“Os conselhos administrativos ainda são espaços muito restritos a alguns grupos”, afirma Guibson Trindade

Por: GIFE| Notícias| 22/05/2023
conselhos administrativos

Responsáveis por definir e aprovar planos estratégicos de negócios, conselhos administrativos são essenciais para o funcionamento de qualquer empresa. No entanto, no Brasil, a maioria das empresas não conta com diversidade na composição de seus conselhos. De acordo com pesquisa  do Instituto Ethos sobre o Perfil Social, Racial e de Gênero, das 500 maiores empresas do Brasil apenas 4,9% são formados por pessoas negras. Para entender a importância de ampliar a diversidade nesses espaços, o GIFE conversou com Guibson Trindade, gerente executivo do Pacto de Promoção da Equidade Racial, criado em 2020 e que implementa o protocolo ESG Racial atualmente em 50 empresas no Brasil. 

Guibson Trindade, gerente executivo do Pacto de Promoção da Equidade Racial. Foto: Divulgação

Qual a importância de conselhos empresariais diversos para promover a equidade racial nas empresas?

Guibson Trindade: Desde que se começou a valorizar as campanhas de diversidade nas empresas essa pauta avança até certo nível hierárquico, mas não nos cargos de diretoria e sobretudo nos conselhos. Temos um desafio grande: estimular, promover e fazer com que as empresas compreendam a importância de garantir a diversidade em todos os níveis e sobretudo nos conselhos de administração, que são os grupos que trazem as recomendações e maturam as melhores práticas para essas empresas. 

Quais os benefícios tanto para as empresas, quanto para o investimento social privado, ao investir em conselhos mais diversos?

Guibson Trindade: A gente discute diversidade do ponto de vista operacional, mas os conselhos ainda são espaços muito restritos a alguns grupos. Chama atenção a falta de pessoas pretas e sobretudo de mulheres pretas. Muitas iniciativas têm sido tomadas para qualificação e formação de executivos para que estejam aptos a ocupar esses espaços. Mas, é preciso falar da resistência de algumas empresas para que essas pessoas possam ter cadeiras dentro desses conselhos. Muitas pesquisas comprovam o ganho que a diversidade traz para as empresas. Sobretudo, do ponto de vista de que com representatividade há um leque de novas ideias e soluções para os problemas. 

Por que ainda existe essa resistência em algumas empresas?

Guibson Trindade: O Brasil é um país extremamente machista e racista. A baixa representatividade nesses espaços vem de um discurso de falta de profissionais negros qualificados para posições de liderança e conselhos. Com as mulheres negras têm aspectos histórico culturais bloqueando o acesso a essas posições. Hoje várias organizações estão se empenhando para qualificar conselheiros e conselheiras, trazendo executivos de ponta com bagagem e formação excelentes. Mas, é preciso que as empresas façam a reflexão interna de onde estão falhando e onde podem otimizar as possibilidades de garantir diversidade nos seus quadros. 

Temos vivido um período em que as empresas estão investindo mais em programas trainees e de lideranças voltados para pessoas negras. Como avalia essa estratégia?

Guibson Trindade: Muitas vagas eram ocupadas por indicação de pessoas que já estão nesses assentos. E normalmente há a cultura de indicar uma pessoa semelhante a você. Então dificilmente a diversidade furava esses bloqueios. Os programas de trainee e de acesso interno das organizações são um caminho muito importante, mas ainda são muito pequenos frente ao   volume da demanda. 

Uma pesquisa do Banco Mundial de 2022 mostra que cerca de 60% dos trabalhadores informais no Brasil são negros. Essa parcela da população ocupa apenas 6,3% dos cargos gerenciais e menos de 5% das posições executivas. É possível relacionar esses dados com a necessidade de conselhos empresariais mais diversos, e com o protocolo ESG Racial?

Guibson Trindade: Não podemos mais discutir o racismo de forma subjetiva. Hoje o protocolo ESG Racial é a única ferramenta no mundo que tem um índice que mensura o desequilíbrio racial nas empresas, não só nas posições de liderança e conselho, mas também nas iniciais, além de dar um caminho para elas solucionarem esses problemas a médio e longo prazo. Esses indicadores precisam servir de estratégia para que elas corrijam essas falhas. Não podemos fingir que vivemos numa democracia racial quando mais de 50% da população é preta e esses profissionais não estão nas posições de liderança, nem sendo absorvidos pelas empresas, porque elas permanecem repetindo ciclos perversos que retratam toda a discriminação que há mais de 130 anos a gente sofre como preto no Brasil.


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