Para diretor da L’Oréal, o Formare é um divisor de águas na cultura da fábrica
Por: Fundação Iochpe| Notícias| 18/02/2016Formare – Para você, qual é a relação do Formare com as diretrizes de sustentabilidade da L’Oréal, definidas em seu programa mundial Sharing Beauty With All?
Antonio Grandini – Quando entrei na L’Oréal conheci o Sharing Beauty With All, programa global da empresa que define uma visão clara de onde queremos estar em 2020, assim como as metas de sustentabilidade que precisamos atingir para chegar lá. Dentro deste programa há quatro pilares: inovar de forma sustentável, produzir de forma sustentável, viver de forma sustentável e desenvolver de forma sustentável. Dentro do último pilar, está o desenvolvimento das comunidades onde a L’Oréal atua. Para atingirmos essa ambição de protagonismo social e também suprirmos uma necessidade muito grande de criar um programa para desenvolver a qualificação das pessoas aqui na fábrica de São Paulo, elaboramos um curso profissionalizante chamado Academia de Manufatura – que forma alunos do entorno da fábrica como Operador da Indústria da Beleza.
Como eu já conhecia o Formare de outras empresas que trabalhei, pensei isso é Formare – de um lado você tem a ação social que acaba implantando na sua comunidade e do outro você tem profissionais treinados e qualificados pela empresa. Não tem coisa melhor do que você treinar e habilitar pessoas que no futuro pretende contratar. A ideia é que sempre que eu precise fazer contratações, possa fazer movimentações internas na minha estrutura, e no final busco um ex-aluno Formare.
Formare – Para você, o Formare influencia nas relações interpessoais dentro da empresa?
Grandini – Um aspecto que considero muito relevante é a mudança que o Formare traz para a cabeça dos colaboradores. Na verdade, acho que o Formare é um divisor de águas na cultura da fábrica. Ao atuar como educador voluntário, os funcionários acabam tendo uma percepção diferente das pessoas e da empresa. Entendem que a companhia possui uma responsabilidade social relevante e que oferece a oportunidade e a estrutura necessária para que atuem como protagonistas sociais. Todos demonstram uma grande satisfação em participar como voluntários e ajudar a desenvolver os jovens inscritos. A aceitação do programa na fábrica foi impressionante.
O que percebemos no grupo de educadores foi que a comunicação entre eles na operação mudou. Com a oportunidade que têm de praticar um projeto social, eles começaram a desenvolver um relacionamento diferente no dia a dia do trabalho: são mais efetivos, organizados e solidários uns com os outros. O fato do grupo de voluntários ser formado por pessoas de diferentes níveis e setores, que têm que se reunir para discutir a aula ou como ministrar a disciplina, acabou com a separação por áreas, agora todos são um grupo.
Formare – Em sua opinião, como o Formare atua no desenvolvimento profissional dos colaboradores que atuam como educadores voluntários?
Grandini – Há grandes habilidades desenvolvidas, como articulação, apresentação, poder de síntese, administração de crises, negociação de interesses diversos. No programa, estão envolvidas pessoas com níveis e condições totalmente diferentes umas das outras e um grupo totalmente heterogêneo de alunos, então tudo isso acaba forçando o educador voluntário a desenvolver habilidades que são importantíssimas no dia a dia. Essas características são fundamentais para você poder dizer se uma pessoa é um diferencial, se inspira ou não.
Formare – Por que continuar investindo em qualificação profissional neste momento que a economia brasileira não está muito bem? Mesmo neste cenário, a L’ Oréal inaugurou a Academia de Manufatura com o Formare. Por quê?
Grandini – A L’Oréal tem a estratégia de desenvolver o negócio a longo prazo, sendo uma referência no mercado de cosméticos mundial. A Academia de Manufatura L’Oreál faz parte do compromisso de sustentabilidade da empresa, Compartilhando a beleza com todos (Sharing Beauty With All), lançado mundialmente em 2013. O projeto está dentro de um dos quatro pilares do nosso compromisso, chamado “desenvolver de forma sustentável”, onde buscamos compartilhar nosso conhecimento com nossos colaboradores, com nossos fornecedores e também com as comunidades nas áreas de influência. Para a fábrica, ter mão de obra qualificada e treinada é fundamental. As pessoas estão no centro da estratégia. Não adianta ter capacidade financeira, técnica e uma marca maravilhosa, se as pessoas não realizam!
Formare – Na sua visão, qual o diferencial do Formare na preparação dos jovens para o mercado de trabalho?
