposicionamento em seus níveis de transparência e comunicação com seu público, decorrendo daí inéditas e constantes exigências internas.

O retorno do investimento social no combate ao câncer infanto-juvenil no Brasil transcende as realizações vinculadas à causa.

A parceria, que se desenvolve há mais de 15 anos entre órgãos públicos, empresas e instituições, atingiu, em vários aspectos, a sua maturidade e neles desenvolve um processo de evolução agora num estágio de refinamento.

Por exemplo, a prática da responsabilidade social destaca a importância da identidade com a causa como formador do vínculo que agrega à imagem institucional um caráter de “”propriedade”” dessa causa. Focar numa demanda social permite à empresa associar à sua imagem a de socialmente responsável. E o processo de gestão empresarial, ao conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social no tocante ao foco, torna esse envolvimento com a causa maior e de melhor retorno que qualquer doação.

Atuando no apoio aos pequenos pacientes e seus responsáveis, desde a confirmação de seu diagnóstico até suas altas médica e social, este trabalho, com ações para a garantia da não interrupção do tratamento, fornecendo às crianças passagem, hospedagem, exames, alimentação, roupas e próteses, oferece uma significativa contribuição para os atuais níveis de cura. No apoio às famílias, promove sua reintegração social, seja pela capacitação para geração de renda, ou pela consciência de seus direitos e deveres como cidadão.

As instituições de apoio balizam suas ações no fato de que o tratamento e seus resultados são diretamente afetados pela assistência que lhe será oferecida, onde são levados em conta o perfil da equipe de saúde atuante, disponibilidade de recursos de diagnóstico, tratamento e reabilitação, e a agilidade na sua operacionalização.

Aquelas com maior capacidade de intervenção atendem a requisitos mais complexos e desafiadores. Destinam seus recursos para a melhoria das condições hospitalares, desde adequação de espaço físico até a capacitação tecnológica. São inúmeros os casos de reformas das instalações físicas e de aquisição de novos equipamentos em hospitais públicos por iniciativa dessas organizações. Esta atuação, longe de constituir-se em ingerência no setor público, é fruto das parcerias dele com a comunidade, agindo como agente de mudança e doadora de recursos, e com a iniciativa privada, também doadora de recursos, bens e serviços.

Atuando na complementaridade do tratamento médico, esses atores têm obtido um retorno do investimento social privado no combate ao câncer infanto-juvenil que podemos sintetizar numa frase: eles transformam a dor em sorrisos.

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