Organizações ainda relutam em investir na captação de recursos

Por: GIFE| Notícias| 19/08/2002

ROBERTA PAVON

Acontece nesta sexta-feira (23) e sábado (24/8), em São Paulo, o quinto módulo do curso Ferramentas de Gestão, com o tema Sustentabilidade e Captação de Recursos. A aula será ministrada pela diretora de marketing da Care Brasil, Lygia Fontanella, que fala sobre o assunto em entrevista ao redeGIFE.

redeGIFE – Existe alguma fórmula de captação de recursos que pode ser aplicada a qualquer organização? Quais aspectos devem ser observados quando a estratégia de captação for desenvolvida?
Lygia Fontanella – As estratégias de captação de recursos dependem dos projetos que a organização executa, do alcance das suas atividades e da sua capacidade de investimento. Para que uma organização tenha sucesso em sua captação de recursos é importante que ela realmente deseje o apoio de outras pessoas e empresas, o que, embora pareça simples, demonstra a sua consciência de que realiza um trabalho social e de que existem muitas pessoas que querem ajudar. Ou seja, que a causa é de interesse de todos, e não só da organização.

redeGIFE – De acordo com diversas pesquisas, grande parte da população tem disposição de doar bens ou dinheiro para organizações sem fins lucrativos. A senhora acha que esse potencial é bem aproveitado pelas entidades?
Lygia – Eu estou cada vez mais convencida de que as pessoas querem e podem ajudar. O nosso desafio é justamente chegar às pessoas e às empresas com propostas que satisfaçam suas expectativas. O potencial não é aproveitado pelas organizações porque sua capacidade de investimento não é alta e, embora haja grande necessidade de recursos, a área de captação nunca é uma prioridade.

redeGIFE – Quais os principais desafios de sustentabilidade que as organizações brasileiras enfrentam?
Lygia – O maior desafio é garantir investimento suficiente para implantar a área de captação e acreditar que os resultados chegarão. Reconhecer a importância da comunicação neste processo e, acima de tudo, desejar profundamente que outras pessoas e empresas doadoras “”pertençam”” à organização e que “”dividam”” a satisfação dos resultados alcançados.

redeGIFE – Enquanto muitas organizações reclamam da falta de dinheiro para seus projetos, a senhora afirma que elas também não têm disposição para investir numa área de captação de recursos. Por que isso ocorre?
Lygia – Para investir na área de captação de recursos são necessário recursos financeiros para manter uma equipe e para pagar as despesas com materiais etc. Normalmente, os grantmakers (organizações financiadoras) não financiam projetos como este. Portanto, é necessário investir recursos próprios para esta atividade. Uma área de captação pode demorar de seis meses a um ano para começar a apresentar resultados, ou seja, captar mais do que investe. Poucas ONGs, fundações e institutos têm esta capacidade de investir por tanto tempo sem ter retorno e, muitas vezes, não acreditam que no longo prazo a ação trará resultados. É uma questão de ter dinheiro para investir e, principalmente, de estar certo de que está tomando a decisão correta.Uma forma de “”convencer”” a organização é mostrar que captar recursos é importante porque garante que as atividades continuarão e que o serviço para as comunidades vai acontecer. Se a organização tem certeza de que presta um bom serviço, ela não tem o direito de “”deixar de existir””, principalmente por falta de dinheiro. E mais, a sociedade quer participar e ajudar pois a causa também a emociona e a preocupa, e cabe às organizações facilitar esta participação por meio de doações. As pessoas querem e devem doar, mas a obrigação de pedir é das organizações.

redeGIFE – Que tipo de relação a senhora vê entre a comunicação e a captação de recursos?
Lygia – As pessoas e as empresas não doam para organizações desconhecidas. Mas ser conhecido não significa ser citado nos jornais. É fazer chegar informações sobre seu trabalho às pessoas através de folhetos, voluntários, visitas, casos, histórias reais, indicações etc. Para se alcançar isso é muito importante usar os instrumentos e os recursos da comunicação.

redeGIFE – Que tipo de formação um profissional que capta recursos deve ter? Há uma escassez de profissionais bem preparados no mercado?
Lygia – Não há escassez de profissionais. Existem muitas pessoas que têm interesse e que podem ser capacitadas para a captação de recursos. Mas, como já disse, a principal dificuldade que existe é que as organizações não possuem capacidade para investir na área de captação. Para trabalhar nela, é necessário ter um profundo interesse pela causa da organização, ter grande capacidade de comunicação, muito dinamismo, visão estratégica, habilidades para negociação e otimismo. Fundamental é ser capaz de “”traduzir”” para a linguagem do potencial doador todo o jargão da área social.

redeGIFE – Um dos pontos abordados em sua aula no curso Ferramentas de Gestão será “”As fases que compõem um processo de captação de recursos””. Quais são essas fases?
Lygia – São os seguintes: definição da meta de captação, o prazo para se alcançar este objetivo monetário, pesquisar os potenciais doadores, elaborar propostas e abordagens para cada tipo de potencial doador, visitar as pessoas e empresas, elaborar e enviar materiais promocionais, agradecer as doações, montar a equipe e garantir os recursos necessários para a atividade, fidelizar os doadores e avaliar as iniciativas de acordo com os retornos obtidos.

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