Orientação permite maior impacto das ações sociais de pequenas empresas

Por: GIFE| Notícias| 17/01/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

No último mês de dezembro, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) divulgou o estudo Responsabilidade Social das Micro e Pequenas Empresas em São Paulo. Os objetivos eram identificar qual a proporção das empresas desse porte que realizam ações sociais e quais os tipos de investimento feitos nessa área, além de apresentar proposições para aperfeiçoar os resultados das atividades.

Para isso, foi realizada uma pesquisa de opinião com 425 empresas de todo o estado. As entrevistas foram feitas com os donos das empresas e/ou com o gerente responsável pelo negócio e abordavam as ações em benefício da sociedade, a relação com os empregados, valores e transparência.

Os resultados apontaram que, nos 12 meses que antecederam o levantamento, a maioria das micro e pequenas empresas paulistas (74%) realizou ações espontâneas em benefício da sociedade. As mais comuns foram de caridade/filantropia (38%) e na área de saúde (29%), a maioria delas com doações em dinheiro (67%), de produtos da empresa (43%) ou de alimentos (21%).

Os empresários são motivados, especialmente, pelo desejo de colaborar com a sociedade (78%) e pela solicitação direta de instituições sociais (55%). Além dessas entidades, para as quais são direcionadas 75% das ações, os beneficiários mais comuns são as comunidades vizinhas (36%) e distantes (21%).

Porém, das 316 empresas que responderam realizar algum tipo de ação social, apenas 7% afirmaram fazer isso continuamente. A maioria (72%) não acompanha os resultados dos gastos realizados e 95% não divulgam suas ações. Entre os que não fizeram nenhum tipo de investimento na comunidade, a maioria alega falta de recursos (57%) ou nunca ter pensado no assunto (21%).

Em entrevista ao redeGIFE, Marco Aurélio Bedê, da Assessoria de Pesquisas do Sebrae-SP, fala sobre os principais resultados da pesquisa e a importância de estimular mais empresas de pequeno porte a realizarem ações para a comunidade, destacando aquelas que envolvam baixos custos financeiros e muita criatividade.

redeGIFE – 74% das empresas pesquisadas afirmaram ter feito algum tipo de ação social para a comunidade nos últimos 12 meses. Levando em consideração o tamanho e o orçamento dessas empresas, este número é significativo?
Marco Aurélio Bedê – Sim, o número é significativo. Foi o maior índice já identificado em uma pesquisa do gênero. Como a pesquisa abrange as micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo, onde existem 1,3 milhão de empresas desse porte e que representam 1/3 das empresas do país, esses 74% significam cerca de 960 mil empresas realizando alguma ação social no nosso Estado.

redeGIFE – É possível identificar por que 95% não divulgam suas ações sociais? Podemos considerar que premiações e reconhecimentos são uma boa forma de apoiar estas empresas na divulgação e na ampliação de suas ações sociais?
Bedê – Em parte, os donos de pequenas empresas ainda não perceberam que podem capitalizar em favor de sua empresa os resultados das ações sociais que realizam. Outro fator inibidor pode ser o dispêndio médio de apenas R$ 300 por ano, nas pequenas empresas. Porém, mesmo que a empresa realize ações de baixo valor, se essas ações forem de qualidade e ou de grande valia para a sociedade, o empresário não deve deixar de divulgá-las. Os prêmios oferecidos são uma boa forma de ampliação das ações sociais, pois realçam exemplos concretos. Algo que poderia estimular ainda mais empresas de pequeno porte seria dar destaque para ações que envolvam baixos dispêndios financeiros e muita criatividade. É preciso lembrar que os donos de pequenos negócios têm muita disponibilidade para realizar ações sociais, mas não necessariamente dispõem de recursos financeiros, devido às próprias características da maioria dos pequenos negócios.

redeGIFE – Uma das recomendações do estudo é capacitar entidades e organizações sociais para que possam abordar empresas (potenciais contribuintes) com maior profissionalismo.
Bedê – De uma forma geral, os pequenos empresários têm sensibilidade à solicitação de organizações do ramo. Não se deve esquecer, contudo, que o dono de um pequeno negócio acumula muitas funções tais como administrativa, comercial, de produção, etc, logo sua disponibilidade de horário é restrita. Assim, uma abordagem mais profissional e convincente, visando obter mais colaboradores, tende a ter maior sucesso.

redeGIFE – Apenas 7% afirmaram realizar as ações continuamente e só 28% controlam o impacto de suas ações sociais. O que é necessário para que as micro e pequenas empresas invistam com mais continuidade e avaliem o resultado das suas ações sociais para a comunidade?
Bedê – Embora apenas 7% realizem ações contínuas, quase 60% realizam ações quase todos os meses. Esse é um aspecto bastante positivo, pois a freqüência das ações é maior do que imaginávamos. Contudo, apenas 28% conhecem ou controlam o impacto de seus investimentos nessa área. Essa é uma questão que precisa ser melhorada. O monitoramento dos resultados é um importante instrumento para garantir a eficiência da ação. Os empresários de pequenas empresas se mostram razoavelmente motivados para realizar ações sociais. Muitos deles já passaram por dificuldades na vida e, até por conta disso, desejam colaborar para melhorar a sociedade. O que falta, talvez, é uma melhor orientação, referências ou exemplos concretos sobre como realizar ações sociais de maior impacto para a sociedade e mesmo para benefício de suas empresas.

redeGIFE – A que podemos atribuir o fato de 99% das empresas pesquisadas não contarem com incentivos fiscais?
Bedê – A maioria dos incentivos fiscais encontra-se no âmbito federal e estão associados ao regime de tributação do Lucro Real. Contudo, a maioria das pequenas empresas declara seu Imposto de Renda da Pessoa Jurídica por meio dos regimes do Lucro Presumido ou pelo Simples. Esses regimes, em geral, se adeqüam melhor às características das pequenas empresas e já possuem algumas vantagens tais como maior simplificação e/ou menor peso dos impostos. No âmbito estadual e municipal, os incentivos costumam limitar-se mais às atividades culturais, mas as ações sociais das empresas são muito variadas, apenas parte delas ocorre nesse meio. De uma forma geral, a falta de incentivos fiscais não deve ser vista como um impeditivo à realização de ações sociais. A responsabilidade social empresarial deve partir do princípio de que as empresas têm um papel importante no desenvolvimento da sociedade, independentemente de incentivos fiscais.

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