Opinião- O papel das organizações sociais na formação política dos jovens

Por: GIFE| Notícias| 05/07/2013

Célia Schlithler*

Já nem é possível somar quantos foram às ruas em todo o Brasil desde este histórico junho de 2013. Igualmente, é praticamente impossível ler todas as análises que estão transbordando desde então. Quase todos os analistas concordam, porém, que esta multidão de pessoas se juntou à manifestação do Movimento Passe Livre porque mantinha represada a vontade de expressar sua insatisfação com os serviços públicos, a corrupção, os políticos e tudo mais que foi entrando nesta lista.

Não resta dúvida também de que as mídias sociais – equivocadamente chamadas de “redes sociais” – foram o novo veículo de interação que levaram, aí sim, a rede social a ganhar vida, cara, cores e uma concretude desconcertante.

Atônitos, governantes, partidos políticos, movimentos sociais foram reagindo de supetão. E muita gente de bem se apavorou com a terrível possibilidade de que um movimento nacionalista comandasse o povo na rua, conduzindo-nos para uma nova ditadura, sem partidos políticos.

Temores do que vai acontecer daqui para frente são muitos: extrema direita, extrema esquerda, bandalheira, facções criminosas – todos poderiam estar infiltrados nas manifestações. Deve haver um pouco de tudo, mas o maior pesadelo seria restar a imagem de que os resultados desta incrível movimentação foram muito pequenos e de que não adianta ir para as ruas.

Infelizmente, os arautos da desmobilização estão espalhados por todos os cantos, fazendo o que podem para que essa versão cresça. Junto, vêm as críticas de que não há pautas claras, proposições, agendas.

É necessário, porém, olhar para o que está acontecendo com lentes novas e não com as de sempre, porque é um fato novo, um espetacular fenômeno de rede, sem centro, espalhado, multiliderado, colaborativo.

Muito embora adultos, idosos e crianças estejam participando das manifestações, é evidente a maioria de jovens, muitos deles universitários. Há que se considerar o peso que a inclusão de jovens de baixa renda no ensino superior está tendo nesta participação, inclusão que permite um tipo de interação muito mais diversificada e menos segmentada do que nos ensinos fundamental e médio. Além, é claro, do acesso a outro grau de educação para as classes populares – com a ressalva de que se a qualidade do ensino fosse outra, bem melhor seria…

No entanto, apesar de todo o entusiasmo que sentimos ao ver a manifestação popular e as novas gerações não “alienadas”, é natural temermos que o movimento morra ou de que seja “manipulado” por determinados grupos.

Estes temores existem porque todos nós sabemos que nossos jovens não têm formação política. Ou alguém acha que a maioria dos manifestantes conhece a Constituição Brasileira, sabe o fundamental papel que devem exercer os Conselhos Municipais, para que serve uma audiência pública, quais as plataformas (?!) dos partidos políticos, como uma lei pode ser proposta e os passos para sua aprovação, quais são os direitos dos cidadãos?

O que mais se ouve é: “odeio política”. O grito “sem partido!” bramido nas ruas parece muito mais significar “nenhum partido me representa” do que qualquer outra coisa. O problema é que qualquer outra coisa pode entrar no lugar do nada, quando não há formação política.

Por isso, é urgente e necessário que todos que trabalham com educação assumam seu papel neste momento histórico. As escolas e universidades, sem dúvida, mas aqui quero me dirigir às organizações sociais que atuam com crianças, adolescentes e jovens. Aos investidores sociais – empresas, institutos ou fundações – que formulam programas focados na educação com tanto esmero. Assumam seu papel na formação política das novas gerações!

Precisamos de pessoas bem formadas nas instâncias de participação da sociedade civil, na gestão pública, nos partidos, nos parlamentos. Com boa formação, elas poderão propor e realizar mudanças, trazendo um sopro de vida e novos ares ao que está mofado, engessado, corrompido e desacreditado.


*Célia Schlithler é consultora de OSCs, institutos e fundações empresariais em desenvolvimento de equipes, redes e comunidades, com trabalhos para a RedEAmerica e institutos Arcor, Camargo Correa, Votorantim, entre outros.

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do GIFE ou de seus associados. Sua veiculação nos canais de comunicação do GIFE tem como objetivo estimular o diálogo sobre os desafios e oportunidades para o campo social, tal como refletir sobre as tendências do setor.

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