Organizações devem superar mitos nas relações com os conselhos

Por: GIFE| Notícias| 04/11/2002

Boa parte dos conflitos existentes entre conselhos e equipes técnicas poderia ser suprimida se as pessoas lidassem melhor com os mitos em torno destas relações. Esta é a opinião de David Smith, diretor da Business and Enviroment Management Service, da Jamaica. Smith esteve no Brasil, em outubro, a convite do GIFE e do Instituto Synergos, para ministrar aos associados do Grupo a Oficina de Desenvolvimento de Conselhos.

Confira a entrevista concedida ao redeGIFE após o evento:

redeGIFE – Por que as pessoas criam mitos em torno dos conselhos?
David Smith – Muitas vezes ouvimos ou vemos coisas e nunca perguntamos por que elas acontecem. Quando achamos que um conselheiro não se comporta da forma que gostaríamos, criamos explicações para este problema antes de descobrir as causas reais. Isso também acontece do ponto de vista dos conselhos em relação à equipe técnica. Infelizmente as pessoas não falam diretamente uma com as outras, perguntando por que algo está acontecendo ou por que as coisas são feitas de uma certa maneira. Muitas vezes fazemos algo de um jeito porque aquilo sempre foi feito assim e nunca perguntamos: por que nós fazemos assim?

redeGIFE – Como estes mitos podem interferir no dia-a-dia das organizações?
Smith – Os mitos interferem no trabalho das organizações principalmente porque eles nem sempre são verdadeiros. As mensagens que carregamos ao observar o modo que as pessoas agem ou trabalham podem trazer uma influência negativa. Algumas vezes vemos algo no momento em que acontece, mas mesmo assim não entendemos porque aquilo aconteceu daquela maneira. Se não descobrirmos as verdadeiras motivações, perdemos a possibilidade de interagir com a situação, de mudá-la e até de nos educarmos para uma melhor compreensão. Nós nunca conseguiremos gerenciar uma situação que não compreendemos muito bem.

redeGIFE – Todas estas dificuldades podem levar a questionamentos sobre a necessidade de ter ou não um conselho. Os conselhos são necessários?
Smith – O conselho é importante. Ele ajuda a organização a fazer melhor seu trabalho. Se um conselho desempenha corretamente seu papel, a organização também o faz. Além disso, o ponto de vista de outras pessoas é muito importante. Se todos pensassem da mesma forma seria bom. Afinal, você seguiria em frente e faria o que desejasse. Porém, é muito importante para a equipe apreciar outras opiniões e se questionar por que ela acredita em algumas idéias ou age de certo modo. Devemos ter em mente que, às vezes, temos que mudar e que outro caminho é mais interessante. Por isso é muito bom ter a ajuda e o suporte de um conselho. Além disso, ele garante a transparência ao monitorar se a organização está desempenhando corretamente seu papel. E também ajuda dando as diretivas do caminho a ser seguido. Para uma fundação, um instituto ou uma ONG é muito importante considerar mais de uma opinião.

redeGIFE – Os conselhos então são a salvação de todos os problemas e dúvidas de uma organização?
Smith – Não. Com toda certeza não são. Muitas vezes os conselhos causam problemas que uma organização nem sabia que tinha. Um conselho não pode trabalhar sem a equipe técnica e vice-versa. Um precisa do outro, impreterivelmente. É como ter um belo carro sem motor. Ele é muito bonito, mas não vai a lugar nenhum.

redeGIFE – Por que a relação entre conselho e equipe técnica costuma ser tão tensa?
Smith – Um dos problemas é que as pessoas não têm muito claro o papel que cabe a cada uma delas. A equipe técnica muitas vezes não sabe exatamente o que o conselho deve fazer ou não explica o que ela quer dos conselheiros. Do outro lado acontece a mesma coisa. O conselho não está muito seguro da capacidade da equipe e não diz claramente o que espera e o que deseja. Nas organizações, é comum encontrar descrições de cargo para cada um dos membros das equipes técnicas, mas o papel dos conselheiros nunca é muito claro. A descrição de cargo para o conselho também é muito importante. Isso é fundamental para a equipe não entrar na seara do conselho e os conselheiros não realizarem o trabalho da equipe.

redeGIFE – Por que os conselhos têm uma ânsia em desempenhar papéis que nem sempre cabem a eles, como administrar o dia-a-dia das organizações?
Smith – Depende de diversos fatores, como das circunstâncias que levou uma pessoa a ser convidada para fazer parte do conselho. Algumas vezes ela aceita o convite, pois vê um problema, quer muito resolvê-lo e acha que integrando o conselho poderá pessoalmente liquidar a questão. Outras vezes, os conselheiros interferem muito, pois identificam fraquezas na liderança dentro da equipe. Depende muito de cada caso.
Na maioria dos casos, porém, a clareza que o conselho tem sobre seu papel vai ser fundamental para definir o sucesso ou não da relação com a equipe técnica. Se os conselheiros acharem que estão lá para resolver problemas pessoalmente, vai ser complicado. Muitas vezes eles podem sim ajudar a resolver os problemas, mas não como conselheiros. Certamente não será o melhor caminho.
Há também o fato de eles serem voluntários. Eles estãolá doando parte de seu tempo e têm uma grande disposição em ajudar. A equipe técnica tem que ser firme e dizer “”obrigado por seu tempo, mas não é esse o papel que desejamos que você desempenhe””. Esclarecer os papéis é o melhor caminho. Comunicação é a saída. É importante para o conselho dar as diretivas que eles desejam que sejam seguidas, é fundamental para a equipe que indique o que deseja do conselho e é importante para conselheiros e executivos que ambos estejam afinados antes que os problemas apareçam. É um trabalho contínuo. Sempre.

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