O terceiro setor e o futuro da sociedade

Por: GIFE| Notícias| 28/05/2001

Walter Feldman

Ao final de seu monumental relato sobre a democracia na América o jovem diplomata francês Alexis de Tocqueville discorre sobre os riscos de um novo despotismo que poderia surgir justamente do Estado democrático. Segundo ele a sobre-valorização da individualidade poderia gerar um mundo no qual cada um só se preocupasse consigo mesmo e com seus próprios interesses. Com isto o Estado assumiria um terrível potencial de tutela sobre todos os outros assuntos.

Diz com sabedoria Tocqueville:

“”Vejo uma multidão de homens semelhantes e iguais, que sem descanso se voltam sobre si mesmos, à procura de pequenos e vulgares prazeres com os quais enchem a alma. Cada um deles afastados dos demais, é como que estranho ao destino de todos os demais. Seus filhos e seus amigos particulares constituem para ele toda a espécie humana. Quanto ao restante de seus concidadãos, está ao lado deles mas não os vê; toca-os, mas não os sente, existe apenas em si e para si mesmo””.

Neste ambiente de indiferença para com o resto da humanidade o despotismo encontraria campo fértil para desenvolver-se até que em determinado ponto o livre arbítrio passaria a ser desnecessário em todas as coisas públicas, seríamos todos governados por uma máquina eficiente e paternalista que – palavras de Tocqueville – “”não dobra a vontade, mas a enfraquece; nunca destrói, mas impede de nascer; nunca tiraniza, mas reduz a todos a um rebanho servil””.

O pesadelo de Tocqueville, tão realista em alguns momentos da história posterior – o que revela seus méritos – vai se tornando mais improvável na medida que se vê brotar o terceiro setor.

Os excessos do individualismo que tanto atemorizavam Tocqueville encontram um antídoto na colaboração voluntária de tantas pessoas e instituições. Sem dúvida isto demonstra que a solidariedade, mais do que uma simples bandeira, é um sentimento inato do ser humano. Basta que se liberte este sentimento dos grilhões do egoísmo para que a solidariedade volte a nascer.

Este importante evento certamente tranqüilizaria Tocqueville pois demonstraria que mesmo em um ambiente com tanto estímulo ao individualismo e às relações impessoais, ainda assim há pessoas que são incapazes de ser indiferentes aos destinos do resto da humanidade, que estão dispostos a abrir mão de parte de seu tempo e seus recursos para melhorar a vida dos demais.

Este tipo de solidariedade é a melhor salvaguarda contra esta nova encarnação do despotismo que o diplomata francês anteviu.

* Walter Feldman, 47, médico, é presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

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