Otimismo e cautela devem marcar investimento social privado em 2003
Por: GIFE| Notícias| 20/01/2003MÔNICA HERCULANO
Dirigentes de empresas e fundações e institutos de origem privada esperam um aumento do volume dos recursos investidos por eles na área social em 2003. Ouvidos pelo redeGIFE, eles apontam desde o otimismo com relação ao novo governo até o bom relacionamento que vem se estabelecendo entre os setores público e privado como explicação para esse crescimento. Porém, alguns executivos destacam que a injeção de recursos na área social será feita com cautela, em razão das mudanças pelas quais passa o país.
Para Miguel Milano, conselheiro do GIFE e diretor-técnico da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, o investimento social privado tende a crescer no Brasil, mesmo que ainda existam algumas incertezas econômicas e, em nível muito menor, políticas. “”Entendo que há um ambiente claramente favorável ao crescimento, como se pode deduzir do presente momento de sedução e cortesia entre os representantes do setor privado, da elite econômica nacional e do novo governo. O investimento social privado como tal, ainda que muitas vezes travestido com o nome pouco adequado de responsabilidade social empresarial, ou ainda, equivocadamente, de marketing social, tende a ser o ponto de junção perfeito entre o governo, a iniciativa privada e as organizações sociais na construção de um país com mais justiça social, mais respeito à natureza e ao meio ambiente, mais cultura, mais saúde. Enfim, um país melhor.””
Exemplo das relações cada vez mais estreitas entre os diversos setores da sociedade é dado por Francisco Azevedo, diretor executivo do Instituto Telemig Celular, ao falar das perspectivas para o investimento da organização em 2003. “”Deve aumentar não só o volume de recursos financeiros, mas, principalmente, a construção de parcerias e a articulação com os demais segmentos da sociedade para a implantação de novos projetos sociais””, explica.
Ele enumera outros fatores que motivam o crescimento do investimento social privado para o próximo ano. “”Hámaior sensibilização por parte dos empresários e compreensão sobre o novo papel que a sociedade exige das empresas, ′otimismo e esperança′ da população em relação à diminuição das graves desigualdades sociais do país, relativa estabilidade da economia e maior interação entre o terceiro setor e as empresas””, avalia Azevedo.
Heloísa Helena de Oliveira, presidente da Fundação Banco do Brasil, concorda que o otimismo é o principal elemento indutor neste momento. “”Acredito estarmos vivendo uma grande oportunidade de desenvolvimento construído sobre uma base sólida da estabilização econômica, mas com uma abordagem nova: a de que, para crescermos economicamente, é preciso inclusão social com investimento em educação e geração de renda.””
Para Maurício Medeiros, superintendente da Fundação Odebrecht, o cenário político-econômico nacional é favorável ao crescimento do investimento social privado. “”A opinião pública, a imprensa e, principalmente, os investidores internacionais estão atentos à postura responsável das empresas, cada vez mais considerada condição sine qua non para a realização de parcerias estratégicas, visando o desenvolvimento do capital humano, social, produtivo e natural.””
No Instituto Algar, de Uberlândia (MG), os investimentos devem aumentar cerca de 20%. Eliane Garcia, coordenadora executiva da organização, acredita que o volume de recursos também deve crescer no cenário brasileiro como um todo. “”Este é o único caminho para mudar esse país. As empresas e a sociedade estão cada vez mais conscientes desse papel””, diz.
O secretário executivo do Instituto Ronald McDonald, Francisco Neves, também avalia que o investimento privado precisa aumentar, porque não se pode mais fazer de conta que a dívida social que o país tem com seu povo não existe. “”Não me lembro de o Brasil ter uma oportunidade igual a que estamos vivendo para diminuir a desigualdade social. O terreno está fértil e, se soubermos plantar esta semente, nossos filhos e netos colherão os frutos. Só depende de nós””, entusiasma-se.
Cautela – Francisco Tancredi, diretor regional para América Latina e Caribe da Fundação Kellogg, é mais cauteloso e diz que os investimentos, tanto na sua organização quanto no cenário nacional, devem permanecer iguais em 2003. “”Permanecem iguais numa atitude de expectativa sobre como o novo governo vai dialogar com as fundações privadas e quão bem-vindos serão os investimentos sociais privados no novo cenário.””
A precaução também é observada no comentário do diretor da Fundação Bradesco, João Cariello de Moraes Filho. “”Toda a sociedade brasileira está na expectativa das definições para os cenários político e econômico. No entanto, nossas carências sociais não podem esperar.””
Ilona Becskeházy, conselheira do GIFE e superintendente da Fundação Estudar, lembra que a maior parte do investimento social privado ainda é praticada por empresas ou fundações e institutos de origem privada, sem a adequada dotação de longo prazo. Neste cenário, a volatilidade econômica acaba tendo importante impacto neste tipo de investimento.
O presidente do GIFE, Léo Voigt, faz a mesma avaliação. “”Sem dúvida, esta realidade e a necessidade de cortes em múltiplas áreas, afetarão asfundações que ainda são excessivamente dependentes das oscilações de mercado. Este cenário macroeconômico é claramente desfavorável ao investimento social privado. As fundações empresariais brasileiras só deixarão de ser vulneráveis se trabalharem efetivamente para a construção de endowments (fundos patrimoniais), a fim de garantirem sua independência definitiva””, analisa Léo.
Quadro – Nos últimos dois anos, o site do GIFE realizou, em dezembro, enquete sobre as perspectivas para o investimento social privado no ano seguinte. Em 2001, 87,6% das respostas eram otimistas com relação ao aumento do investimento em 2002. Neste ano, até agora, 73% das pessoas que responderam acreditam que, em 2003, os recursos destinados à área social devem aumentar. Há um ano, apenas 5,3% acreditavam numa diminuição do investimento social privado, mas neste ano, 15% pensam assim com relação a 2003.
Responda na coluna ao lado a enquete sobre as perspectivas para o investimento social privado.