Parceria entre empresa e terceiro setor apóia formação de empreendedores

Por: GIFE| Notícias| 24/01/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A Ashoka Empreendedores Sociais e a McKinsey & Company lançaram recentemente a publicação Perfil do Centro de Competência para Empreendedores Sociais Ashoka-McKinsey. O livro traz o histórico, as iniciativas e as realizações da parceria entre as duas organizações, que teve início no Brasil em 1996, com o objetivo de adaptar e transferir conhecimentos entre os setores privado e social.

Fundada em 1980, a Ashoka é uma organização global – presente em 52 países – sem fins lucrativos, que identifica e investe em empreendedores sociais. Atuando no Brasil desde 1986, conta com 231 fellows – líderes sociais que tiveram idéias inovadoras em diversas áreas, como meio ambiente, educação, saúde, desenvolvimento econômico, participação cívica e direitos humanos.

Empresa internacional de consultoria em alta gestão que presta serviços para empresas, instituições governamentais e grandes organizações, a McKinsey & Company foi fundada nos Estados Unidos em 1926. Tem mais de 80 escritórios em cinco continentes e, no Brasil, está presente há mais de 15 anos.

O Centro de Competência para Empreendedores Sociais (CCES), resultado da união entre as duas organizações, foi criado para fortalecer instituições da sociedade civil lideradas por empreendedores sociais identificados pela Ashoka, com o apoio estratégico dos funcionários da McKinsey. São realizados treinamentos, consultorias, concursos, intercâmbios e sistematização de informações, buscando profissionalizar as instituições para atingirem maior impacto social nos programas que desenvolvem.

Em entrevista ao redeGIFE, a coordenadora do Centro de Competência para Empreendedores Sociais Ashoka-McKinsey, Ane Ramos, fala sobre a publicação que conta a história do trabalho do CCES, os desafios e a evolução da parceria, a replicação do processo em outros países e a importância de apoiar o trabalho de novos empreendedores sociais.

redeGIFE – Por que fazer um livro sobre a parceria entre a Ashoka e a Mckinsey & Co. no Brasil?
Ane Ramos – Em 1996, a Ashoka e a McKinsey estabeleceram uma relação pioneira de parceria que resultou na criação do Centro de Competência para Empreendedores Sociais Ashoka -McKinsey (CCES). O Centro propõe um modelo de atuação que possibilita a transferência de conhecimentos e práticas do setor privado adaptadas para o setor social, otimizando e maximizando o impacto de suas ações. Após nove anos de atuação e da replicação dessa parceria para 14 países, entendemos que era chegado o momento de compartilhar as experiências vividas, os aprendizados e resultados alcançados. Com isso, pretendemos contribuir para inspirar o surgimento de outras iniciativas que promovam parcerias inovadoras entre o setor privado e social.

redeGIFE – De que maneira a parceria entre uma empresa e uma organização da sociedade civil contribui para potencializar o impacto das ações sociais de novos empreendedores?
Ane – A área social apresenta o mesmo potencial de profissionalização e eficiência que o setor privado, e os conhecimentos utilizados por este podem ser adaptados para acelerar esse processo, aumentando o impacto de suas ações em toda a sociedade. O investimento social não pressupõe somente o aporte de recursos financeiros, mas também a transferência de conhecimento, experiência e talento – um universo muito rico, com benefícios para todos os envolvidos.

redeGIFE – O trabalho conjunto na área de empreendedorismo traz algum desafio diferente do que os geralmente encontrados em parcerias no setor social?
Ane – Empreendedores sociais são indivíduos com idéias inovadoras para a solução de problemas sociais sistêmicos e que não descansam até ver suas idéias implementadas e gerando impacto. São dotados de uma profunda visão estratégica, de criatividade e invariavelmente possuem posições fortes e marcadas. Foi fundamental ajustar e sintonizar as diferentes linguagens e culturas dos setores privado e social. Em nosso caso, por exemplo, enquanto a McKinsey estava pouco familiarizada com o contexto e a motivação das organizações sociais, para os empreendedores sociais, acreditar e aceitar que as organizações privadas poderiam contribuir com conhecimento para seus programas não foi simples. A superação destes desafios resultou em grandes avanços pessoais e profissionais para todos os envolvidos.