Grandini – O grande diferencial é poder expor esse jovem, desde sempre, ao ambiente fabril e empresarial. Os jovens não estão vindo da escola fazer um estágio, eles estão tendo a oportunidade de cursar a escola dentro da empresa e com isso sairão profissionais realmente completos. Outro diferencial é o fato de que quem ministra as disciplinas e troca experiências com eles são profissionais bem sucedidos, com experiência e consagrados em suas profissões.
Formare – O que você falaria para um colaborador que não atua como voluntário para se tornar um EV?
Grandini – Acho que é a grande oportunidade que o colaborador tem de melhorar a sua própria condição como pessoa. No momento em que ele se engajar num projeto social, aquilo vai fazer muito bem para ele. Começamos um voluntariado com a falsa ilusão de que estamos ajudando alguém, mas na verdade estamos nos ajudando, esse é o grande motivo.
Formare – Você comentou que o Formare mudou a relação entre os funcionários que atuam como EVs. Isso contagiou os demais colaboradores também?
Grandini – Sem dúvida! O programa mudou o clima da fábrica como um todo. Há realmente uma situação antes e depois do Formare e da Academia. A vinda desses jovens pra cá foi muito importante, contribuiu para a mudança do ambiente. As pessoas percebem claramente, mesmo os que não são educadores voluntários.
Os funcionários estão começando a entender que o Formare está inserido em um dos pilares do programa de sustentabilidade da empresa, o Sharing Beaty With All. Além disso, todos concordam como é difícil achar mão de obra qualificada no mercado.
Formare – Podemos dizer que, além de todos os seus diferenciais, o Formare também representa uma economia no treinamento de pessoal e em processos de seleção? Por quê?
Grandini – Sim. Hoje além de ser difícil encontrar profissionais qualificados, temos um custo para buscá-los no mercado. Diria que com o Formare nós temos não uma economia de custos, mas o melhor uso deste recurso. Posso usar este valor para investir em qualificação dos profissionais e em melhores condições de trabalho para as pessoas. Vejo que, desta forma, estamos aplicando melhor e sendo mais efetivos com o uso deste recurso.
Formare – Há um programa de reconhecimento na fábrica de São Paulo. O Formare está inserido neste contexto?
Grandini – Criamos este programa recentemente. Da mesma maneira que divulgamos nossos processos em relação às medidas disciplinares, ou seja, às responsabilidades dos funcionários, também montamos o programa de reconhecimento para valorizar o certo.
Há alguns pilares que o sustentam: qualidade, segurança, performance, responsabilidade social, entre outros. A cada atitude positiva que um funcionário tenha em relação a estes pilares recebe uma determinada pontuação, em moedas que chamamos de “Lorreal”. Ao ser educador do Formare, o colaborador recebe uma determinada quantidade de pontos. Estimulamos o voluntariado, mesmo que ele faça alguma participação voluntária fora da empresa, nós reconhecemos.
Mensalmente premiamos os três funcionários mais bem pontuados, ou seja, que receberam mais “Lorreais” e no final do ano tem a premiação anual. Para que pudessem guardar suas moedas distribuímos cofres, em forma de porquinho, em branco e cada um decorou o seu como quis. Fizemos um concurso pelo Instagram e o porquinho eleito foi premiado, algo lúdico para ajudar no entendimento e absorção da ideia.
Formare – Imagine a seguinte situação: você está em uma reunião com representantes de várias empresas potencialmente interessadas em implantar o programa. Como você definiria e indicaria o Formare em poucas palavras?
Grandini – Se você quer desenvolver uma oportunidade onde tenha benefícios mútuos com relação à melhoria da condição da qualidade de vida dentro da sua empresa, se você quer que sua empresa assuma um papel protagonista na comunidade onde ela atua e se você quer resolver um problema sério de qualificação e desenvolvimento de mão de obra em longo prazo, o projeto ideal para isso é o Formare. O programa entrega claramente três soluções: formação, comunidade e qualidade de vida no ambiente de trabalho.
Outro ponto que eu ressaltaria é em relação ao custo. O projeto tem um custo, fato, mas podemos dizer que o Formare é sustentável do ponto de vista financeiro, porque o que suporta nossas despesas para poder manter o programa é a venda dos resíduos (reciclagem). Parte dessa receita financia o Formare.
Do ponto de vista de realidade financeira, econômica, considero o Formare um projeto social, de qualificação profissional, com alto valor agregado. Acho que isso complementa: são três pontos atendidos e a baixo custo.
(por Cris Meinberg e Juliana Mantovani, de São Paulo)