Os direitos humanos e a crise

Por: GIFE| Notícias| 08/03/2010

Ingrid Srinath*

Além dos efeitos econômicos, a crise financeira, aliada à crescente escassez de recursos, deu origem a novas ameaças aos direitos das pessoas em todo o mundo. Muitos países que foram proclamados líderes em direitos humanos e na democracia estão agora fazendo vista grossa em relação às violações desses direitos em países e regiões que ganharam maior importância econômica.
Regimes repressivos em países da Eurásia reprimiram os defensores dos direitos humanos e não receberam condenação internacional por que ajudam países da Europa Ocidental a não depender de recursos energéticos russos. Regimes não democráticos (na Birmânia, na Etiópia e na América Latina) recebem a adulação dos países ao redor do mundo em função da competição por recursos e influência que existe no mercado.
Nas economias emergentes, muitos cidadãos de classe média agora abertamente endossam ou fazem vista grossa às violações de direitos humanos para proteger a sua prosperidade. Como o crescimento econômico desacelera no mundo em desenvolvimento, os governos recorrem à repressão e a mão-de-obra barata para subjugar o crescente descontentamento dos cidadãos que protestam contra as desigualdades.
A Índia enviou 75.000 tropas do exército contra os insurgentes no centro do país, o que resultou em um extermínio em massa contra representantes da sociedade civil ou de meios de comunicação.
No Sul global, onde o fluxo de ajuda e investimento é reduzido, ativistas contra a corrupção chegaram a impedir estão na mira de governos e empresas que vivem da impunidade. O desemprego e o aumento da pobreza extrema estão levando mais pessoas a viverem na fome, desnutridos, doentes e a encarar até morte.

As leis trabalhistas estão cada vez mais fracas com a queda dos salários e aumento da insegurança no emprego, alimento e renda.

A violência contra mulheres, crianças, minorias e população com deficiência é crescente. O deslocamento devido à escassez de recursos causados pelas mudanças climáticas e os conflitos civis ameaça regiões inteiras. O primeiro-ministro de Serra Leoa recentemente descreveu a situação atual como uma onda que varreu as melhorias desde o fim do conflito.
Por causa do déficit democrático das nossas instituições globais, o pragmatismo prevalece sob a luta pela recuperação da economia, e os incentivos comerciais em curto prazo ainda ocupam o lugar do que deveria ser uma verdadeira reforma no longo prazo.

*Ingrid Srinath é secretária-geral da CIVICUS.
E-mail: ingrid.srinath @ civicus.org

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