redeGIFE – Quais as principais características e inovações do trabalho do Centro de Competência para Empreendedores Sociais?
Ane – O Centro de Competência atua de forma a maximizar o impacto dos empreendimentos sociais através da adaptação e transferência de conhecimentos e ferramentas do setor privado para o setor social, e vice-versa. O trabalho voluntário de consultores da McKinsey, especialistas no gerenciamento estratégico e organizacional, é colocado à disposição de empreendedores sociais por meio de projetos de consultorias, programas de treinamento e publicações. Além disso, o CCES também realiza o Prêmio Empreendedor Social Ashoka-McKinsey, concurso nacional de planos de negócio para organizações da sociedade civil e estudantes universitários. Esta forma de atuação é extremamente inovadora, pois permite que duas organizações de reconhecida excelência em suas respectivas áreas compartilhem conhecimentos e competências enquanto desenvolvem iniciativas conjuntas visando a profissionalização e o maior impacto do setor social.

redeGIFE – Como foi a evolução da parceria e o que vocês identificam como os principais resultados nestes nove anos?
Ane – Os desdobramentos da criação do CCES tiveram claros reflexos para as duas organizações. A Ashoka teve sua visibilidade e credibilidade ampliadas no setor privado e reforçou sua compreensão sobre o modus operandi das empresas, extraindo daí aprendizados para o seu processo interno de gestão. A parceria foi a oportunidade da McKinsey contribuir de forma mais ampla com a sociedade, utilizando o seu mais precioso patrimônio – o conhecimento em alta gestão. Para seus profissionais, propiciou o contato com empreendedores sociais e permitiu-lhes exercer sua criatividade para gerar soluções imediatas em um ambiente freqüentemente adverso e com recursos escassos. Um processo estimulante de aprendizagem profissional e de exercício de cidadania. Mas, acima de tudo, a parceria possibilitou a capacitação e o acesso a conhecimentos a diversas instituições sociais participantes das iniciativas da parceria, contribuindo para a sua profissionalização e gerando maior impacto social.

redeGIFE – Como o modelo da parceria entre a Ashoka e a Mckinsey vem sendo replicado em outros países?
Ane – A expansão da parceria para outros países iniciou-se em 1999, aproveitando a presença mundial das duas organizações e as oportunidades que foram surgindo. A necessidade de profissionalização do setor social é global, o que facilitou a replicação. Ela sempre levou em consideração o impacto obtido pelas iniciativas conduzidas pela parceria no Brasil, a viabilidade de replicação e os países em que as diversas iniciativas poderiam ser inseridas com maior significado e impacto. Até hoje, já foram replicados treinamentos para desenvolvimento organizacional, comunicação e planos de negócio na Argentina, Espanha, Índia e Venezuela, projetos de consultoria para a Ashoka e seus empreendedores sociais na Alemanha, Argentina, Colômbia, Estados Unidos, França, Índia, Polônia, Reino Unido e Venezuela, concurso de planos de negócios na Colômbia e Peru e a publicação Empreendimentos Sociais Sustentáveis, que apresenta didaticamente a metodologia de elaboração de planos de negócio desenvolvida para a área social. Em 2004, foi produzida uma versão em espanhol, com distribuição de 5 mil exemplares para instituições e empresas que atuam no setor social em toda a América Latina e Espanha.

redeGIFE – Qual o perfil dos inscritos para o Prêmio Empreendedor Social? Houve mudança desse perfil desde a primeira edição?
Ane – O Prêmio Empreendedor Social é um concurso de planos de negócio realizado pela Ashoka e pela McKinsey desde 1999 e já contou com a participação de mais de mil organizações da sociedade civil e mais de 1.110 estudantes universitários. Até 2002, eram selecionadas idéias de negócio que buscavam a sustentabilidade de uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, através de planos de captação de recursos, venda de produtos ou prestação de serviços, sempre com um valor agregado de impacto social. Em 2003, realizamos um grande estudo de impacto do concurso que, além de confirmar o impacto da iniciativa, resultou em um aprimoramento dos seus objetivos, conteúdos e formato. Esse resultado foi incorporado à edição 2004-2005. O novo formato busca atrair especialmente organizações da sociedade civil que aliam desenvolvimento econômico e social em suas estratégias de negócio e que geram renda para o público beneficiário. Além disso, foi dada especial atenção ao potencial de escala dos negócios apresentados. Os resultados do Prêmio Empreendedor Social Ashoka-McKinsey serão conhecidos no próximo dia 20 de maio, em cerimônia a ser realizada na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.

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