“Para ter sucesso na captação, as organizações precisam ter recursos”, constata Gelson Henrique da Iniciativa PIPA 

Por: GIFE| Notícias| 30/10/2023
periferias de São Paulo

 

Organizações da Sociedade Civil (OSCs) dedicam em média 120 horas à captação de recursos via editais e possuem dois profissionais focados especificamente nessa área, mesmo quando são pequenas. É o que mostra a pesquisa “Pequenas ONGs e a captação via editais”, produzida pela Iniciativa Pipa e pela Phomenta.

A captação de recursos para OSCs tem uma lista de estratégias, de leis de incentivo a doações e financiamentos coletivos. A captação via editais está entre os principais métodos.

No entanto, uma das constatações do levantamento da Pipa e da Phomenta, é de que o tamanho e a estrutura da OSC têm impacto direto na capacidade de obter recursos por essa via. Assim, as organizações que remuneram profissionais dedicados à captação têm uma tendência maior de sucesso. Bem como as organizações que são formalizadas juridicamente.

“Para conseguir recursos, é preciso ter recursos”

São critérios que atingem principalmente pequenas ONGs, como explica o diretor executivo da Iniciativa PIPA, Gelson Henrique.

“Ter profissionais focados na captação de recursos, garante mais êxito. E para isso, é importante ter remuneração e tempo. Organizações de periferia quase não possuem isso. São formadas por pessoas que possuem mais de um emprego e trabalham voluntariamente. A gente percebeu que para conseguir ter recurso é preciso já ter recurso.”

O estudo mostra que mais de 80% das OSCs com mais de sete pessoas contratadas tiveram sucesso na captação nos últimos dois anos, enquanto entre as OSCs classificadas como “nano” (sem pessoas contratadas), esse índice foi de apenas 41%.

É preciso disposição do ISP para processos mais simplificados

Apesar desse cenário, Gelson Henrique aponta que já existem editais de organizações e fundações que passaram a desconsiderar o CNPJ para o repasse de recursos, por exemplo. Uma iniciativa que pode facilitar a chegada dos recursos às organizações que ainda não tiveram apoio para fortalecimento institucional e formalização.

Para Gelson Henrique, um dos fatores que levam a esse quadro, é a falta de confiança. “[Financiadores] tendem a achar que CNPJ é o que diz ter confiança. Mas existem outros marcos de confiança. Inclusive, existem muitas organizações de periferia que possuem CNPJ e ainda assim não recebem recursos.”

Para gerar oportunidades equitativas, o diretor da PIPA acredita que é preciso disposição do Investimento Social Privado (ISP) em processos de captação mais simplificados. 

“[As pequenas organizações] não têm tempo de construir um planejamento estratégico, missão, visão, valores, de esperar o dinheiro chegar para começar a agir. Precisamos agir para dar conta da nossa existência. Então o principal impacto de uma reformulação no ecossistema é que essas pessoas que já trabalham muito, consigam fazer isso de maneira mais digna”, completa.


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