Parceria Boldrini-FEAC: a tecnologia a serviço da reabilitação de pacientes

Por: Fundação FEAC| Notícias| 28/03/2022

Atividade de prática de vôlei sentado reúne jogadores presenciais e arquibancada virtual. Crédito: Centro de Reabilitação Boldrini

Atividade de prática de vôlei sentado reúne jogadores presenciais e arquibancada virtual. Crédito: Centro de Reabilitação Boldrini

Uma parceria firmada em abril de 2021 entre o Centro de Reabilitação BoldriniRede Lucy Montoro, em Campinas, e a Fundação FEAC possibilitou ao hospital oferecer a modalidade de atendimento híbrido (presencial e remoto) aos seus pacientes. A vivência on-line era um caminho para aliviar o impacto das restrições trazidas pela Covid-19 na rotina de tratamento. “O projeto ‘Modelo de Reabilitação Híbrido para Grandes Incapacitados’ surgiu da necessidade de dar continuidade ao atendimento de pacientes que não estavam podendo ir ao centro de reabilitação devido à pandemia”, explica Viviane Machado, líder do Programa Mobilização para a Autonomia, da FEAC. O resultado vem superando as expectativas das equipes envolvidas. 

A unidade recebe cerca de 3,5 mil pacientes por mês que participam dos programas de reabilitação para grandes incapacitados. São pessoas que passaram por amputações, que possuem doenças degenerativas e incapacitantes, como a esclerose múltipla e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), pacientes pós-AVC, paraplégicos ou tetraplégicos que necessitam de cuidados especializados e de caráter multiprofissional.  

“Tem sido uma experiência exitosa. Os recursos audiovisuais foram fundamentais para uma nova configuração do trabalho de reabilitação. A construção de um cuidado eficaz a distância foi se consolidando aos poucos. É uma forma de acessar todos os pacientes e sua rede de apoio, tirando-os do isolamento imposto pela pandemia, sem penalizá-los com uma nova restrição”, diz Katia Cappellaro, coordenadora da assistência do centro de reabilitação e responsável técnica pelo projeto. 

Com o apoio da Fundação FEAC, que acreditou no projeto, custeou os equipamentos e vem monitorando o impacto da novidade, o Centro Boldrini adaptou os seus espaços com toda uma infraestrutura tecnológica (filmadoras, projetores multimídia, caixas de som, câmeras e telas para projeção), que hoje integra a rotina de atendimentos, com pacientes presenciais e a distância.  

Domingo com pipoca e Paralimpíada

A proposta que nasceu como uma ferramenta para enfrentar a crise sanitária extrapolou as necessidades básicas da rotina do tratamento e propiciou novas atividades. Entre elas, o ‘Domingo com Pipoca’, que reúne pacientes presenciais e de casa para assistir a um filme e discuti-lo em uma roda de conversa terapêutica. O projeto também propiciou, no ano passado, a realização da ‘Paralimpíada’, transmissão da prática de vôlei sentado no Centro de Reabilitação, com uma “arquibancada virtual”, formada por outros pacientes em casa.

Estas dinâmicas tiveram grande adesão. “Sentimos que os pacientes se apropriaram desses recursos, muitos solicitam continuar em contato nesta modalidade de acesso”, diz Katia. Uma das formas de interação que esta nova estrutura possibilitou foram as conversas virtuais entre pacientes em tratamento e ex-pacientes, que já passaram pelo processo de reabilitação.

“Quando os terapeutas identificam que o olhar e o sucesso de quem já passou pela etapa de reabilitação pode contribuir para o acolhimento, motivação e ressignificação de quem está iniciando este processo, é proposto um encontro virtual mediado por um terapeuta. O profissional apresenta as vivências de superação que o “ex-paciente” enfrentou, abrindo espaço para o paciente em tratamento tirar dúvidas, clarear um futuro e identificar novas possibilidades, muitas vezes ressignificando seu modo de ver e viver uma nova fase da vida”, conta Katia Cappellaro.

A troca também beneficia quem expõe a sua vivência, observa a profissional, ao perceber que a partir de sua história é possível contribuir com o processo de crescimento do outro. “A dinâmica favorece uma melhor adesão e participação em todas as etapas de reabilitação.”

Foi assim com a paulista Daniele Fernanda Mello de Schiavolin, 38 anos. Ela tem distrofia muscular, uma doença progressiva, e começou o tratamento no Centro de Reabilitação Lucy Montoro no final de 2019, quatro meses antes do início da fase mais restritiva da pandemia. No caso de Daniele, que sofre de dores crônicas, o tratamento a distância foi uma grata surpresa: a poupou do desconforto de precisar ir até o centro de reabilitação sem privá-la dos benefícios do processo.

“Existe uma Daniele antes e uma Daniele depois do Lucy Montoro”, diz ela, que além de todo o suporte remoto dos profissionais da psicologia, fisioterapia, nutrição, terapia ocupacional e serviço social, também começou a desenvolver on-line uma habilidade que já possuía, mas que a doença havia interrompido: a pintura. Com os progressos que teve no tratamento, testemunhado pelos profissionais que a acompanhavam semanalmente pelos meios remotos, ela conseguiu adaptar sua casa às suas necessidades, voltar a fazer pequenos serviços domésticos e retomou a prática da pintura.

Inspirada pela artista mexicana Frida Khalo, com quem guarda uma profunda identificação, ela fez releituras de obras da pintora, usando lápis de cor. Agora, prepara uma aquarela inspirada em Tarsila do Amaral para uma exposição em Santa Bárbara d’Oeste em abril, que vai comemorar os 100 anos da Semana de Arte Moderna. Daniele também alimenta um perfil no Instagram, onde compartilha seus trabalhos, momentos de sua vida cotidiana, além de informações importantes sobre a doença e formas de ajudar pessoas com deficiência.

Por Natália Rangel

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