Organizações buscam consenso sobre o termo tecnologia social e sua difusão

Por: GIFE| Notícias| 31/01/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A Fundação Banco do Brasil promoveu em São Paulo, no último dia 19 de janeiro, um encontro entre organizações sociais, universidades e institutos de pesquisas para apresentar a proposta de estruturação de uma Rede de Tecnologias Sociais (RTS). O objetivo é apoiar o desenvolvimento sustentável mediante a replicação de tecnologias sociais, estimulando sua adoção pelas políticas públicas.

São inúmeras as organizações que desenvolvem novas propostas para a resolução de problemas sociais em diversas áreas nas quais falta atendimento no país e que podem fazer parte da rede. No entanto, existe certo debate em torno de qual seria a definição ideal para o conceito de “”tecnologia social”” e de que maneira ela pode e deve ser difundida e replicada.

“”Não sei se vamos conseguir chegar a um consenso sobre o termo. Deve haver diversos entendimentos sobre o que seja e o que podemos ter é um DNA comum, uma solução efetiva na resolução de problemas sociais, que tem como principal característica a replicabilidade. Talvez nem seja bom ter consenso. Talvez a pluralidade seja um elemento de riqueza que nos ajude inclusive a começar a enxergar outras coisas neste âmbito””, afirma Luis Fumio, diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia da Fundação Banco do Brasil (veja a entrevista completa nesta edição).

De acordo com a Fundação Banco do Brasil, tecnologia social é todo produto, método, processo ou técnica criado para solucionar algum tipo de problema social e que seja simples, de baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto comprovado. Ela pode ser criada por uma comunidade ou no ambiente acadêmico e aliar saber popular e conhecimento técnico-científico. Mas deve, essencialmente, ter eficácia multiplicável, propiciando desenvolvimento em escala.

A Fundação mantém um Banco de Tecnologias Sociais, que divulga ações bem-sucedidas nas áreas de educação, saúde, meio ambiente, alimentação, energia, habitação e renda, visando a troca de experiências entre atores sociais e a replicação dos projetos, e o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, criado em 2001 para identificar e apoiar essas iniciativas.

Já o Instituto Ayrton Senna atua diretamente na criação, implementação, avaliação e sistematização de tecnologias. No final de 2003, a organização criou o Centro Avançado de Tecnologias Sociais, parte da estratégia de disponibilizar a outros atores conhecimentos e práticas para o desenvolvimento humano. A diretora executiva do instituto, Margareth Goldenberg, conta que o maior desafio é desenvolver programas sociais e educativos que gerem conhecimento de ponta útil aos três setores da sociedade brasileira – governos, empresas e ONGs – interessados em melhorar as condições de vida, educação e integridade da infância e juventude, público prioritário da organização.

Esse conhecimento é o que o Instituto define como tecnologia social, ou seja, um conjunto de princípios, conceitos, métodos e práticas pedagógicas e gerenciais com resultados avaliados e prontos para serem aplicados em larga escala em diferentes contextos, considerando toda a diversidade brasileira. “”Para a construção de uma tecnologia social consistente deve-se traçar um caminho triplo: ético, técnico e político. Uma tecnologia social deve unir a competência técnica – ferramentas eficientes e eficazes para alcançar resultados – com o compromisso ético com a causa e a mobilização de vontade política para alcançar as transformações necessárias””, explica Margareth.

Evelyn Ioschpe, diretora-presidente da Fundação Iochpe, acredita que não existem mecanismos suficientes para reconhecer e alavancar novas tecnologias sociais. Para ela, isso seria solucionado se os governos tivessem ouvidorias capazes de detectar os movimentos da sociedade civil, bem como estruturas orgânicas que os reconheçam. Bancos de fomento poderiam apoiar estes processos e agências de pesquisa deveriam ter um laboratório de experimentação social do terceiro setor em sua pauta.

Em seu entendimento, se tecnologia vem do grego techno, significando arte ou habilidade especial de executar ou fazer algo, tecnologia social vem a ser a habilidade de executar ação na área social. “”Ou por outra: para alcançar o desenvolvimento social é necessário lançar mão de tecnologias que façam frente aos problemas diagnosticados. As tecnologias sociais costumam ser desenvolvidas em ′laboratório′, isto é, em pequena escala, passando a políticas públicas depois de devidamente testadas e aprovadas””, explica Evelyn.

O diretor da Fundação Projeto Pescar, Rubens Hemb, identifica tecnologia social como o produto de uma ação social que demonstra sucesso pelos resultados e que padroniza os seus processos e controles a ponto de poder ser replicada em diferentes comunidades. Ele acredita que hoje ainda existem muitas ações sociais isoladas e, por isso, ficam “”escondidas”” umas no meio das outras. “”As tecnologias desenvolvidas já estão sendo reconhecidas, mas ainda não são bem difundidas. O apoio forte de meios de comunicação a casos de sucesso poderia facilitar a adesão de mais empresas ou comunidades, sem precisar fazer sempre algo inédito, mas algo que possa, a partir de modelo existente, ser desenvolvido por aquela empresa ou comunidade.””

Margareth Goldenberg, do Instituto Ayrton Senna, defende que a principal questão não é a difusão, mas a forma como se constroem as tecnologias sociais. Segundo ela, uma tecnologia social só pode ser entendida como tal se tiver sido formulada por meio de identificação e diagnóstico da situação que pretende solucionar; aplicada em diversos contextos com resultados positivos; ter elementos que garantam a aplicabilidade em escala; ser avaliada e aperfeiçoada. Só depois ela pode ser colocada à disposição de outros atores sociais.

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