Os dilemas e os conflitos estão evidentes

Por: GIFE| Notícias| 26/06/2006

Rodrigo Zavala

Depois de quase uma década de atuação, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social já começa a sinalizar uma nova etapa no movimento. Com o enriquecimento do debate e as novas práticas empresariais, a fase de esclarecimento e conscientização do conceito foi superada pela discussão sobre mudança do padrão de relacionamento no mercado e da gestão dessas empresas.

Em entrevista do redeGIFE, Paulo Itacarambi, diretor executivo do Instituto Ethos, afirma que, graças a essa mudança, estamos atravessando uma época em que os questionamentos sobre responsabilidade empresarial e investimento social privado estão mais evidentes.

Segundo ele, o Congresso Ethos 2006 mostrou que o movimento de responsabilidade social de empresas evoluiu. “”Uma mudança do padrão de negócios, nas relações com o mercado. E isto está começando a ficar mais claro para sociedade e mesmo para as empresas””, acredita.

redeGIFE – Com o término do Congresso Ethos 2006, como você analisa a evolução do debate depois de sete edições?
Paulo Itacarambi – Hoje nós estamos debatendo os dilemas e os conflitos necessários a serem superados para o avanço do movimento. Em um primeiro momento, o movimento da responsabilidade social estava focado em esclarecer o conceito, principalmente nas diferenças entre mudar a gestão dos processos da empresa e fazer investimento na comunidade, que são práticas distintas.

Por outro lado, conseguir que as pessoas entendessem que nós temos três fenômenos em andamento. Um fenômeno é a benemerência; é valorizar o bem. Um segundo fenômeno é o crescimento do terceiro setor, das organizações sociais, que adquiriram poder, capacidade de ação e mais responsabilidade. Isso ficou muito focado nos últimos eventos.

O terceiro fenômeno é a mudança do padrão de atuação das empresas, a mudança do padrão de negócios, a mudança das relações do mercado. E isto está começando a ficar mais claro para sociedade e mesmo para as empresas.

redeGIFE – Mas qual é o grande impeditivo para a aceleração desse processo?
PI –
Para muitas empresas essas mudanças ficaram claras, mas tem muita empresa que confunde ou quer confundir. Tem muitas organizações da sociedade civil que confunde ou quer confundir. A mídia ainda confunde também.

Acredito que estamos em um momento em que esse esclarecimento está sendo feito e aparecem, de uma vez por todas, os dilemas e os conflitos. E nós estamos discutindo esse terceiro fenômeno agora, o das possibilidades de mudança do padrão de relacionamento no mercado e da gestão dessas empresas.

redeGIFE – Quando você fala relacionamento, aponta só para o mercado?
PI –
Não. Estamos falando das possibilidades reais de articulação de parceiras entre organizações do mercado, do Estado e da sociedade civil. Existe uma necessidade de pensar com outra cabeça ou então não vamos construir essas parcerias, não vamos construir essas alianças e é isso que está acontecendo. E este Congresso apresenta isso. Tanto nas discussões como nas propostas apresentadas.

redeGIFE – Nesse contexto, como está o debate entres responsabilidade social empresarial (RSE) e investimento social privado (ISP)?
PI –
O investimento social é uma prática importante pelo seguinte: nós temos problemas sociais acumulados no Brasil que são muito grandes e o Estado, sozinho, não resolve. Mais do que isso, que o conjunto da sociedade estabeleça que esses problemas são prioritários para o país.

E as empresas, ao fazerem o investimento, por mais que o alcance seja pequeno, com pouca escala, demonstram essa priorização e terminam influenciando políticas públicas para a solução desses problemas. E se esse investimento for articulado com políticas públicas ele ganha escala e ganha maior impacto. E aí está o GIFE, fornecendo metodologias para que o investimento social seja pensado como os investimentos econômicos. Agora, esse caminho sozinho não resolve. É preciso mudar toda a gestão da empresa para buscar a sustentabilidade.

redeGIFE – Mas é possível que a empresa comece a fazer investimentos sociais e, a partir daí, repense suas práticas?
PI –
Sim. É possível. Às vezes, a empresa se desperta para a importância da responsabilidade social compreendendo o fenômeno da benemerência. Ela começa a entender suas práticas por meio do interesse público, não apenas pelo interesse particular dela. Mas o importante é que ela pense nisso, seja pela porta do investimento social ou da responsabilidade empresarial. E independente qual porta entre, é fundamental que ela evolua para as outras.

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