O potencial transformador do trabalho com desenvolvimento institucional de organizações de base comunitária

Por: GIFE| Notícias| 30/06/2014

De acordo com dados do IBGE, existem no Brasil cerca de 290 mil organizações da sociedade civil. O número é tão expressivo quanto complexo de ser detalhado. Esse universo contempla uma ampla diversidade de entidades – diferentes em natureza, tamanho e campos de atuação. Nesse enorme caldeirão estão desde as grandes fundações, que contam com recursos privados e públicos significantes, até as pequenas instituições, que sobrevivem de doações e financiamentos pontuais (a grande maioria).

Olhar para essa massa de organizações sociais que enfrenta o desafio diário da sustentabilidade financeira é revelador: muitas contam apenas com trabalho voluntário e pequenos aportes de recurso – de empresas, órgãos públicos, outras organizações sociais ou pessoas físicas – para cumprir a missão social com a qual se comprometeram.

Na outra ponta da régua, grandes institutos, empresas e fundações, estão se despertando para a importância de investir em pequenas organizações de base comunitária. Nesse sentido, uma parceria de ganha-ganha acaba se consolidando: as entidades de pequeno porte conseguem recursos físicos, financeiros e acesso a capital intelectual para se desenvolverem, enquanto grandes investidores fortalecem uma ampla rede de ação social, potencializando seu trabalho Brasil afora.

Nessa linha, não é raro encontrar atualmente editais para financiamento de projetos, programas de formação continuada para organizações sociais e parcerias de execução de projetos entre grandes financiadores e entidades de atuação local.

Tania Zapata, associada do IADH – Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano, cita no estudo Projeto BNDES-Desenvolvimento Local – Cooperação Técnica do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o quanto é transformador o investimento em organizações de pequeno porte, com ação em pequenas comunidades. “Através da estratégia para o desenvolvimento comunitário, a comunidade amadurece em relação a si mesma e a seus potenciais, rompe seus casulos e desabrocha para novas possibilidades”.

O próprio GIFE, em seu novo posicionamento, reforça objetivamente o papel do investimento social na construção e fortalecimento de redes e parcerias e desenvolvimento do capital social existente nas comunidades. Dessa forma, o investimento se orienta como importante catalizador de recursos financeiros e indutor de negócios de impacto social.

Recurso transformador

Elenice Vieira Kreusch, representante da Rede Três Marias (de Minas Gerais), uma organização da sociedade civil com caráter de instância participativa voltada para o desenvolvimento local do município, comenta o quanto transformador foi para a entidade receber um recurso da RedEAmérica, uma rede temática, formada por fundações e institutos que realizam investimento social privado, com enfoque no desenvolvimento de base.

“Nosso grupo é formado por representantes de organizações sociais do município, além do poder público e de algumas empresas. Representamos 14 instituições que, até pouco tempo, quase não se falavam. Cada um era voltado para seu próprio projeto. Hoje, estamos mudando essa realidade”, conta.

A mudança começou quando o Instituto Votorantim e o BNDES, por meio do Programa ReDes, apoiaram a consolidação do grupo. Organizados, eles começaram a desenvolver iniciativas independentes do próprio investimento do programa. A Rede Três Marias ganhou força e autonomia.

Foi quando chegou o investimento da RedEAmérica. O Fundo Comunidade em Rede viabilizou a reforma de um espaço do município, o Tênis Clube, e permitiu a criação de um curso de formação de lideranças sociais. “Fomos selecionados entre vários outros proponentes e recebemos uma verba de 50 mil dólares. Foi uma enorme conquista, algo que veio para ajudar.”

Na formação, que já começou e vai até janeiro de 2015, os representantes de organizações locais aprendem a construir projetos, organizar as finanças das entidades, captar recursos, acessar verbas públicas, prestar contas e muito mais. “O objetivo é refletir sobre a nossa realidade, pensar no futuro e desenvolver novos potenciais.”

Elenice celebra a chegada do investimento e comenta a importância de organizações investirem no desenvolvimento institucional de pequenas entidades. “Esse trabalho despertou um sentimento novo entre a gente: a união. Somos muito gratos e acho muito valioso o trabalho das grandes empresas e institutos que investem nos pequenos. Compartilhando o conhecimento é possível um maior potencial de replicação.”

Fortalecendo organizações sociais

Muitos institutos, empresas e fundações possuem iniciativas consolidadas voltadas para o fortalecimento de organizações da sociedade civil. Entre eles, o programa Desenvolvimento Institucional do Instituto C&A busca, desde 2009, contribuir com o processo de desenvolvimento de pequenas entidades. Entre diversos temas, o trabalho elegeu alguns campos focais como dimensão de atuação: identidade, ação social, gestão e mobilização de recursos.

Outro investidor nessa linha é o Instituto Walmart (IWM). “Entendemos que trabalhar para fortalecer o capital social das comunidades faz parte do nosso DNA, por estarmos inseridos em uma empresa de varejo. Dessa forma, em 2010, foi criada a Caravana Instituto Walmart com a perspectiva de identificar e dar voz ao que as organizações estavam fazendo”, explica Adriana Mariano, gerente do IWM.

Nos últimos três anos, o instituto tem trabalhado com capacitação presencial de organizações pelo Brasil, além de disponibilizar uma plataforma online para que as entidades possam compartilhar experiências e aprender mais sobre mobilização comunitária.

Em 2014, a Caravana tem como foco a melhoria de gestão das organizações de base. Para isso, ao longo do segundo semestre, serão disponibilizados na plataforma seis módulos de capacitação com os seguintes temas: Importância das Organizações Sociais para o Desenvolvimento Local, Modelo de Gestão, Gestão de Projetos, Apresentação de Relatórios, Prestação de Contas e Comunicação.

Lucas Oliveira, coordenador de relacionamento do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren), que participou da edição de São Paulo da Caravana, comenta o valor que o aprendizado do encontro proporcionou para sua instituição. “Foi muito bacana esta integração das organizações e a possibilidade de entender como é possível estabelecer uma parceria. As dicas apresentadas sobre como formular um projeto foram muito interessantes. Foi inspirador.”

O Instituto C&A, o Instituto Walmart e o Instituto Votorantim são associados GIFE

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