ONGs prestam serviços para garantir recursos

Por: GIFE| Notícias| 26/02/2007

Rodrigo Zavala

Uma das expressões mais ouvidas nas áreas administrativas de organizações não-governamentais é, sem dúvida, “”raspar o osso””. Dependentes de financiamentos e patrocínios para manter projetos e o quadro de funcionários, não é difícil ver equipes sendo reduzidas, ou mesmo atendimentos serem interrompidos por falta de verba.

A solução encontrada por algumas ONGs para tentar minimizar esse problema foi abrir pequenos negócios que aproveitem a expertise adquirida nos trabalhos sociais que realizam. Nessa conta todos parecem ganhar: a instituição recebe recursos, seus colaborados são remunerados e a organização aumenta seu raio de prospecção para captar recursos.

Um dos exemplos mais notáveis vem de São Paulo. Com dez anos de atuação em educação comunitária no município, a ONG Cidade Escola Aprendiz conseguiu uma façanha no ano de 2006: tornou-se 50% auto-sustentável. Segundo explica a diretora geral da organização, Natacha Costa, a entidade manteve-se durante anos exclusivamente por meio de patrocínios e, assim, via minguar programas toda a vez que os investidores diziam não.

“”Além de conter gastos, principalmente os custos fixos, estruturamos a organização para também prestarmos serviços nas áreas em que nos tornamos referência””, lembra. Entre as ações sociais que realiza, o Aprendiz (como é conhecido) oferece formação de educadores, intervenções estéticas urbanas e serviços de bufe. Nada de canecas, camisetas ou cartões.

Para Natacha, isso só foi possível porque houve um tempo de maturação da equipe de profissionais envolvidos com os trabalhos, quando a ONG qualificou sua estrutura. Outro ponto levantado pela diretora é que, por meio da prestação de serviços, a organização aumentou exponencialmente o número de possíveis doadores, que investem os outros 50%.

Em Salvador (BA), a jornalista e diretora da ONG Cipó – Comunicação Interativa, Anna Penido, não conseguiu ainda fazer sua entidade auto-suficiente. No entanto, criou um fundo de apoio para os períodos mais difíceis e eventualidades com os recursos que obtém da Cipó Produções. Trata-se de uma área negocial organização, que, ao prestar serviços de comunicação, gera recursos e constitui-se como uma oportunidade de inserção qualificada no mercado de trabalho dos jovens egressos dos programas de formação da Cipó.

“”Os desafios desse trabalho está em ser do terceiro setor e trabalhar como o segundo. É preciso pensar em uma terceira via, a de empresas sociais””, argumentar Anna. Na visão da comunicadora, existe uma linha fina que definirá se o trabalho é realizado a partir da missão e dos princípios que a ONG segue. “”E isso é o complicado.””

Apesar dos obstáculos enfrentados, a Cipó Produções venceu o Prêmio Empreendedor Social Ashoka-McKinsey em 2001. O concurso, aberto a organizações sem fins lucrativos, apóia entidades a planejar e implementar profissionalmente suas idéias de negócios, aliando sustentabilidade, geração de recursos e impacto social.

“”As idéias desenvolvidas ao longo do concurso, consistem em negócios com impacto social, alinhados com a missão das organizações. São idéias que contribuem com a sustentabilidade das organizações participantes mas que também geram renda para as comunidades atendidas por estas organizações””, explica Ane Ramos, coordenadora do Centro de Competência para Empreendedores Sociais Ashoka-McKinsey.

Outro lado – Um dado importante vem de quem quer doar. Especialistas em investimento social afirmam que, além da transparência e da prestação de contas, as grantmakers buscam projetos que se tornem sustentáveis. Assim, organizações sociais estrategicamente planejadas têm mais facilidades na hora de captar recursos.

Segundo o coordenador de projetos do Fund for Global Human Rights na África, Leonardo Amaral, os fundos mundiais não apenas analisam o impacto das ações para dirigir seus recursos, mas também a permanência desse trabalho. “”São projetos de longo prazo e seus gestores devem diversificar sua fonte de financiamento””, afirma.

O problema é diagnosticado pela diretora do Programa de Direitos Humanos da Fundação Ford, Denise Dora. A organização apóia projetos por 10 anos, porém ela lembra quando passou a fazer parte do staff da fundação: “”existiam projetos que recebiam financiamento há 15 anos. Os gestores dessas organizações me odeiam porque eu disse que já era hora de buscarem novos patrocinadores””.

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