Os novos desafios e a virtualização do trabalho voluntário pós-pandemia

Por: Fundação FEAC| Notícias| 17/01/2022

O Via Conexão, projeto de mentoria da Fundação FEAC, é um exemplo de trabalho voluntário que nasceu em meio à pandemia (Foto: Fundação FEAC)

A pandemia colocou dois desafios ao trabalho voluntário. Atividade quase sempre presencial, ele teve de se reinventar para o contexto do isolamento social. A saída foi sua virtualização. Por outro lado, o agravamento de vulnerabilidades pede um voluntariado ainda mais comprometido e estratégico.  

Segundo a Pesquisa Doação Brasil, do Idis – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, apenas 12% dos brasileiros realizaram trabalho voluntário em 2020. Em 2015, foram 34%. A pesquisa aponta que a necessidade de permanecer em casa foi uma das principais causas da queda. 

Bruno Barcelos, consultor de responsabilidade social, avalia que “muitos programas corporativos e de organizações da sociedade civil tiveram de dar um passo para trás, pois cidadania naquele momento era ficar em casa”. 

Por outro lado, a pesquisa mostra que a pandemia mobilizou ações para combater seus efeitos: dentre as pessoas que realizaram trabalho voluntário, mais da metade delas (56%) doaram seu tempo para iniciativas de combate à crise sanitária.  

Agora, como manter o engajamento para além da pandemia? “O desafio é converter esse voluntariado de emergência em um mais comprometido com causas sociais. Temos que mostrar o impacto do voluntariado contínuo”, analisa Camila Stefanelli, líder do Programa Cidadania Ativa, da FEAC.  

Ampliando o alcance

Uma novidade que surgiu, motivada por esse contexto, foi a virtualização do trabalho voluntário. Bruno ressalta que já existiam atividades virtuais antes de 2020, mas “era uma prática muito incipiente e que a preferência sempre foi pela atividade presencial”. Foi essa necessidade de recuo justamente num período de urgência que colocou o voluntariado virtual como uma possibilidade.

Um dos principais benefícios do trabalho voluntário virtual é poder alcançar um novo público. Para Marcelo Nonohay, fundador e diretor da MGN Consultoria, especializada em terceiro setor, a virtualização fez o voluntariado chegar a lugares na periferia do país onde o trabalho voluntário não chegava.

A Fundação FEAC sentiu profundamente os efeitos da pandemia em suas atividades de voluntariado. “Nós trabalhávamos com atividades 100% presenciais, como mutirões para fazer reformas em organizações da sociedade civil. A gente nem falava em voluntariado on-line, não havia essa possibilidade”, explica Camila Stefanelli.

A pandemia, porém, mudou tudo. A fundação criou pela primeira vez um projeto totalmente virtual, o Via Conexão, programa de mentoria que conecta profissionais experientes a jovens, pessoas com deficiência e empreendedoras de territórios vulneráveis de Campinas. A aceitação da estratégia on-line surpreendeu.

“No momento em que tudo parou, as pessoas ficaram em casa, mas com grande vontade de ajudar os outros. Nós tivemos um engajamento maior do que com os projetos presenciais. Chegamos a ter o dobro de candidatos por vaga de voluntário”, conta Camila.

O Via Conexão também é uma amostra da expansão territorial do alcance, apontada por Marcelo. Mentorados de áreas periféricas de Campinas agora tem a oportunidade de se engajarem com pessoas de qualquer lugar do país (conheça a história da dupla Vanessa Sigalla, de Campinas, e Camila Mickievicz, de Brasília).

Tendências para o futuro

Para o futuro próximo, a aposta dos especialistas é que deve prevalecer um modelo híbrido de voluntariado. “Esse arranjo pode ser potente”, ressalta o consultor Bruno.

A FEAC teve a oportunidade também de experimentar essa potência com o projeto Lideração, que tem o objetivo de formar lideranças comunitárias em territórios vulneráveis. “Essa também foi uma iniciativa que surgiu 100% virtual, mas fomos percebendo uma queda no engajamento dos participantes. Colocamos algumas atividades presenciais e conseguimos reengajar”, diz Camila.

A líder acredita que, no cenário pós-pandemia, a solidariedade será ainda mais necessária: “O voluntário vem para potencializar projetos e ajudar na reconstrução no pós-pandemia. É o que acontece no Via Conexão especial para mulheres. As empreendedoras ficaram muito fragilizadas nesse período e o projeto age sobre isso.”

Na atual edição do Via Conexão, as 16 mentoras voluntárias são empreendedoras experientes, que apoiam mulheres de periferias de Campinas a desenvolver seu negócio próprio.

Sobre as tendências do voluntariado, os consultores também são otimistas. Marcelo acredita que o momento é propício para iniciativas empresariais por causa da visibilidade do tema ESG (ambiental, social e governança, em português).

Ele aponta a importância de pessoas públicas, como a Luiza Trajano, do Magazine Luiza, se envolverem. “Ela criou uma rede muito forte de voluntários”, diz. A empresária é líder do Grupo Mulheres do Brasil, que conecta mais de 98 mil voluntárias, distribuídas em núcleos municipais por todo o país.

Nesse cenário, o consultor ressalta ainda a relevância das mobilizações mais estruturais num âmbito municipal. “Vai ancorando no território, constrói comitês locais e junta as forças depois”, conclui, apontando para uma outra tendência do voluntariado para 2022.

Por Frederico Kling

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